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São Paulo: O desafio de tirar crianças e adolescentes do mundo do crack

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Usuária de crack na cracolândia | FOTO: Reprodução/ABr |

Como muitos meninos de rua da região da Cracolândia, W.S.V., de 19 anos, experimentou crack, cola e tíner. Já foi parar na Fundação Casa e diz que apanhou muito da polícia. “Quando estava tomando ‘botinada’, eu dizia: ‘Seu sargento, eu quero ser policial, não marginal'”, conta. Aos 13, ele passou a ser acompanhado pela ONG Projeto Quixote e hoje está longe das ruas e das drogas. “Ainda quero ser policial, do bem”, diz.

Enquanto a Prefeitura tenta resolver o problema com o Projeto Braços Abertos, que dá emprego e moradia aos adultos, quem trabalha no Quixote com as crianças adianta que os resultados não virão em curto prazo. “Querer resolver rapidamente é maquiar”, diz o psicólogo Lucas Carvalho, que desde 2005 atua no Quixote, no programa Refugiados Urbanos.

Atualmente, a ação conta com 20 ETs, sigla de educadores terapêuticos. Na mochila, carregam um kit lúdico, com brinquedo, instrumento musical, jogos – qualquer coisa que faça a criança esquecer do cachimbo por alguns momentos.

O Estado acompanhou dois ETs pelas ruas da Cracolândia. Na Alameda Barão de Piracicaba, os psicólogos Ivan Ratcov e Livia Lascane observam os rostos dos que fumam pedra. Dificilmente a abordagem ocorre quando os meninos estão usando a droga no fluxo. “Às vezes, a gente vem aqui só para dar um ‘joia'”, diz Ratcov. “A maior parte do trabalho ocorre no Moinho da Luz (imóvel na Rua Mauá onde as crianças são atendidas).”

Livia conta que, muitas vezes, as crianças vão ao Moinho da Luz apenas para tomar banho ou dormir. Aos poucos, os educadores vão ganhando a confiança deles. Pela filosofia do projeto, a droga é vista como uma parte de um processo de fuga. “Para nós, eles não são dependentes químicos precoces. Eles têm na droga um meio de amenizar a ruptura com a família”, diz o coordenador do programa, Auro Danny Lescher.

Em 2011, a ONG fez um levantamento com crianças na região central. O resultado foi que negligência ou violência (física, psicológica ou sexual) foram os principais motivos apontados pelos entrevistados para estarem na rua. Naquele ano, de 209 atendidos, 58 passaram pelo chamado processo de rematriamento, que consiste na reconstrução dos vínculos com a família e com a comunidade.

No caso de W., o trabalho ainda não acabou. Os vínculos dele começaram a ser desfeitos na infância, na Bahia, quando a mãe foi assassinada. Mandado para São Paulo para morar com o pai, acabou fugindo de casa. Hoje, mora em uma residência terapêutica e, no Natal, deu mais um passo para fazer as pazes com a própria história e passou o feriado na casa do pai, no litoral paulista. “Foi da hora. A gente se deu bem.” Texto de Artur Rodrigues – O Estado de S.Paulo

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