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Multiplicação de Joaninhas em laboratório é tema de mestrado na Uneb de Juazeiro

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Joaninha em flores de erva doce no campo experimental do DTCS | FOTO: Divulgação/Uneb |

Pequenas predadoras que podem trazer benefícios para a agricultura, às joaninhas foram objeto de estudo de uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Horticultura Irrigada (PPHI) do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Juazeiro, que fica na região Norte do Estado. A investigação buscou avaliar os tipos de dietas que podem ser utilizadas para a multiplicação de uma espécie de joaninha, em laboratório, para controlar, de forma sustentável, pragas que atacam lavouras de hortaliças, legumes e fruteiras na região.

O estudo pioneiro no Vale do São Francisco foi realizado com a espécie Hippodamia convergens, pertencente à família Coccinellidae da ordem Coleoptera, pela Mestranda da Uneb, Girlandia Miranda de Sousa, sob a orientação do professor de Entomologia da Uneb, José Osmã Teles. O predador é considerado um controlador natural e se alimenta de pulgões e cochonilhas, pragas que atacam algumas culturas causando prejuízos para o produtor. A couve, por exemplo, é um tipo de cultura em que há grande incidência de pulgões.

Segundo o orientador da pesquisa, o pulgão é uma praga sugadora de seiva que injeta uma saliva tóxica que pode causar prejuízos à planta. Ainda de acordo com Osmã, a indicação da espécie Hippodamia convergens se deu após a realização de um levantamento da quantidade de espécies de joaninhas existentes em Juazeiro e em Petrolina, Pernambuco. Foram identificadas 15 espécies de coccinelídeos, a maioria encontrada na área experimental do DTCS. “Essa espécie de joaninhas se destacou em relação às demais, devido a sua grande capacidade de reprodução. Por isso, recomendei para Girlandia pesquisar durante o mestrado”, destacou o professor.

PESQUISA
O experimento foi realizado no Laboratório de Entomologia e na Casa de Vegetação do DTCS, no período de agosto de 2013 a abril de 2014. A mestranda da Uneb Girlandia Miranda explicou que a pesquisa consistiu em avaliar os aspectos biológicos da joaninha H. converges, utilizando diferentes tipos de alimentação que pudessem favorecer a multiplicação dessa espécie em laboratório. Para a pesquisa foram utilizadas 10 dietas, entre elas: preparo à base de pulgões Aphis craccivora, Aphis gossypii e Brevicoryne brassicae, acrescido de pólen de flores de endro e de erva-doce; uma dieta artificial contendo levedura de cerveja, leite condensado, mel, clara de ovos, gérmen de trigo e água; e outro tipo de alimentação que reúne a dieta, denominada artificial, com pólen das flores do coentro, do endro e da erva-doce.

Mestranda da Uneb Girlandia Miranda alimentando as joaninhas no Laboratório de Entomologia da DTCS | FOTO: Divulgação/Uneb |

INVESTIGAÇÃO
Durante a realização do experimento, Girlandia observou que a alimentação feita à base do pólen de flores de endro e de erva doce, permitiu o desenvolvimento da joaninha. Porém, não foram suficientes para que esse inseto completasse o seu ciclo biológico. Ainda segundo a mestranda, a dieta denominada como artificial foi usada também para manter a população de joaninhas na fase adulta. No entanto, foi observado que, com essa alimentação, esse coccinelídeo não consegue se reproduzir. Já a utilização de pulgões, considerada como uma dieta essencial, favoreceu o desenvolvimento e a reprodução dos besouros em laboratório.

“O pólen de endro e de erva-doce constituem uma dieta alternativa para a joaninha, por permitir o seu desenvolvimento. Porém, não completam o ciclo biológico. Isso demonstra que essa espécie necessita de uma proteína animal para dar continuidade ao seu ciclo, podendo ser encontrada nos pulgões: Aphis craccivora, Aphis gossypii, Brevicoryne brassicae, os quais permitiram o completo desenvolvimento e reprodução de adultos desse predador, constituindo, portanto, em dietas essenciais”, explicou. Simultaneamente a esse estudo foi observado também a comunidade de joaninhas em consórcio com a couve e com plantas aromáticas como coentro, endro, e erva-doce.

O professor de Entomologia do DTCS José Osmã Teles explica que controlar pragas de forma natural é um alternativa racional e ecologicamente correta | FOTO: Divulgação/Uneb |

CONTROLE NATURAL
De acordo com Girlandia, o experimento também mostrou que a existência de joaninhas, nesses consórcios durante a fase de infestação de pulgões, pode ser visto como um fator preponderante para a redução de danos causados por pragas às culturas. “A conservação de inimigos naturais é uma das práticas mais importantes e disponíveis de controle biológico, porque podem estabelecer um equilíbrio natural entre pragas e inimigos naturais”, afirmou.

Para o orientador da pesquisa, o estudo realizado na Pós – Graduação do DTCS tem a finalidade de resolver problemas existentes em culturas da região. “Em nosso mestrado em Horticultura Irrigada nos preocupamos, não apenas em produzir um trabalho acadêmico, mas, também, em dar uma contribuição para à sociedade, que financia todo esse trabalho”, destacou.

ESTÁGIO
Em 2014, o DTCS da UNEB conseguiu aprovar um projeto pelo Programa de Extensão Universitária (ProExt) do Ministério da Educação e Cultura (MEC). A ideia do trabalho é montar uma Biofábrica para a multiplicação de insetos e ácaros predadores com uma equipe composta por cinco estudantes do curso de Engenharia Agronômica do Departamento, que estejam no período de estágio supervisionado, sob à coordenação do professor de Entomologia, José Osmã Teles Moreira.

A pesquisa está prevista para ter início no segundo semestre de 2015 e vai trabalhar com o processo de produção de três grupos de inimigos naturais: a joaninha da espécie Hippodamia convergens; duas espécies de bicho lixeiro que são Chrysopela externa e Leucochrysa rodrigueses; e dois tipos de ácaros predadores, os Neoseiulus idaeus e Euseius citrifolius.

Quanto ao estudo realizado por Girlandia Miranda, o professor de Entomologia reforça: “A ideia é que a gente consiga multiplicar o maior número de joaninhas em laboratório para que seja levada para o pequeno produtor, com a finalidade de controlar pragas de forma natural, ao invés de aplicar inseticidas ou acaricidas. Daí a importância dessa pesquisa porque, com ela, a gente conseguiu esclarecer uma série de dúvidas sobre a maneira de multiplicar esses predadores”, finalizou.

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