Ícone do site Jornal da Chapada

Secretário Maurício Barbosa diz que liberação da maconha ‘quebrava’ 80% das quadrilhas na Bahia

Ex-secretário de Segurança Pública, Maurício Teles Barbosa | FOTO: Reprodução |

a tarde
O secretário Maurício Barbosa sinalizou ser favorável à descriminalização da maconha, mas aponta que valores conservadores impedem o Brasil de tomar uma decisão | FOTO: Reprodução/A Tarde |

A intervenção militar instituída pelo presidente Michel Temer no Rio de Janeiro preocupou baianos. Mas as comparações com a Bahia são descartadas pelo secretário de Segurança Pública do Estado (SSP-BA), Maurício Barbosa. De acordo com o titular da pasta, a dinâmica de funcionamento das facções criminosas é diferente entre os dois estados. “O que é que nós queremos do governo federal. Que consiga evitar que essa quantidade de droga e armas cheguem às facções baianas. O mapa do tráfico do Brasil está muito bem delineado. Se diz: ‘Ah, as facções criminosas vão sair do Rio de Janeiro por conta do Exército’. Mentira absurda e deslavada de gente que não sabe do que está falando. No Brasil nós temos duas grandes especialidades: futebol e segurança pública. Todo mundo sabe um pouco de futebol e de segurança, todo mundo é especialista, todo mundo é entendedor”, critica Barbosa, afastando a ideia de uma migração do crime para a Bahia.

Uma diferença entre os dois estados apontada pelo secretário é a fragmentação das facções baianas, sobretudo do tráfico de drogas. “Nós temos dois grandes distribuidores de droga no país, que são de criação de outros estados, que não são dos nossos. E são essas facções que distribuem drogas para todas as facções do Brasil. O problema do tráfico de drogas na Bahia é a pulverização das ditas facções. Eu não consigo mais chamar de facção, mas de quadrilhas. Exemplo: Bonde do A, Bonde do B, Bonde do C. Cada um intitula o nome que quer. Aí você vai e prende uma grande liderança; no outro dia, o substituto dele intitula a facção com um novo nome: ‘Quadrilha do fulano’”, descreve, citando as brigas do tráfico no Subúrbio de Salvador, que chegam a ser encampadas por quatro “microfacções”.

As disputas decorrentes das atividades do tráfico de drogas, estima Barbosa, respondem por cerca de 70% dos homicídios registrados pela SSP. Questionado sobre a solução para o problema, o secretário fez críticas à política de guerra às drogas e defende que a atuação do Estado deve acontecer “de forma sistêmica”. “Exemplo: as bases comunitárias de segurança. Eu não posso pensar em entrar em uma comunidade que hoje tem uma permanência muito grande no tráfico de drogas se eu não avançar com outras áreas. Porque assim, me desculpa a franqueza, a sociedade quer discutir a situação das drogas no Brasil? Por que quem é que financia isso tudo? Nós estamos falando de um mercado. Criminoso, mas é um mercado”. O secretário sinalizou ser favorável à descriminalização da maconha, mas aponta que valores conservadores impedem o Brasil de tomar uma decisão.

“Fazer crítica à segurança pública todo mundo sabe. Agora cada um assumir o seu papel, aí que é muito difícil, e eu volto isso inclusive à sociedade. Venha cá, nós queremos o quê? Uma sociedade sem droga? Ótimo. E o papel do consumidor nesse aspecto? ‘O problema é do tráfico, não é de quem consome’. Eu não quero entrar nessa polêmica. Eu só acho que a gente, a sociedade brasileira, tem que discutir isso aí”, defendeu, comparando a situação do Brasil com a de países europeus. “Os Estados Unidos investem mais de R$ 1 trilhão na guerra contra as drogas e é o maior mercado consumidor de drogas no mundo. E se vê países europeus que adotaram outra visão de redução de danos. Ou seja: o Estado fornece a droga para o viciado, o dependente químico, a partir do momento em que ele se integre ao planejamento de sair do vício. Ele sai da figura do traficante: o próprio Estado dá a droga, diante de uma série de questões que a pessoa tem que fazer para se libertar do vício. Os índices de criminalidade nesses países reduziram drasticamente”.

Barbosa cita ainda os efeitos no financiamento do tráfico de drogas, caso o modelo fosse adotado. “Aqui se discute enfrentamento à criminalidade, sem se discutir as causas que levam ao fortalecimento do tráfico de drogas. Exemplo: se discutíssemos, e a população brasileira quisesse a liberação da maconha… Hoje 80% do financiamento das quadrilhas de tráfico de drogas da Bahia vem da maconha”, calcula. “Se aceitássemos, através de uma opinião da sociedade, as modificações das leis, que a maconha fosse liberada hoje, eu quebrava financeiramente hoje as quadrilhas em 80%. Não é uma coisa a ser pensada, é óbvio que é. Só que ninguém quer, o país é extremamente conservador para se discutir essas questões, mas ao mesmo tempo não quer meter a mão para resolver o problema. Essa discussão vai além da polícia. A polícia sofre as consequências da ponta. Tudo que a sociedade não quer discutir, quer marginalizar, é problema da polícia. É a nossa visão isso, tem que andar de forma conjunta”. As informações são de Bahia Notícias.

Sair da versão mobile
Pular para a barra de ferramentas