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#Polêmica: Membro da família real defende leis baseadas na bíblia e a volta da monarquia no Brasil

O herdeiro do trono real Dom Bertrand Maria José de Orleans e Bragança é detentor do título de príncipe, tem 78 anos, é advogado e autor do livro ‘Psicose Ambientalista’, que faz duras críticas aos defensores do meio ambiente | FOTO: Reprodução/Carta Capital |

O ABC paulista, local que foi palco das lutas sindicalistas e com presença marcante do Partido dos Trabalhadores (PT), recebeu o primeiro encontro dos monárquicos brasileiros da região. Os defensores da volta da família real ao poder se reuniram no Teatro Municipal de Santo André, na última quarta-feira (17) para discutir o cenário político atual e as características do regime que deixou de existir no país há 130 anos. A noite era de gala, afinal, contaria com a presença do líder do movimento que pede a volta da monarquia no Brasil, o herdeiro do trono real Dom Bertrand Maria José de Orleans e Bragança. O detentor do título de príncipe tem 78 anos, é advogado e autor do livro ‘Psicose Ambientalista’, que faz duras críticas aos defensores do meio ambiente.

Livro esse que foi utilizado como argumento por Bolsonaro ao criticar países europeus que pressionaram o Brasil na defesa da Amazônia. O representante da realeza conseguiu reunir muitos defensores do regime. No saguão da entrada do teatro, pessoas vestidas com ternos e usando broches do brasão da monarquia esperavam para entrar. Junto delas estavam alguns militares do Exército vestidos com a farda camuflada. O primeiro da fila era Arthur. Diferente da maioria, ele não vestia terno nem carregava o brasão, escolheu apenas uma jaqueta marrom e uma calça jeans para ir ao evento.

Foi a primeira vez que o programador de computadores compareceu a uma reunião que discute monarquia, mas há mais de cinco anos o paulista estuda sobre o assunto. “Defendo a monarquia, pois acredito que só assim conseguiríamos colocar ordem no país”, disse. Arthur mora em Mauá e foi até Santo André para ver seus ídolos discursarem. Ele, que votou em Bolsonaro nos dois turnos, disse que se pudesse daria seu voto para alguém mais parecido com a ex-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher. Mas o ex-capitão foi a opção que sobrou. “Acho que Bolsonaro segue mais a linha progressista inglesa. Sou contra. Lá a ideologia de gênero é mais aceita, precisamos barrar isso aqui”, disse ele.

Já sobre a República, Arthur é categórico: “Sou contra. Tivemos golpes atrás de golpes. Não dá certo”, explicou. Mas quando perguntado sobre a ditadura, ele gaguejou. “É, realmente era uma ameaça comunista no Brasil. É complicado”. O animador do evento pede que todos se levantem para receber e reverenciar Dom Bertrand, que foi recepcionado com aplausos calorosos, dignos de um príncipe. Antes de iniciarem o debate, o mestre de cerimônia anuncia o hino nacional do império do Brazil. Sim, com Z. Na entrada do evento foi entregue um folheto para os participantes acompanharem a letra da música. O que não foi necessário, pois quase todos os presentes sabiam o hino de cor.

“Brava gente brasileira, longe vá, temor servil. Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”, cantavam todos em posição de sentido quase que militar. Terminado o hino, todos sentados. Hora de chamar os convidados que vão integrar a mesa. Aparentemente, eles nunca estiveram em um evento de debate, pois quando o mestre de cerimônia chamou o primeiro convidado para se sentar à mesa, ele já toma o púlpito e começa sua palestra. O tema: a região do ABC. Tratado pelos presentes como ‘Doutor Willian Lago’, o advogado fez seu discurso em torno de 20 minutos falando sobre a importância do evento no berço do sindicalismo e a necessidade da sociedade recuperar valores que a esquerda fez os brasileiros perderem, como a valorização da família, o direito à propriedade, entre outros.

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Cristo monárquico
Em seguida, sobe ao palco quem eles chamam de Dan Berg. Sem citar seu currículo, o senhor de meia idade também seguiu o passo do antecessor e assumiu o púlpito. O tema do seu discurso era: ‘Cristo era, é e sempre será monárquico’. Vestindo uma gravata com as cores do Brasil, Berg começou falando que Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos o Evangelho do reino de Deus, logo, ele é um defensor da monarquia. Ele insiste em dizer que tudo que Deus criou foi em forma de monarquia, como a natureza, o sistema solar, entre outros.

“Deus é o rei, Cristo era o príncipe e o Espírito Santo o herdeiro. Jesus é monárquico”, argumentou. Em seguida, o animador do encontro pede para que o defensor de Cristo monárquico se apresente ao piano que estava em cima do palco. Berg se encaminha até o instrumento e anuncia uma melodia feita a partir de uma música composta por um participante de tráfico negreiro. Segundo ele, o compositor transmitiu nas notas o lamento dos escravos. Com sons de sofrimento, o convidado começou sua canção.

Em seguida, é anunciado o próximo palestrante, um rapaz negro. O tema de sua fala será a abolição da escravidão, que todos os presentes acreditam ser uma vitória da família real. Conhecido como professor Paulo Cruz, ele começa seu discurso dizendo que ‘quando jovem acreditava na teoria do racismo e que tinha a polícia como inimiga’. “Comecei a andar menos de madrugada e fui menos parado pela polícia. A periferia e a criminalidade ainda são ocupadas por negros. Para resolver isso, os negros precisam deixar a criminalidade, isso não é culpa da polícia”, disse ele olhando para os policiais presentes no teatro.

Depois disso, o professor começou a explicar como a família real foi fundamental para o fim da escravidão no Brasil. Mesmo sendo o último país a abolir a prática no mundo, Cruz considera uma vitória de Dom Pedro II e da princesa Isabel. “Dado o contexto da época, não poderia ser feito de forma rápida. Havia uma intenção de não desestabilizar o País. A república foi colocada em prática de forma rápida e olha no que deu”, argumentou.

Ao final da fala do professor, chega a hora mais esperada da noite. O mestre de cerimônia chama ao palco o príncipe Bertrand. Todos se levantam mais uma vez para reverenciar o herdeiro do trono real. Ao contrário de todos os outros convidados, ele se senta e utiliza o microfone da mesa para proferir seu discurso. Bertrand começa fazendo uma pergunta: “O Brasil está preparado para a monarquia?”, ninguém responde e fica um silêncio na plateia. Em seguida, para a surpresa de todos, o monárquico responde: “Não”.

Mais uma vez o silêncio toma conta do teatro. Ninguém estava entendendo mais nada, até que o príncipe se corrige. “Não, me confundi. Sim, o Brasil está preparado para a monarquia, não está preparado para a República”, justifica. O príncipe criticou a revolução francesa, culpou Napoleão pela loucura de Maria Antonieta e justificou a fuga da família real para o Brasil como uma estratégia para vencer Napoleão, que em 1808 liderava a revolução pelo fim da monarquia na Europa. O discurso de Bertrand foi o mais longo da noite, quase uma hora.

O príncipe construiu uma linha do tempo da nossa história, sempre elogiando feitos da família real no Brasil. Para ele, a Constituição de 1824, a primeira do País assinada por Dom Pedro I, foi a melhor que tivemos até hoje. “Ela é diferente da nossa atual Constituição, a qual muitos artigos nem foram discutidos. A Constituição de hoje é um desastre. Uma Constituição de parlamentarismo no presidencialismo”, disse.

Ao final da fala do príncipe, todos em pé novamente, aplaudindo e dando aval para tudo o que acabara de ser dito. Se para alguns o longo discurso pudesse provocar sono, os participantes na plateia nem piscaram para ouvir o herdeiro do trono real falar. Ele se retirou pela parte de trás do teatro, sem posar para fotos e parar para autógrafos. Com um tom de decepção no ar, os participantes saíram em silêncio direto para casa. Alguns para descansar, outros para publicar textão nas redes sociais em defesa da monarquia. Jornal da Chapada com informações do site da Carta Capital.

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