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#Brasil: Incêndios se alastram na região amazônica e efeitos são sentidos em São Paulo; entenda como o dia virou noite

Vista da Marginal Tietê, em São Paulo, na tarde da última segunda (19), às 15h59 | FOTO: Kaio Lakaio/Veja |

Um fenômeno inusitado surpreendeu os paulistanos na última segunda-feira (19). Mesmo com os relógios marcando 15h da tarde, o céu da capital paulista já estava bem escuro. Nas redes sociais, internautas postavam fotos e vídeos para “provar” que o dia tinha virado noite na cidade. De acordo com o Climatempo, a escuridão ocorreu por causa da combinação atípica de fumaça proveniente de queimadas e da umidade trazida pela frente fria que atinge São Paulo. O aumento da umidade favoreceu a formação de nuvens baixas e carregadas e de névoa na região da capital paulista. Além disso, ventos trouxeram a fumaça de queimadas na região amazônica para a Grande São Paulo.

A milhares de quilômetros de distância, incêndios nada repentinos se espalharam pelas florestas do Norte do Brasil, se estendendo pelos estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chegando à tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai. Imensas áreas da Amazônia e do Pantanal ardem em chamas há dias. E a forte fumaça, transportada pelo vento em direção ao Sudeste, já se faz presente nos céus do Estado e “contribuiu”, segundo Marcelo Pinheiro, do Clima Tempo, para que o céu ficasse mais escuro que o normal. O número de queimadas aumentou nos últimos sete meses. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até domingo (18), foram registrados 71.497 focos — alta de 82% em relação ao mesmo período do ano passado.

O recorde anterior era de 2016, com 66.622 registros no mesmo período. Depois do Amazonas, o governo do Acre declarou na sexta, estado de alerta ambiental por causa de incêndios em matas. Só na segunda-feira 19, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) detectou 813 focos de queimadas que cobriram o bioma da Amazônia. Para a meteorologista Helena Turon Balbino, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), apenas a ocorrência de nuvens baixas e profundas – e por isso escuras – formadas pelos ventos úmidos já bastam para explicar o fenômeno. “É mais ou menos como quando estamos em um avião, descendo e entramos no meio de uma nuvem”, compara. A base de meteorologia do instituto em São Paulo informou a VEJA que o fenômeno é atípico e não deve ocorrer nos próximos dias.

Os ventos frios e úmidos marítimos ocasionaram a tarde mais gelada na região metropolitana de São Paulo e também nas regiões do Vale do Ribeira, do Vale do Paraíba e de parte do litoral paulista. As precipitações podem seguir até quinta-feira 22. A previsão é de que as temperaturas mínimas fiquem na casa dos 12°C a 14°C durante toda a semana e as máximas oscilem entre 17°C e 20°C. O Climatempo divulgou as imagens captadas pelo satélite Terra/MODIS, operado pela Nasa, que mostram os pontos de nuvem e fumaça. Na foto, as nuvens são mais densas e mais brancas, e a fumaça aparece com mais transparência. Existem áreas que contêm uma camada de fumaça sobre nuvens.

Confira a imagem

Entenda o caso
Não está claro quanto os incêndios dos últimos dias de fato influenciaram na escuridão em São Paulo nesta segunda. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) admitiu que um corredor de fumaça avançou em direção ao centro-sul do país e chegou a São Paulo, mas garantiu que esta não era a principal causa para a escuridão. Mas especialistas já vêm alertando para o fenômeno há alguns dias. A MetSul, empresa de meteorologia do sul do país, publicou em suas redes sociais na noite do último sábado (17), uma fotografia de uma lua alaranjada vista de Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai.

A tonalidade era causada pelo efeito óptico gerado pelas partículas na atmosfera vindas dos incêndios no norte do país. No mesmo fim de semana, o astrônomo Jorge Melendez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, alertava na rede social sobre o mesmo fenômeno visto de São Paulo. O Brasil vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos, segundo o Inpe. O Programa Queimadas do instituto, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou 71.497 focos de incêndio entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano. O número é 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos de incêndio. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas entre essas datas.

Não está claro quando a última onda de queimadas começou. Imagens de um forte incêndio em Rondônia rodaram as redes sociais no fim de semana, assim como da capital Porto Velho submersa em uma nuvem de fumaça. Entre às 17h e 18h desta segunda, imagens de satélite em tempo real de diversas empresas e instituições internacionais, dentre elas a NASA, mostravam alta concentração atmosférica de monóxido de carbono no Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O incêndio também atingiu ao longo do fim de semana partes da Bolívia e do Paraguai, que finalmente conseguiu controlar as chamas na tarde desta segunda após 21.000 hectares da reserva Três Gigantes, na região da Tríplice Fronteira, queimarem.

Em imagem de 19 de agosto, 18h, manchas vermelhas mostram alta concentração atmosférica de monóxido de carbono (CO) nos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, passando por Bolívia e Paraguai | FOTO: Divulgação |

Os mesmos satélites mostraram ao longo dos últimos dias uma forte cortina de fumaça avançando em direção ao centro-sul do Brasil. A Folha de S. Paulo noticiou em 14 de agosto que fazendeiros do entorno da BR-163, no sudoeste do Pará, havia anunciado no dia 10 “o dia do fogo”. O INPE registrou nas horas seguintes uma explosão dos focos de incêndio na região. Já o Acre declarou estado de alerta ambiental pelo aumento no número de incêndios no Estado. A região está há semanas sob os holofotes internacionais. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) está publicamente em guerra com os dados do Inpe, que indicam um forte aumento do desmatamento na Amazônia durante os primeiros meses de seu Governo.

Bolsonaro desacreditou os números e foi contestado publicamente pelo então presidente da instituição, Ricardo Galvão. O físico acabou destituído. O mandatário brasileiro, que vem sinalizando desde a campanha de 2018 para uma flexibilização dos controles de desmatamento, enfraqueceu o Ibama e defende a mineração em terras indígenas. Também entrou em rota de colisão com países como Alemanha e Noruega, que contribuem desde 2008 para o Fundo da Amazônia, um dos responsáveis por financiar projetos de preservação da floresta brasileira. Os repasses de dinheiro foram suspensos. Jornal da Chapada com informações de El País e da Veja.

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