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#Polêmica: Militar afirma ter agido em “legítima defesa” contra família fuzilada dentro de carro de passeio

A família ia para um chá de bebê e foi “confundida” com traficantes | FOTO: Reprodução |

O tenente Ítalo Nunes afirmou em depoimento à Justiça Militar, na última segunda-feira (16), que a patrulha de militares que ele comandava no dia 7 de abril, em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro, disparou 257 tiros de fuzil contra um carro ocupado por civis por legítima defesa. A “operação” sob o comando de Nunes provocou a morte do músico Evaldo Rosa dos Santos, 51 anos, que dirigia um Ford Ka no qual estavam sua mulher, o filho de sete anos, o sogro e uma amiga. A família ia para um chá de bebê e foi “confundida” com traficantes.

Em uma ação que nem em um cenário de guerra poderia ter sido autorizada por um oficial do Exército em seu juízo normal, o carro foi atingido por 83 disparos de fuzil. Foram duas rajadas. Após os primeiros disparos, o reciclador Luciano Macedo, 28 anos, se aproximou do carro e tentou socorrer o músico. Ele foi alvejado pela segunda leva de tiros e morreu dias depois em um hospital. Diante de todas as evidências de que o ataque foi deliberado e da desproporção da reação dos militares, o tenente afirmou que Macedo, que testemunhou a cena e tentou socorrer as vítimas, estaria armado no momento dos disparos.

“O vi ao lado do Ford Ka, atirando em nossa direção”, alegou o militar. A perícia realizada no local do crime, no entanto, não encontrou nenhuma arma com Macedo. Nunes foi o primeiro dos 12 militares que serão interrogados por um tribunal militar, dos quais nove respondem por duplo homicídio. Em sua defesa, o militar alegou que seus comandados “confundiram” o veículo dirigido pelo músico com um suposto carro tripulado por traficantes e abriram fogo.

O depoimento do tenente Ítalo Nunes durou mais de três horas. Ele também argumentou que Macedo teria sido visto pelos militares, momentos antes dos disparos, assaltando um veículo. Questionado sobre o fato de nenhuma arma ter sido achada no local do crime, o militar argumentou que a suposta pistola teria sido recolhida por moradores da favela do Muquiço por um dos ocupantes do veículo.

“Nas imagens feitas posteriormente de cima, é possível ver uma das ocupantes do carro olhando para o chão, procurando algo. As imagens não mostram arma no chão, mas esta postura é suspeita. Se ela estava olhando para baixo, certamente sabia que encontraria algo. Possivelmente um armamento”, cogitou. Nunes justificou que a patrulha “estava abalada” por ter trocado tiros com traficantes da região momentos antes do crime. Além de procurar incriminar Macedo, o oficial duvidou que a vítima trabalhasse como catador de materiais recicláveis.

O sogro do músico, Sérgio Gonçalves de Araújo, que também foi atingido pelos tiros, disse em depoimento logo após a ocorrência que o catador estava tentando socorrer Evaldo quando foi atingido pelos militares. Araújo relatou que estava no banco do carona e que os militares dispararam duas rajadas contra o veículo da família. Evaldo foi atingido pelos primeiros disparos e caiu sobre o ombro do sogro, que conseguiu assumir o volante e parou o carro.

Macedo se aproximou para ajudar Evaldo e Araújo, que estava acompanhado da mulher do músico, do filho dele, de sete anos, e de Michele da Silva Leite Neves, quando foi atingido pela segunda rajada de tiros. Os nove militares respondem pelos crimes de duplo homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado e omissão de socorro às vítimas. Em seus depoimentos no inquérito policial militar, as viúvas de Evaldo e Macedo afirmaram que os militares envolvidos na ação também “debocharam” dos pedidos de socorro. As informações são de Extra Classe.

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