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#Artigo: Almoço grátis?

O sistema capitalista | FOTO: Reprodução/AFP |

*Por Joy de Utinga

A pandemia que devasta o mundo adoece e mata milhões de pessoas. Essa é a face já visível da covid-19 para todo o mundo, à exceção dos raros negacionistas que teimam em ignorá-la. Ocorre que já estão em curso – ainda que de forma disfarçada – as consequências mais lentas, duradouras e cruéis que abater-se-ão sobre a humanidade capitalista e desigual: a pandemia econômica.

Cumprindo suas obrigações sociais mais elementares, governos de todo o mundo saem em socorro de suas populações, ampliam benefícios sociais, liberam auxílios emergenciais para pessoas físicas, injetam recursos financeiros em pessoas jurídicas, adiam obrigações bancárias, tributárias e fiscais e estudam modelos matemáticos capazes de atenuar estagnações, recessões e depressões econômicas.

Nós brasileiros, ainda em fase de focar prioritariamente na proteção da vida e da saúde, por óbvio, esperamos das autoridades, que nos conduzam da melhor forma possível. Todavia, percebe-se, de já, além do negacionismo ignorante no tocante à saúde, as “barbeiragens” atinentes à economia: falhas grotescas no mapeamento das pessoas físicas beneficiárias; exclusão de necessitados; inclusões de inelegíveis; fraudes grosseiras nos pagamentos – inclusive de militares da ativa – além das humilhantes filas, a reproduzirem aglomerações gigantes e focos para contágios exponenciais da covid-19, na contramão de todas as recomendações das autoridades de saúde.

As pessoas jurídicas geradoras e mantenedoras de empregos, a mendigar desesperadamente, em outras filas bancárias no aguardo dos indispensáveis empréstimos divulgados de forma demagógica e barulhenta, sem, contudo, tornarem-se efetivos.

Governos Estaduais e Municipais a aguardarem as devidas devoluções e repasses do que produzem e recolhem ao poder central, que prefere apelidá-las de auxílios ou socorro aos entes federados, sem, entretanto, concretizá-los. Os remédios, quer para a saúde, quer para a economia – segundo as ciências médicas ou econômicas – carecem de dosagem e tempestividade corretas, sob pena de, pelos efeitos colaterais, ajudarem a matar os pacientes.

Medicamentos em fase de testes e sem comprovações de eficácia podem arruinar a saúde e a vida humana, e as medidas econômicas desastradas, desmedidas e intempestivas, certamente arruinarão a economia, que nos cobrará, inexoravelmente, pesadas contas, inclusive, de gerações futuras. Aliás, não esqueçamos: no capitalismo, “não existe almoço grátis”.

*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.

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