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#Artigo: Fanatismos

Em uma democracia, o essencial é a vontade popular | FOTO: Reprodução/Universo Nerd |

*Por Joy de Utinga

São mais de vinte mil mortos e famílias enlutadas de forma solitária. “E daí? Sou Messias mas não faço milagres”. No outro extremo, “Ainda bem que a Natureza criou esse monstro do coronavírus”. A ponderação, a razoabilidade e a lucidez são ofuscadas, quando não anuladas, por um sentimento que costuma dominar os fanáticos (fãs) de todos os extremos. Esse sentimento irracionaliza, cega e imbeciliza as pessoas que recusam-se a reconhecer erros, ainda que os próprios ídolos, aqui, acolá, o façam.

Em uma democracia, o essencial é a vontade popular, as eleições e o respeito às escolhas da população. Há cerca de 30 anos elegeram o Collor e, sem ouvir a população, o apearam do poder, na metade do mandato, por motivos até hoje, obscuros. De concreto mesmo, restou uma história ou estória mal explicada sobre a ridícula compra de um carro popular (Fiat-Elba). Em 2014, os eleitores brasileiros elegeram Dilma e, novamente, em uma trama muito mal explicada, a derrubaram, sob uma estapafúrdia alegação de “pedaladas fiscais”, cujo teor, nove em cada dez brasileiros sequer ousariam explicar o significado.

Agora, em 2018, de forma avassaladora, o povo brasileiro ergueu ao poder, o Sr. Jair Messias Bolsonaro e, mais uma vez, sem ouvir a população, surgem nos porões, histórias/estórias muito mal explicadas, ilações e suposições engendradas à revelia das eleições, na tentativa de apeá-lo do poder. Cômico, não fosse trágico, mas a esquerda, com razão esperneou, gritou, revoltou-se alegando que era golpe tirar do poder quem obteve 54 milhões de votos, sem uma justa e compreensível causa, enquanto os direitistas aplaudiam o “golpe”.

Agora, os direitistas já se arvoram em, previamente, denunciar e resistir ao que, há pouco, aplaudiram, alegando tentativa de golpe a ser perpetrado contra quem obteve 57 milhões de votos. Os outrora revoltados esquerdistas já ensaiam os aplausos. Não estamos indo em direção ao enfraquecimento da democracia ao deslegitimar frequentemente os eleitos? Inobstante o teor repugnável do vídeo da reunião ministerial, com linguagem promíscua e vergonhosa, existe mesmo ali, as provas legais e concretas para contrariar a decisão de milhões de eleitores que elegeram seu presidente exatamente por seu perfil e características autoritárias, intransigentes, homofóbicas e pornográficas?

Não estaria o ex-juiz, carrasco e justiceiro dos esquerdistas, agora, a usar do mesmo método covarde, autoritário e ilegal para punir os direitistas e pavimentar seu caminho em direção aos seus interesses pessoais e individualistas? O outrora super-juiz demonstra, mais uma vez, a confusão entre prova e indício que delineou suas sentenças ao longo da carreira na magistratura.

Algo deve estar muito errado, em um País que se diz democrático, mas que, em menos de 30 anos, acena com a possibilidade de derrubar ou golpear seu terceiro presidente eleito por maioria dos seus eleitores e, mais que isso, sem saber explicar exatamente, quem e por que os derrubaram. O povo que imaginava ter o poder de escolher seus mandatários, arvorando-se da frase “nós elegemos, nós tiraremos”, já começa a perceber que nós elegemos e forças ocultas os derrubarão! Fanatismos que fabricam e alimentam ídolos e que fragilizam (tomara que não matem) a democracia, já tão cambaleante.

*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.

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