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#Bahia: Estudo aponta que maioria dos catadores de Salvador e Vitória da Conquista é negra e ganha até R$500

O catador é protagonista na cadeia produtiva da reciclagem | FOTO: Divulgação |

Um estudo da Defensoria Pública da Bahia (DP-BA) revelou que a maioria dos catadores em Salvador e Vitória da Conquista vive em situação precária; é negra e ganha no máximo R$ 500 reais mensais. A pesquisa foi realizada pelo Núcleo de Gestão Ambiental da Defensoria, e entrevistou 347 catadores de Vitória da Conquista e 174 em Salvador.

“Os catadores são prestadores de serviço público de manejo de resíduos e coleta seletiva, mas, via de regra, não recebem adequado apoio dos gestores públicos municipais. O catador é protagonista na cadeia produtiva da reciclagem; toda ela se sustenta por meio da exploração do trabalho deles”, declara a defensora pública Kaliany Gonzaga, que coordena o núcleo e o programa Mãos que Reciclam.

De acordo com Kaliany, a Defensoria da Bahia tem atuado intensivamente para estimular a organização dos catadores em associações de coleta e criar oportunidades e soluções para implantação de coleta seletiva de baixo custo – o que ajudaria bastante na emancipação da categoria.

Em Salvador, a pesquisa indica que 97,1% dos catadores são negros. Além disso, o cenário de pobreza aumenta absurdamente, pois cerca de 75% deles não arrecadavam mais que R$ 100 reais por mês com a reciclagem. Além da pobreza, uma porcentagem significativa dos catadores entrevistados em Salvador (40,2%) e Vitória da Conquista (39%) têm mais de 50 anos. A pesquisa indica, ainda, que cerca de 40% dos catadores em Conquista têm algum problema de saúde ou deficiência. Já em Salvador, o número é menor: 29,3%.

Outro indicador da precária realidade dos catadores é que o analfabetismo atinge 29,4% deles, em Vitória da Conquista; e 25,3%, em Salvador. Em ambos os municípios, a maioria (cerca de 40%) ingressou no ensino fundamental, mas não concluiu. Somente cerca de 7% deles concluíram o nível mais básico do ensino fundamental. A maior diferença na escolaridade da categoria nas duas cidades é que, enquanto em Salvador 8% dos catadores entrevistados chegaram a completar o ensino médio, em Conquista apenas 1% deles alcançaram esse nível.

Uma das maiores reclamações dos catadores é que são xingados e tratados na rua como se fossem animais que estão remexendo o lixo. O catador Alberto Souza diz que há muita discriminação e que por vezes há conflito com os moradores em Vitória da Conquista, principalmente no trânsito. “Durante o dia e de noite eu desço pra catar na rua. Tem vezes que até arrumo briga com os povos dos carros na rua aí porque querem passar por cima da gente que somos catador né, mas só que Deus tá com nós. Tem muita gente de carro que pra eles catadores de reciclagem não existem, né?”, desabafa Alberto. Mas completa a frase dizendo que a maioria das pessoas gosta de ajudar.

A reciclagem gera mais de 138 milhões de reais todos os anos para as organizações de catadores, conforme dados do Anuário da Reciclagem 2020, mas ainda é uma indústria pouco explorada no país. O Brasil “joga no lixo” R$ 14 bilhões de reais ao deixar de lado o investimento em reciclagem, conforme indica um estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). A pesquisa mostra que só 4% das 80 milhões de toneladas de lixo são recicladas.

O programa “Mãos que Reciclam” é desenvolvido pela Defensoria Pública da Bahia desde 2014 com o objetivo de desenvolver ações e campanhas de superação da política de invisibilidade e desigualdade social que envolvem o coletivo de catadores de materiais recicláveis, independentemente de sua forma de organização.

Em Vitória da Conquista, oito condomínios já implantaram a coleta seletiva com a participação dos catadores, além da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Os custodiados no Conjunto Penal de Conquista também participam de oficinas de gestão de resíduos sólidos para tratar o material produzido lá e gerar renda. A redação é do site Bahia Notícias.

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