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#Brasil: Bolsonaro descola de Lula e retoma liderança isolada de popularidade nas redes sociais

Empresas ainda não foram avisadas sobre a proposta | FOTO: Fabio Rodrigues Pozzebom/EBC |

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se recuperou de um baque nas redes sociais sofrido no início do ano e, neste mês de junho, voltou a liderar com folga o IPD (Índice de Popularidade Digital), ranking produzido pela consultoria Quaest.

Além de manter a vantagem em relação a concorrentes para eleição de 2022, Bolsonaro se descolou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a ameaçá-lo na dianteira logo que foi reabilitado para a disputa nas urnas, em março passado.

Ao conciliar agenda política e repercussão na internet, Bolsonaro passou a ocupar novamente posição de destaque no terreno das redes, área que lhe é confortável e em que atua com desenvoltura.

Na última terça-feira (8), o presidente marcou 73,17 pontos no IPD contra 46,92 de Lula. Bolsonaro e o petista estiveram praticamente empatados uma semana antes, mas o ex-presidente teve uma queda acentuada desde então.

No segundo escalão, estão Luciano Huck (sem partido) com 33,44; Ciro Gomes (PDT) com 25,13; João Amoêdo (Novo) com 24,63; Luiz Henrique Mandetta (DEM) com 20,99; e João Doria (PSDB) com 18,53.

O cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que o resultado aponta para a força eleitoral de Bolsonaro para 2022 e deveria acender um alerta aos adversários.

Como o IPD isola —o máximo possível— o efeito do uso de robôs nas redes, a alta na popularidade do presidente é expressa por indivíduos, ou seja, o que é mensurado pela plataforma é o comportamento digital não automatizado.

“Bolsonaro continua sendo um candidato muito forte, tendo um ativo que são as redes sociais. Os outros têm que correr atrás e têm oportunidade para isso até as eleições”, diz o analista.

O IPD segue evidenciando a polarização entre Lula e Bolsonaro, mas Nunes não descarta a chamada terceira via em 2022. “O espaço está colocado, mas para que se viabilize eleitoralmente, vai ter que haver uma coordenação política que diminua a fragmentação nesse campo.”

A métrica do IPD avalia o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é medida em uma escala de 0 a 100, em que o maior valor representa o máximo de popularidade.

São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e Wikipedia).

Desde meados de janeiro, Bolsonaro vinha em tendência de queda em meio ao agravamento da pandemia, a crise da falta de oxigênio em Manaus e as consequências econômicas, incluindo alta nos preços dos alimentos.

O retorno do pagamento do auxílio emergencial, em 6 de abril, foi crucial para que a popularidade do presidente subisse de patamar e passasse a variar na casa dos 70 pontos, como mostra o gráfico. Isso porque, com a medida, as críticas a Bolsonaro na internet diminuíram, o que aumentou sua valência.

Entre 10 e 12 de maio, Bolsonaro alcançou um pico de popularidade, com 83,38 pontos. Nunes atribui o bom resultado à estratégia alimentar o engajamento nas redes com compromissos políticos, como na manifestação com motoqueiros em Brasília, em 9 de maio, que rendeu fotos, vídeos e mais uma fala sobre “meu Exército” para que bolsonaristas compartilhassem.

O professor da UFMG diz que Bolsonaro “pensa a agenda política dentro da lógica de comunicação digital”. “O passeio de motocicleta em Brasília funciona como alavanca dessa popularidade. Ele faz agenda que gera engajamento e mobilização, cria a sensação de força e grandeza”, completa.

Na ocasião, Bolsonaro já anunciou novos passeios no Rio, São Paulo e Belo Horizonte. De fato, em 23 de maio, a tática foi replicada na capital carioca após o bom resultado nas redes. O modelo foi o mesmo –de aglomeração com apoiadores sem o uso de máscara.

Nesse período, houve ainda ato a favor de Bolsonaro em 1º de maio e manifestação com ruralistas, em Brasília, em 15 de maio –demonstrações de apoio nas ruas que alimentaram as redes.

A alta no IPD de Bolsonaro em maio, vista entre os dias 5 e 12 daquele mês, aconteceu apesar do baque de popularidade com a morte por Covid-19 do ator Paulo Gustavo, em 4 de maio, que abalou o país. Em seguida, no dia 6, a morte de 29 pessoas em operação policial no Jacarezinho, no Rio, se tornou assunto nacional.

No mesmo dia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prestou seu primeiro depoimento à CPI da Covid no Senado, episódio que acabou tendo efeito positivo para Bolsonaro.

Como mostrou a Folha, a CPI impulsionou a popularidade digital de senadores de oposição e derrubou nas redes os depoentes alinhados ao governo federal. Para o IPD de Bolsonaro, no entanto, a comissão não apresenta influência.

Nunes comenta que a morte de Paulo Gustavo foi o evento mais negativo para Bolsonaro no último período, mas o engajamento positivo acabou superando o desgaste e as críticas.

“O IPD mostra que as manifestações públicas favoráveis construídas em grande medida pelo próprio presidente dão resultado de saldo positivo”, afirma.

Em junho, Bolsonaro teve nova alta, puxada pelo resultado positivo do PIB, de crescimento de 1,2% no primeiro trimestre, e pelo pronunciamento do presidente em rede nacional, justamente comentando avanços na economia.

Bolsonaro, que lidera o IPD desde que o monitoramento foi criado, em janeiro de 2019, chegou a ficar atrás de Lula por nove dias a partir de 8 de março, data em que o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), anulou as condenações do petista na Operação Lava Jato.

Depois disso, Lula voltou a alcançar Bolsonaro no início de abril e no fim de maio, mas sem tomar a dianteira.

O petista foi alavancado em momentos pontuais, como em entrevistas, no giro por Brasília, na foto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), no protesto de oposição de 29 de maio e na divulgação da pesquisa Datafolha, em que lidera a disputa para o Planalto.

Segundo Nunes, a popularidade do petista não se sustenta e fica sujeita a quedas bruscas, como a vista no início de junho, devido ao desencontro entre estratégia política e digital. “Embora a política traga resultados, a falta de uma estratégia digital torna o IPD de Lula instável”, diz.

“Lula está focado em contatos políticos e não está fazendo agendas de rua, até para se contrapor a Bolsonaro e por causa da pandemia. Ele está priorizando agenda política e não de comunicação, então não tem uma estratégia em torno dele para aumentar fama, engajamento, mobilização.”

Entre os demais presidenciáveis, Amoêdo apresentou alta em junho, na esteira do seu anúncio como pré-candidato à Presidência pelo Novo na semana passada —nesta quinta-feira (10), diante de crise interna no paritdo, ele decidiu declinar da candidatura. Mandetta, que estava na lanterna, subiu com a CPI a partir de abril.

Ciro e Doria têm investido na conquista das redes. O primeiro contratou o marqueteiro João Santana e vem divulgando vídeos em que busca aparecer mais sorridente e compreensível aos eleitores.

Doria passou a responder a ataques nas redes com piadas, divulgar inaugurações e consolidar um estilo mais informal. Em junho, conseguiu leve melhora no IPD ao anunciar o calendário de vacinação de todos os adultos até outubro.

Terceiro no IPD, o apresentador Luciano Huck acumula a fama conquistada na TV Globo, mas é tratado como carta praticamente fora do baralho por seus adversários. A redação é da Folhapress via do Política Livre.

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