Após chegar no Colégio Estadual de Seabra, na Chapada Diamantina, em 2019, a coordenadora pedagógica, Janaina Barros, continuou com a prática que vinha fazendo desde 2002, nas outras unidades escolares onde trabalhou, que é olhar com cuidado, respeito e atenção para o que os alunos do Ensino Médio deixavam escrito e desenhado nas carteiras das salas de aula, nas paredes do pátio e nas portas dos banheiros.
Quando veio para a região chapadeira, a profissional ficou intrigada com o grave índice de evasão escolar, que batia 40%, visto que não tinham registros que explicassem o índice. Com isso, a ação dela fez ainda mais sentido. “É minha concepção de trabalho, uma necessidade de conhecer os jovens, escutar os problemas e melhorar o ensino e a aprendizagem”, explica a coordenadora.
Após as aulas, já com a escola vazia, todas as segundas e sextas-feiras ela percorre o local com o celular em punho para fotografar os registros. Conforme ela, esses são os dias em que os alunos expõem conflitos do convívio familiar e falam sobre angústias relacionadas à rotina escolar. Ela, então, se debruça sobre cada mensagem, procurando entendê-las.
A coordenadora pedagógica tem também a atenção de com o passar do tempo, avaliar se algum estudante precisa ser chamado para um diálogo. “Não falo sobre o que ele deixou escrito. Isso é algo muito íntimo, subjetivo. E não sou psicóloga. Converso sobre o que entendo estar por trás. Geralmente, depois de dez minutos, o comportamento deles muda e cai uma lágrima, por exemplo. E aí, se sinto que há espaço, pergunto: ‘onde dói?’”.
Ela conta que já visualizou registros preocupantes, citando suicídio e morte. Nesses casos específicos, Janaina questiona aos professores se o assunto foi tema de alguma aula. Se não foi, acompanha de perto a situação nas próximas semanas. Além disso, ela também fica atenta sobre o registro de conteúdos escolares. “Um aluno que escreve na carteira 5 + 5 + 5 + 5, em vez de 5 x 4, sinaliza que precisa se apropriar de estratégias mais eficazes para calcular”, conta.
Mais detalhes sobre essa ação podem ser conferidos no documentário ‘Prova Escrita’, do diretor Luís Gustavo Ferraz. O filme é um dos finalistas dos The New York Festivals TV & Film Awards. Jornal da Chapada com informações de Uol.