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#Corrupção Como o governo de Bolsonaro aparelhou e destruiu o Ministério da Educação

No Twitter, Fernando Haddad voltou a lamentar o que ocorre no MEC diante da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro | FOTO: Montagem/Agência Brasil |

Em recente entrevista ao programa Roda Viva, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação nos governos Lula (2002-10) e Dilma Rousseff (2010-16), Fernando Haddad, que é pré-candidato ao governo estadual de SP, atentou para um fato: sob o governo Bolsonaro o Ministério da Educação bateu recorde de ministros (4), descontinuou políticas e se torno um balcão de negócios comandado pelo “centrão” e pastores fundamentalistas.

Por meio de suas redes, Fernando Haddad voltou a lamentar o que ocorre no Ministério da Educação diante da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.

“Lamento muito pelo que se transformou o Ministério da Educação. No nosso tempo era bem diferente. Criamos políticas públicas que transformaram a vida do povo como o ProUni, FIES sem fiador, SiSU, Caminho da Escola, Ciência sem Fronteiras e tantas outras […] Hoje, o MEC virou caso de polícia e o centro de um dos maiores escândalos do governo Bolsonaro. É urgente uma mudança de rumos. O futuro de milhões de brasileiros depende disso”, escreveu Haddad.

Cartografia da destruição do MEC
A prisão de Milton Ribeiro é mais um capítulo na missão que Bolsonaro tomou para si, a saber, destruir o pensamento crítico e esmagar as universidades públicas. O programa de governo do então candidato à presidência da República, no que diz respeito à Educação, era um amontoado de absurdos do tipo “livrar as universidades públicas do comunismo e da ideologia de gênero”, ou seja, proposta baseada em duas ficções: comunismo e “ideologia de gênero”.

Mas, tais fantasias foram levadas adiantes por ministros negacionistas e fundamentalistas que impuseram um retrocesso de décadas à educação brasileira. De fato, Bolsonaro não possuía/não possui qualquer proposta para a educação pública, o objetivo era destruir o que estava em andamento, e assim o foi com a nomeação do primeiro ministro, Ricardo Vélez Rodríguez, nome indicado por Olavo de Carvalho.

Em seu discurso de posse, Vélez declarou que Olavo de Carvalho “era o maior pensador vivo” e que a sua base pedagógica era “liberal-conservadora”. Após 4 meses no governo, foi demitido sob a justificativa de “falta de expertise”. Como diz o ditado, “sempre pode piorar”. Com a demissão de Vélez, tomou posse como novo ministro da Educação o negacionista Abraham Weintraub que, ao longo dos 19 meses à frente do MEC se ocupou de atacar as universidades públicas, adversários políticos, mas nada de política pública.

Em entrevista ao Cidade Online Em entrevista ao Cidade Online, Abraham Weintraud chegou a afirmar que as universidades públicas possuem plantações de maconha. “Você tem plantações de maconha, mas não são três pés de maconha, são plantações extensivas de algumas universidades, a ponto de ter borrifador de agrotóxico. Porque orgânico é bom contra a soja para não ter agroindústria no Brasil, mas na maconha deles eles querem toda a tecnologia à disposição”. O ex-ministro nunca comprovou tal acusação.

Como de praxe de todo o corpo do governo Bolsonaro, Weintraub fez diversos ataques à memória do educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira e uma referência mundial em métodos de aprendizagem. “Se temos uma filosofia de educação tão boa, Paulo Freire é uma unanimidade, por que temos resultados tão ruins”, disse certa vez, mas esqueceu de complementar que os resultados ruins são por vários motivos, entre eles, o abandono dos métodos freireanos.

Ignorante e negacionista, Weintraub, durante os 19 meses em que esteve à frente do MEC nada fez a não ser atacar pessoas por meio de seu Twitter. Porém, em determinado momento nem o governo Bolsonaro conseguiu segurá-lo no cargo. A gota d’água foi quando Weintraub entrou em conflito com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Contrariado, Bolsonaro o demitiu.

Bolsolão do MEC
No lugar de Abraham Weintraub foi nomeado o pastor presbiteriano Milton Ribeiro, que deu sequência à destruição do MEC iniciada por Ricardo Vélez. Foram inúmeras declarações odiosas que Ribeiro desferiu contra as pessoas LGBT, por exemplo. Dois meses após assumir a pasta, declarou que homossexuais eram frutos de famílias desajustadas.

“É claro que é importante mostrar que há tolerância, mas normalizar isso [homoassexualidade], e achar que está tudo certo, é uma questão de opinião. Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) têm um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas”, disse Ribeiro.

Houve também ataques à educação inclusiva. “Inclusivismo, que é o inclusivismo? A criança com deficiência era colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia. Ela atrapalhava o aprendizado dos outros porque a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para poder dar a ela atenção especial”, declarou o ministro da Educação.

Também não poderia ficar de fora do hall do Ministério da Educação sob o governo Bolsonaro o ataque às universidades públicas. Para Ribeiro, o acesso à universidade deve ser restringido e não ampliado. “A universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade. Tem muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Se fosse um técnico de informática, conseguiria emprego, porque tem uma demanda muito grande”, disse o ex-ministro.

Incompentente e fundamentalista, Milton Ribeiro renunciou ao Ministério da Educação sem ter realizado absolutamente nada e agora se encontra preso por causa das investigações do escândalo do “Bolsolão do MEC”.

Fundamentalismo e ruína no Ministério da Educação
Esse cenário distópico que se apossou do Ministério da Educação, infelizmente, foi a promessa de governo do então candidato Jair Bolsonaro. No lugar de programas de fundamental importância par ao desenvolvimento do Brasil, tais como ProUni, FIES sem fiador, SiSU, Caminho da Escola, Ciência sem Fronteiras, entrou em cena o negacionismo e o fundamentalismo religioso que, em sua guerra cultural enxerga nas escolas, universidades e pesquisadores inimigos a serem eliminados.

Mas, além de toda essa catástrofe no MEC, não se pode deixar de fora a completa destruição do Ministério de Ciência e Tecnologia e, consequentemente, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (CAPES), órgãos de extrema importância para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil e que foram entregues a figuras obscurantistas e inimigas da educação.

O Ministério da Educação, mesmo em um governo neoliberal como o de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), foi sempre uma pasta tratada como fundamental para o país. Nas mãos da extrema direita, se tornou objeto de disputa entre grupos fundamentalistas e negacionistas que não possuem qualquer projeto de educação ou mesmo de desenvolvimento humano no Brasil. O resultado está aí. Redação da Revista Fórum.

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