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Dia do Nordestino: Importância, diversidade cultural e preconceito histórico

Luiz Gonzaga | FOTO: Reprodução |

Dandara, Adalgisa Rodrigues Cavalcanti, Patativa do Assaré, Zumbi Dos Palmares, Maria Quitéria, Antônio Conselheiro, Caetano Veloso, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Luíz Gonzaga. Estes são apenas uma amostra de tantas figuras que transformaram dor em resistência e arte.

Neste sábado (8), comemoramos o Dia do Nordestino. A data foi instituída em 2009 pela Câmara Municipal de São Paulo, por meio da lei 14.952 e homenageia toda a diversidade cultural e folclórica típica da região Nordeste do Brasil. O dia foi escolhido em homenagem ao nascimento do cantor e compositor cearense Antônio Gonçalves da Silva, popularmente conhecido como Patativa do Assaré. O artista é consagrado como um dos principais representantes da cultura nordestina e compôs músicas que foram gravadas por cantores como Luiz Gonzaga.

Além das belíssimas paisagens, que encantam todos que aqui chegam, o Nordeste brasileiro é conhecido pela sua musicalidade, culinária, danças, superstições, artesanatos, arquitetura e infinitos talentos. Somos a riqueza da cultura nacional, um dos maiores traços da identidade do Brasil. Seja no dia 8 de outubro ou 2 de agosto, celebrar a cultura, história e existência do povo nordestino é importante para prestigiar essa região bastante heterogênea em sua dialética, culinária, costumes e jeito de ser.

Xenofobia e seu contexto histórico
O povo nordestino, historicamente, é alvo de ataques xenofóbico. Recentemente, após a votação do primeiro turno, diversos ataques foram proferidos por meio das redes sociais. A maioria das mensagens preconceituosas são de perfis de apoiadores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Com todas as urnas do país apuradas, o petista teve 48,43% dos votos e o atual chefe do Executivo, 43,20%; eles se enfrentam em um segundo turno no dia 30 de outubro.

A região aparece como dependente de “assistencialismo”, enquanto as demais seriam responsáveis pela produção de riqueza do País. Algumas publicações se referem aos nove Estados como “Cuba do Sul” ou Venezuela. Há ainda mensagens que afirmam que os nascidos no Nordeste “não pensam”, além de classificá-los como “manipuláveis” e “massa de manobra”.

Ainda recentemente, Bolsonaro reforçou os ataques, justificando sua derrota, no primeiro turno, ao associar o analfabetismo ao povo nordestino. “Lula venceu em 9 dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta ou mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores na região”, afirmou o presidente.

Esses ataques são cotidianos e já se repetiram nas eleições de 2014, quando a ex-presidente Dilma (PT) enfrentou os Tucanos, derrotando-os com ampla maioria na região.

O preconceito regional contra o Nordeste tem origem nas migrações internas que aconteceram no Brasil particularmente a partir da segunda metade do século 20 devido a um processo imigratório muito intenso. Muitos migrantes nordestinos, oriundos do trabalho rural, vieram para o Sudeste para trabalhar nas indústrias, no setor de serviços, na construção civil e no trabalho doméstico, no caso das mulheres.

“Essa articulação entre imigrantes nordestinos e o trabalho braçal me parece um dado chave para entender essa questão do preconceito e da xenofobia”, explica Paulo Fontes, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor do livro ‘Um Nordeste em São Paulo’.

Há outra dimensão, segundo Muniz e Fontes, que explica esse preconceito: a racialização dos migrantes. “Muitas pessoas do Sul têm identidade europeia e por serem brancas têm um enorme preconceito em relação aos próprios brasileiros”, comenta Durval Muniz.

Esse preconceito regional contra o Nordeste não é novidade. Mas, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, há certos fatores que fazem com que o preconceito regional, principalmente em relação ao Nordeste, seja mais “aceitável” socialmente do que outras formas de discriminação.

Segundo Muniz e Ferreira, o fato de boa parte dos órgãos de mídia estarem localizados nas regiões Sul e Sudeste faz com que o sotaque dessas regiões, por exemplo, seja visto como “normal” enquanto o de outras regiões passa a ser o “diferente”. Isso também pode ser visto em outros aspectos culturais. O que é do Sul e Sudeste é “normal” e o que vem de outras regiões é o “exótico”.

“As pessoas não conseguem identificar a xenofobia porque o padrão está tão enraizado na sociedade que as pessoas percebem como uma regra”, diz Juliana Ferreira. Pernambués Agora com informações do portal UOL.

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