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#Brasil: Estudantes de escola ‘Elite’ hostilizam professores com insultos machistas, racistas e homofóbicos

Colégio Elite em Vila Valqueire, no Rio de Janeiro | FOTO: Reprodução/Googlemaps |

Alunos de 14 anos do ensino fundamental da rede de escolas ‘Elite’, na Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, gravaram um vídeo divulgado no último 19 de maio em que ofendem dois professores com insultos machistas, racistas e homofóbicos. Os adolescentes agora são investigados pela Polícia Civil por crime de injúria e preconceito.

Nas imagens, divulgadas pelo jornal O Globo, é possível ver um dos alunos, um menino, fazendo o papel de repórter e perguntando a colegas o que pensam da demissão de uma professora dita “gostosa” e da contratação de um novo professor de português, que seria “preto, mineiro e viado”. Os alunos estavam nas dependências da instituição e trajavam os uniformes da mesma.

“Acho ótimo, porque ela é uma piranha, vadia, safada, que descontava os problemas pessoas nos alunos”, respondeu uma aluna em referência à demissão da professora. A seguir, a mesma aluna se refere à contratação do novo professor com insultos racistas e homofóbicos.

“Não gostei da contratação do professor de português porque ele é preto e viado”, diz a aluna que em seguida ironiza a origem do professor: “poxa vida, ele é do interior de Minas”. Ela preferia a professora anterior que era “ruiva e gostosa” segundo sua declaração ao colega.

Um segundo aluno entrevistado reprovou a atitude dos colegas diante do professor. “Ele vai ser muito castigado pelos atos de vocês, né? Até musiquinha vocês já lançaram”, disse.

Quem é o professor agredido
Arnaldo César, de apenas 26 anos, é um dos profissionais que foi alvo das agressões verbais. À imprensa, ele se autodefiniu como bissexual, repudiou as gravações e contou que havia acabado de se mudar para o Rio de Janeiro, após ser contratado pela escola, e já no terceiro dia de aula foi pego de surpresa pela direção da escola que lhe mostrou o vídeo.

“Sou do interior de Minas, de uma cidade chamada Perdões. Estava morando em BH, onde fiquei por 1 ano e dava aulas. Vim para o Rio no dia 16 de maio, comecei a dar aulas dois dias depois e já no dia seguinte da aula a gravação foi divulgada”, disse o professor, que só havia dado uma aula para a turma em questão antes da gravação do vídeo. Em 23 de maio, a diretoria o mostrou as imagens e o acompanhou ao 28ª DP do Rio para registrar um boletim de ocorrência.

O professor relata que naquela primeira aula não notou nenhum comportamento negativo ou discriminatório em relação a ele por parte dos alunos. Diz que deu a aula normalmente e, como era sua primeira aula, se apresentou, contou sua história e pediu aos alunos que também se apresentassem.

“Percebe-se com essa gravação a naturalidade das práticas de discriminação. Ao colocar verbalmente como demérito o fato de eu ser uma pessoa preta, ela está dizendo, ao mesmo tempo, qual o local que ela esperava que corpos como o meu estivessem. Não em um local de autoridade, de professor, mas talvez de servidão. Nesse sentido, o que me faria um profissional desqualificado não seria uma formação inadequada ou inexperiência, mas o fato de eu ser preto, bissexual e mineiro”, refletiu o professor.

O professor Arnaldo avalia que é importante prosseguir com o processo judicial, não pelo fato em si, mas para que novas atitudes semelhantes sejam coibidas no futuro. Além disso, também defende que haja um acompanhamento de alunos que apresentam tais características e que a escola ofereça espaços para debates sobre essa e outras questões de importância. A partir do episódio, também cobra a prática da Lei 10.639/03, não apenas para sua escola mas de maneira geral, que obriga as instituições de ensino a ensinaram história e cultura afro-brasileira e africana.

“A via legal é importante. Mas também é importante a possibilidade da construção de currículos escolares que debatam questões raciais, não apenas em 20 de novembro”, diz Arnaldo.

O que diz a escola
Por meio de nota, o grupo Elite lamentou a conduta dos alunos e informou ter tomado as devidas medidas cabíveis junto ao professor, aos alunos, pais e Conselho Tutelar. A empresa ainda se colocou a disposição das autoridades para eventuais investigações.

“No Elite repudiamos qualquer tipo de atitude discriminatória que implique em constrangimento, discriminação ou desrespeito a quaisquer membros da comunidade escolar. Posturas como essas ferem os valores do Elite e não podem ser aceitas em hipótese alguma”, diz trecho da nota. As informações são da Revista Fórum.

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