A mesa do último domingo (20), ‘Arar letra, salvar terra e corpo’, propôs uma conversa entre o autor do renomado ‘Tordo Arado’, Itamar Vieira Junior, e a atriz e diretora Gal Pereira durante a Feira Literária de Mucugê, na Chapada Diamantina. Com a mediação de Jamile Borges, o evento teve discussões sobre sonhos, crenças, identidade e as trajetórias dos dois artistas. Nesse encontro, as palavras e as músicas se entrelaçam, criando uma atmosfera que alimentava a mente e o espírito de todos os presentes.
A conversa se desdobrou entre os territórios da resignificação e a exploração das divisões entre pessimismo e esperança presentes nas obras ‘Tordo Arado’ e ‘Salve Fogo’. A história desses livros aponta para um caminho da esperança, mas não a normal, a esperança que somos e o que queremos que o mundo seja. Uma esperança engajada, como o próprio Itamar definiu.
A discussão abriu espaço para a quebra das correntes de um ciclo, para olhar além das narrativas limitadas e para trazer à tona a verdadeira história do Brasil, a dos povos negros, indígenas e da população pobre do país. “Sem entender o passado do Brasil, a gente não vai vivenciar uma história diferente.”
Um encontro que ressoa sentidos de Torto Arado
O encontro de Itamar com Gal Pereira ressoa profundamente os personagens, cenários e sensibilidades de Torto Arado. Gal Pereira, que é filha da Chapada Diamantina, quilombola do Remanso e atriz, está atualmente em turnê por diversos países com o espetáculo “Depois do Silêncio”, baseado em Torto Arado. Além disso, na Fligê de 2022, Gal apresentou o espetáculo “Jarê Cantado”. O Jarê, também identificado como o “candomblé de caboclos”, é uma prática religiosa levada ao território baiano por africanos nagô e mistura uma forte influência de povos indígenas.
“O Torto Arado, pra mim, é meu amuleto de sorte. Eu vim do Remanso, meu pai fundou o quilombo. Eu sou a última de 27 irmãos, sou a caçula. E desde pequena eu falava que seria atriz quando crescesse. E eu falava que iria rodar o mundo. Alguns anos atrás, eu ganhei o livro de um amigo meu, Fred, e quando eu vi a capa do livro, fiquei muito emocionada. Só pela capa. Pra mim foi muito difícil ler o livro. Porque não é uma ficção pra mim. É a realidade. Porque os meus passaram por isso, eu passei um pouco por isso. E, até hoje, alguns dos meus também ainda passam por isso”, afirmou Gal Pereira.
Emocionada, Gal sentiu-se acolhida para compartilhar sua história e inspirar as pessoas a buscarem construir a história que elas desejam para si mesmas, rompendo as barreiras que nosso passado escravagista impôs ao povo brasileiro. “Eu sinto que fui escolhida para passar tudo que já passei. Quando eu estou nos palcos da Europa eu não estou só, estou com os meus. O meu sonho é para que os meus possam aceitar que a vida pode ser muito mais do que ser mãe e trabalhar na casa dos outros.”
Para finalizar, a mesa contou com uma apresentação musical de Gal Pereira e seus irmãos, Nau e Getúlio. Veja a transmissão da Mesa 5 Arar letra, salvar terra e corpo:
Jornal da Chapada