Um raro encontro com uma das espécies de tubarão mais ameaçadas do mundo foi registrado recentemente nas águas do País de Gales, trazendo esperança para conservacionistas e destacando a urgência de medidas de proteção marinha.
Cientistas capturaram imagens de um tubarão-anjo (Squatina squatina), espécie criticamente ameaçada de extinção, durante pesquisas na Baía de Cardigan.
O registro não foi planejado. A câmera que flagrou o animal faz parte do projeto Dolphin Diet Detectives, da Wildlife Trust of South & West Wales (WTSWW), que estuda a alimentação dos golfinhos locais e monitora a biodiversidade marinha da região.
“Ficamos emocionados ao registrar um tubarão-anjo na Baía de Cardigan, um encontro raro e emocionante. Tubarões-anjo não eram filmados na Baía de Cardigan desde 2021”, afirmou Sarah Perry, gerente de Conservação Marinha e Pesquisa da WTSWW, em comunicado.
De comum a tubarão criticamente ameaçado
O avistamento é significativo porque a espécie, antes comum em várias costas europeias e partes do Norte da África, sofreu um declínio populacional drástico. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a população de tubarões-anjo diminuiu pelo menos 80% nos últimos 45 anos, levando à classificação de “criticamente ameaçado”– apenas um nível antes da extinção na natureza.
Entre os principais fatores para este declínio alarmante estão a degradação de habitats e, principalmente, a pesca de arrasto de fundo. Os tubarões-anjos são particularmente vulneráveis a esta prática por viverem e se alimentarem no fundo do mar. Combinado com sua baixa taxa reprodutiva, isso cria condições propícias para a extinção da espécie.
Impacto devastador visível
A vulnerabilidade não é exclusiva dos tubarões-anjos. O recente documentário OCEAN, de Sir David Attenborough, mostrou pela primeira vez imagens do impacto devastador da pesca de arrasto de fundo nos ecossistemas marinhos. As gravações revelam arraias e cefalópodes fugindo desesperadamente das redes e cabos metálicos dos arrastões, que deixam um rastro de destruição por onde passam.
“Isso está acontecendo em todos os oceanos, inclusive em muitas de nossas áreas protegidas. A diferença é que isso é tão destrutivo quanto derrubar sua floresta antiga local ou a floresta amazônica”, disse Toby Nowlan, diretor e produtor de OCEAN, ao portal britânico IFLScience.
“Se a minha floresta antiga local, Leigh Woods, fosse simplesmente derrubada, toda a cidade ficaria revoltada, mas é isso que está acontecendo debaixo d’água. A razão pela qual as pessoas não se revoltam contra o arrasto é que isso permanece escondido da vista. Acontece logo abaixo da superfície. Longe dos olhos, longe da mente, então permanece oculto”, continuou Nowlan.
Perspectivas de mudança
O avistamento do tubarão-anjos pode contribuir para mudanças nas políticas de proteção marinha, especialmente em um momento oportuno de discussões legislativas.
“Esse avistamento ocorre em um momento crucial, enquanto o Senedd [Parlamento do País de Gales] e o Governo do Reino Unido discutem a proibição do arrasto de fundo em Áreas Marinhas Protegidas”, destacou Perry, acrescentando que as câmeras subaquáticas do projeto “revelam a incrível diversidade de vida no leito marinho”.
Para a pesquisadora, “essas descobertas destacam a necessidade urgente de proteger esses habitats frágeis de atividades prejudiciais como o arrasto de fundo”, sinalizando esperança para a sobrevivência não apenas do tubarão-anjos, mas de todo o ecossistema marinho que depende da saúde dos habitats de fundo oceânico. As informações são do site SoCientifica.

