O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou nesta quinta-feira (27) a necessidade de uma cooperação direta entre Brasil e Estados Unidos para enfrentar o avanço de organizações criminosas que utilizam o sistema financeiro internacional para práticas de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
A declaração foi feita no dia em que a Receita Federal deflagrou a Operação Poço de Lobato, uma megaoperação que mira fraudes no setor de combustíveis. Segundo Haddad, o estado norte-americano de Delaware tem sido frequentemente usado como paraíso fiscal para envio ilegal de recursos do Brasil — que retornam posteriormente como se fossem investimentos estrangeiros lícitos.
“A última operação foi de R$ 1,2 bilhão de envio para esses fundos em Delaware, e que voltam pra cá na forma de aplicação, como se fosse um investimento estrangeiro. Mas, na verdade, o dinheiro saiu daqui”, afirmou o ministro.
Haddad revelou ainda que já conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, sobre a urgência dessa articulação internacional. A expectativa é que a Polícia Federal intensifique ações de recuperação de ativos no exterior com apoio da Interpol.
Operação Poço de Lobato
Deflagrada em cinco estados — Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo — a operação visa desarticular um esquema bilionário de sonegação e lavagem de dinheiro por meio da comercialização irregular de combustíveis.
A ação é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que anteriormente fechou dezenas de postos nos estados de Maranhão, Piauí e Tocantins.
A Receita Federal já identificou 17 fundos ligados ao grupo, com patrimônio líquido estimado em R$ 8 bilhões. Muitos deles são fundos fechados com um único cotista, criando diversas camadas de ocultação para dificultar o rastreamento das operações.
“Você precisa atuar também pelo andar de cima. É o andar de cima que irriga com bilhões as atividades criminosas”, enfatizou Haddad.
Apoio ao projeto do ‘devedor contumaz’
Haddad aproveitou para reforçar o apelo ao Congresso pela aprovação do projeto que cria um regime específico para punir o chamado devedor contumaz — aquele que sonega impostos de forma recorrente e deliberada.
O texto já foi aprovado no Senado e aguarda tramitação na Câmara.
“É um trabalho de três anos. Incluímos na lei uma série de benefícios para o bom contribuinte, para separar o joio do trigo. Se conseguirmos sancioná-lo ainda este ano, entraremos mais fortes no próximo”, pontuou.
Jornal da Chapada

