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A Chapada Diamantina tem muito o que mostrar, diz jornalista José Raimundo

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Jornalista conta detalhes dos lugares que visitou junto com a equipe do Globo Repórter na segunda viagem do programa ao Pantanal Nordestino | FOTO: Globo.com |

PANTANAL DO SERTÃO

Impossível não gostar de voltar à Chapada Diamantina. Ainda mais quem não rejeita uma aventura, como é o meu caso. Já tinha vivido isso no ano passado quando revelamos para o Brasil o extraordinário Vale do Pati e sua trilha considerada a mais bonita do país. E cá estamos nós, de novo, para mais uma empreitada. É que a Chapada baiana, de tão grande e espetacular, tem muito o que mostrar, não comporta em apenas um Globo Repórter.

Desta vez fomos visitar regiões que justificam qualquer esforço para conhece-las. Alguém duvida que em pleno sertão, espremido por montanhas grandiosas, há um pantanal cheio de vida? Marimbus é o nome do lugar. Só não vimos jacarés e onças. Mas de falta de mamíferos, aves e peixes não podemos reclamar. A vegetação é uma atração especial. Tapetes de vitórias-régias se espalham pelos labirintos aquáticos; corredores de papiros – a planta que deu origem ao papel, da mesma família que existe no rio Nilo – surgem no caminho inundado em grande quantidade e altura.

É de canoa que se percorre o pantanal da Bahia. ” Barco a motor, nem em sonho “, diz Nilmário, Nil como é conhecido, guia experiente que conhece cada palmo do Marimbus. Ele nos levou a recantos de onde se vê o azul infinito do céu refletido em cristalinos espelhos d´água. Pescadores nunca voltam pra casa sem a comida da família. “Tem bastante peixe aqui, garantem eles. Pra comer e para vender. ” E pescados no anzol, que é mais gostoso ainda”, diz seu Edvaldo que faz do pantanal sertanejo seu ambiente de trabalho.

CAPÃO

Sabe aquele lugar que a gente ouve falar que é parado no tempo? Esta é a impressão que se tem quando se pega a estrada do Capão. Mas não é o que se comprova ao chegar e conhecer o vilarejo do município de Palmeiras. Menos de 1.000 moradores, sossegado e cercado de belas montanhas, o Capão, ao contrário, está acima do tempo que se imagina. Para começo de conversa, a vida nesse recanto da Chapada é cercada de boas energias e grande interesse por tudo o que é saudável.

Foi com a chegada do Dr Áureo Augusto Caribé, médico clínico, que a rotina dos moradores começou a mudar. Exausto da agonia do trânsito, dos plantões e noites perdidas nas emergências dos hospitais de Salvador, onde nasceu, cresceu e se formou, o médico escolheu o Capão para morar e ser feliz. E bastam alguns instantes de conversa e logo se descobre que o Dr. Áureo é mesmo a cara da felicidade. Lá ele não deixou de exercer a medicina. Continua estudando, se atualizando e é o médico da comunidade. E tão respeitado, que todas as famílias se orgulham em dizer que são pacientes do Dr. Áureo.

Mas a admiração vai além dos serviços prestados no único posto de saúde, sem falar dos atendimentos domiciliares sempre que é chamado. Segundo ele, felizmente, a demanda não é grande por um único motivo: “O povo do Capão não adoece com facilidade, graças à mudança de hábitos que ajudei a implantar assim que cheguei aqui, há 30 anos.” É só visitar os quintais das casas para comprovar. Plantar horta, comer legumes, verduras, frutas, pouca carne vermelha, além de cultivar a paz e a alegria, são receita que o médico não se cansa de recomendar, e que os moradores adotaram quase como uma obrigação diária.

Filosofia semelhante é seguida pelos habitantes de Mucugê, cidade que fica ao norte da Chapada e que, na minha opinião, é umas das mais interessantes da região. Arquitetura colonial, bucólica, Mucugê, que fica a mais de 1.000 metros de altitude, tem clima ameno quase que o ano inteiro. Isso se deve à Serra do Sincorá que corta o município. Não é raridade a temperatura descer dos 10 graus nas noites de inverno. Durante o dia, sol escaldante.

Mas são os mortos uma das principais atrações de Mucugê. No auge do diamante, quando os coronéis e sortudos garimpeiros não economizavam poder, as famílias endinheiradas mandavam construir verdadeiras obras de arte para enterrar seus mortos. Chegavam ao ponto de contratar na Itália arquitetos famosos para construir os túmulos. Hoje, quem passa por Mucugê não resiste à curiosidade de conhecer o cemitério da cidade, batizado de cemitério bizantino. E se a visita for na hora do almoço, recomendo experimentar a comidinha caseira da casa de dona Nena. Não funciona todo dia, mas, com sorte, se saboreia a “galinha caipira com godó”, prato típico da região que me faz lamber os beiços só em lembrar.

BURACÃO

A Chapada Diamantina é um paraíso que espalha cachoeiras por todos os lados. Mas não é exagero dizer: o buracão é a mais bonita de todas. Não é o volume de água que a faz merecedora do título, mas a arquitetura caprichosa que a natureza reservou para aquele lugar. Imaginem o que é entrar em um cânion inundado de uns 200 metros mais ou menos e no final se deparar com uma queda d´água majestosa num buraco de 50 metro de profundidade e 800 de diâmetro? É tão surpreendente que não há como não se emocionar com tamanha beleza.

Chegar ao buracão é menos complicado do que se pode imaginar. O caminho começa na cidade de Ibicoara. É recomendável a contratação de guias, em caso de grupo, ou pelo menos um, se estiver sozinho. De carro, 40 km de estrada de barro até uma fazenda, com um pequeno estacionamento, onde começa a trilha a pé. Uma hora depois se chega à cachoeira. O difícil nesse lugar é controlar o tempo. De tão impactante, a vontade de ficar, muitas vezes, nos leva a sair nos últimos raios de sol.

Mais uma aventura – desta vez por dentro do leito de um rio com pedras enormes – nos levou à cachoeira encantada, no município de Itaetê. Depois de 12 quilômetros a pé, subindo e descendo rochas muito escorregadias, avistamos a queda
d´água de 250 metros de altura. A paisagem impressiona pela dimensão. O banho embaixo da cachoeira e suas duchas regeneradoras é obrigatório. A água é gelada, mas depois de entrar no lago e nadar até a primeira ducha a temperatura fica suportável.

Poço Azul e Poço Encantado são atrações que deixam qualquer visitante atônito de tão surpreendentes. Ficam nos municípios de Nova Redenção e Itaetê, respectivamente. São duas cavernas inundadas com características diferentes. No Poço Azul o banho é permitido. E que banho! No Poço Encantado não. É um cenário que faz a festa dos olhos. O melhor período para se visitar é entre os meses de junho e setembro. É quando os raios do sol entram por uma fresta da caverna e produz um efeito único. Um facho de luz impressionante cortando o lago de 90 metros de profundidade.

Qualquer viagem, mesmo a trabalho, só é interessante e produtiva quando se tem boas companhias. E disso eu não posso me queixar, pelo contrário. Ter o repórter cinematográfico Alex Carvalho na captação de imagens, Rildo de Jesus no áudio e a produção de Luiz Costa Jr já é um presente. E me sinto duplamente privilegiado por contar com duas profissionais e amigas que, da redação e ilha de edição, foram fundamentais para o bom resultado do trabalho: Lilian Cavalheiro, na edição de imagens e Meg Cunha, que mesmo à distância, dirigiu o programa com o talento e competência de sempre. É um orgulho fazer parte de tão valorosa equipe comandada brilhantemente por Silvia Sayão.

Um abraço, Zé Raimundo!

Extraído na íntegra do Globo.com

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