Por André Reis*
Caros, o nosso Papo de Torcedor de hoje é mais um desabafo que um papo opinativo ou qualquer informação. Se bem que na atual situação do clube, qualquer roda de bate papo em que o tema central seja o Esporte Clube Vitória sempre será uma lamúria. Como se já não bastasse afastar dos estádios torcedores tradicionais e acostumados a ver um Leão rugindo forte dentro das quatro linhas, que quando pegava um clube de menor expressão do futebol nacional a preocupação seria apenas em saber qual seria o placar e gol mais bonito da partida, os “donos” dos clubes de futebol trabalham severamente para tirar as crianças dos estádios.
Talvez mesmo entrando de graça os futuros torcedores não tenham desejo de assistir uma pelada no Barradão com o elenco que temos hoje. A não ser o meu filho de 6 anos, que não viu Bebeto e Ramon Menezes jogar e acha o cabelo de Pica Pau engraçado, não sei qual seria o atrativo para fazer com que uma criança deixe de ir ao shopping, brincar de bicicleta ou jogar com o Barcelona no vídeo game em uma tarde de domingo, para ir ao Manoel Barradas.
Além de não ter atrativo dentro das quatro linhas, apenas a vontade de torcer pelo clube, nos deparamos com toda dificuldade que a diretoria se empenha em adicionar aos pais que querem fazer os filhos se transformarem em rubro-negros. Eu, particularmente, como qualquer torcedor, já levei diversas crianças comigo ao estádio. Claro! Até o ano passado era fácil fazer isso, pois crianças menores de 12 anos não pagavam para adentrar no “espetáculo”.
Sabemos que para o Procon a tal cobrança é respaldada pelo Direto do Consumidor, pois não existe uma idade mínima para a criança assistir de forma gratuita um espetáculo de futebol, valendo apenas os critérios de bom senso dos gestores. Se na Arena sempre pagou ou em qualquer outro lugar do mundo paga, não vem ao caso. Nós estamos falando de Vitória. Agora qualquer pai, tio, vizinho, ou padrinho que queira fazer com que o seu mascote maior de 7 anos lhe acompanhe para prestigiar o Leão tem que comprar ingresso.
Muitos torcedores relataram que estão com dificuldades de entrar no Barradão, mesmo a criança tendo a idade exigida. O meu caso é similar ao de centenas de pais que colocaram os filhos como dependente, pagam pela confecção da carteira, pagam mensalmente ou anualmente o plano de sócio torcedor, e mesmo assim tem o desprazer de ver o filho passar por baixo da catraca em todos os jogos. Ora, se a criança é sócia do clube, tem a carteirinha com o nome dela, por que não tem o direito de passar pela catraca? Entendo que se o objetivo é fazer com que crianças maiores de 7 anos paguem para adentrara ao estádio, elas devem ter no mínimo o direito de ter o acesso registrado. Até mesmo porque o argumento da Arena e o utilizado pelo Barradão é de que a criança também ocupa uma cadeira (cadeira no Barradão?).
Tá legal, estamos falando de quem pode pagar para ir ao estádio, de quem pode fazer o Sou Mais Vitória (SMV). Não creio que seja muito inteligente por parte de uma gestão “moderna” querer ganhar agora, de meros torcedores em formação para perder logo mais à frente. Até mesmo porque não temos campanhas diretas para seduzir as crianças. E os pais que têm dois, três filhos ou mais? Não seria bom repensar essa estratégia para conquistar novos leõezinhos? Questiono, mas não acredito que a diretoria do clube tenha uma carta na manga para a possível perda de torcedores.
Bom, enquanto em qualquer clube sério o objetivo é conquistar novos torcedores, no Leão o objetivo é remar contra a maré. Lembro que o Vitória era considerado um dos times com maior torcida jovem. Qualquer criança nascida da década de 90 já abria os olhos cantando o hino. A tendência é que essa “febre passageira” siga dando lugar aos Barcelonas da vida. Claro que os tempos são outros… a internet e a TV estão aí com suas propagandas pró-europeus. Antes a briga era apenas com Rio e São Paulo.
Não estou aqui apenas lutando para que o meu filho tenha o orgulho de registrar o acesso ao estádio. Não, não é isso. Estou aqui para pedir que deixem as nossas crianças participarem da história do nosso rubro-negro de coração. Apenas entendam que essas crianças que estão sendo barradas hoje seriam os homens e mulheres da “Arena Barradão” de amanhã.
*André Reis é eterno estudante da comunicação – Jornalista por formação, assessor de imprensa, apaixonado por futebol, amigos e pelo ECV.