A implantação da Casa do Patrimônio de Lençóis, na Chapada Diamantina, será debatida no próximo dia 8 de junho na Rua da Baderna, nº 8, às 18h30. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) convida organizações, grupos e pessoas que atuam nas áreas de cultura, educação, turismo, meio ambiente e mobilização social para esta conversa. A Casa do Patrimônio faz parte de uma política relativamente nova dentro do Iphan (2008) e visa a realização de ações de educação patrimonial e de capacitação, além do estabelecimento de novas formas de relacionamento entre o Iphan, a sociedade e os poderes públicos locais.
Essa ação de implantação da Casa do Patrimônio de Lençóis começou a ser planejada há cerca de um ano, com o deslocamento para esta cidade da antropóloga Maria Paula Adinolfi, que vem realizando o levantamento dos diversos agentes culturais e educacionais do município e fazendo reuniões de apresentação do projeto com os mesmos. O projeto foi também apresentado no Fórum Territorial de Cultura da Chapada Diamantina que ocorreu em Seabra em agosto de 2015. Foi elaborado projeto para adequar e equipar a Casa para funcionar como espaço cultural para abrigar múltiplas linguagens artísticas.
Também foi elaborada uma minuta de Plano de Trabalho para a Casa do Patrimônio, considerando os principais aspectos históricos e culturais que devem ser preservados, garantindo o fomento às práticas culturais, a formação e disponibilização de acervos documentais e bibliográficos e ações de educação patrimonial relativas ao patrimônio imaterial, arqueológico e edificado da Chapada, fortalecendo a identidade cultural e o senso de pertencimento dos lençoenses e chapadeiros, tendo como um de seus eixos a memória do garimpo e dos garimpeiros.
Tendo em vista o cenário de crise e a diminuição da perspectiva para conseguir verbas de imediato para estruturar fisicamente a casa, a antropóloga Maria Paula tomou a decisão de dar início às ações mesmo sem as condições ideais de funcionamento, estabelecendo em abril deste ano uma parceria com o Grupo de Capoeira Angola Nigolo, de Mestre Lua Santana, para a realização de aulas de capoeira angola, prática declarada patrimônio cultural do Brasil e da Humanidade, duas vezes por semana, de forma gratuita.
De acordo com os procedimentos estabelecidos nacionalmente para as Casas do Patrimônio, os próximos passos são a realização de uma oficina de implementação da Casa, na qual serão pactuados compromissos para uma gestão compartilhada desse espaço, com oganizações da sociedade civil, poderes públicos municipais, Secretaria de Cultura do Estado, escolas, universidades e Iphan. Para participar do debate sobre a implantação da Casa do Patrimônio, o interessado deve se inscrever gratuitamente através do e-mail [email protected]. A ideia do grupo é construir um espaço democrático e participativo de educação, cultura e arte, para fortalecimento da memória e identidade chapadeiras.
Ocupação do IPHAN
A reunião chamada pelo órgão federal de cultura ocorre um dia após uma mobilização de atores culturais da Chapada que teve início na última segunda (23) e culminou com a ocupação, por diversos grupos e agentes culturais da Chapada Diamantina, do prédio onde funciona o escritório técnico do Iphan em Lençóis.
De acordo com Joana Horta, integrante do movimento ‘Lutar Sim, Temer Jamais!’, a ocupação começou quando este coletivo se reuniu na segunda pela manhã na sede do Iphan com a intenção de aproveitar o encontro da Câmara Técnica de Cultura e planejar uma manifestação a ser realizada na tarde do mesmo dia – na ocasião da passagem da tocha olímpica pela sede de Lençóis – em ato de repúdio ao cortes do governo interino de Michel Temer (PMDB) nas políticas culturais e sociais.
“A primeira sinalização da instituição foi comunicar que o prédio onde funciona o escritório técnico do Iphan em Lençóis deveria ficar fechado”, informa Horta.
Com essa posição o grupo decidiu permanecer e ocupar o prédio. No mesmo dia, à tarde, o superintendente do Iphan na Bahia, Fernando Ornelas, chegou ao escritório e com o apoio da antropóloga Maria Paula Adinolfi, que atua no município de Lençóis, negociou a permanência pacífica dos grupos culturais. Foi acordado então que os ativistas utilizariam o local para realizar “uma verdadeira festa democrática”. Durante a passagem da tocha olímpica diversos agentes e grupos culturais se somaram ao ato, que reuniu representantes de Andaraí, Lençóis, Piatã, Seabra, Palmeiras e Wagner, entre estudantes estes artistas populares, jornalistas, sindicalistas, ambientalistas e agricultores familiares.
Para Joana Horta, a força da mobilização estimulou a promoção da primeira reunião de mobilização para a implantação da Casa do Patrimônio de Lençóis: “a reação do Iphan após a ocupação mostra que manifestações e reações populares são imprescindíveis para garantirmos a permanência dos nossos direitos e a conquista de novos!”.
Jornal da Chapada