Por Marcos Antônio Sampaio*
Em um cenário político nacional, com sucessivos ataques ao Estado Democrático de Direito, fui golpeado intempestivamente da presidência do Conselho Municipal de Saúde de Salvador. E o pior: os autores do golpe foram os nossos “parceiros de primeiro momento”, integrantes do PCdoB, que dizem criticar o desrespeito de Temer à vitória democrática de Dilma Rousseff nas urnas.
Optei por me licenciar temporariamente das minhas funções para disputar uma vaga na Câmara Municipal de Salvador e, assim, potenciar o trabalho que desenvolvo, desde 2012, à frente do conselho. Entreguei um ofício, solicitando afastamento com data de retorno estabelecida para o dia 3 de outubro. O documento foi aprovado pelos integrantes do Conselho.
Quando tentei retornar às minhas funções, fui informado do golpe. Os “companheiros” comunistas alegaram que não devolveriam a presidência e o meu vice, Djalma Bastos Rossi, iria permanecer no cargo até dezembro de 2016. Incrédulo, questionei sobre a legitimidade da permanência de Djalma à frente da função e me disseram que uma reunião seria realizada para decidir se eu iria voltar ou não à presidência. Não teve jeito. Após o encontro, o golpe foi consolidado.
Esse desabafo não se trata, absolutamente de nenhum apego ao cargo, já que faltariam pouco mais de dois meses para findar o meu mandato. Se trata de uma profunda incoerência com o que prega. Quem prega a democracia, necessariamente, respeita o voto. Agora, a mesa com quatro membros tem três do PCdoB.
Lembrando que fui parceiro desde o primeiro momento da candidata Alice Portugal na disputa pela prefeitura de Salvador, participei de quase todas as caminhadas ao lado dela, e estou me perguntando: a vontade de retaliar de alguma forma o prefeito eleito é tão grande a ponto de esquecer os princípios pregados?
Em 2012, fui empossado presidente do Conselho Municipal de Saúde de Salvador, democraticamente eleito pela maioria dos conselheiros que aprovavam meu projeto de gestão. Desde então sempre estive aliado à consolidação do controle social através da participação popular, com propriedade para saber deliberar sobre a saúde no município.
Minha trajetória no campo da saúde está diretamente ligada à militância. Fui membro do Conselho Local de Saúde e do Conselho Distrital de Brotas, que legitimaram a minha eleição e garantiram a possibilidade de contribuir com as mudanças que percebemos na minha atuação no Conselho Municipal de Saúde.
Golpeado pelos “parceiros de primeiro momento”, continuarei lutando pelo fortalecimento das instituições democráticas e lembrando que, na política, mais importante do que o discurso são as nossas ações. A dignidade de aceitar a soberania das urnas não deve ser apenas gritada nos palanques, mas também exercida incisivamente no dia-a-dia de quem se diz a favor da democracia.
*Marcos Antônio Sampaio, presidente destituído do Conselho Municipal de Saúde de Salvador