Caminhadas, shows e outras homenagens marcaram, neste domingo (20), o Dia Nacional da Consciência Negra em Salvador. A chuva que caiu pela manhã não impediu que representantes de movimentos sociais de participassem do ato simbólico da 8ª Lavagem da Estátua de Zumbi dos Palmares, ícone da resistência contra a escravidão e herói nacional. Eles percorreram as ruas do centro histórico em um cortejo que reuniu o som da percussão, flores e água de cheiro das tradicionais baianas. A data reforça a busca por ampliação de políticas afirmativas, igualdade de oportunidades e respeito pelo passado e presente do povo negro.
“Este é mais um ato de resistência. Estamos mostrando que apesar de termos conquistado muita coisa nos últimos anos, sabemos que ainda não é o bastante. Damos continuidade à luta de Zumbi dos Palmares, que foi morto como uma forma de fazer o povo negro se calar diante do preconceito. Nós não vamos desistir nunca de conquistar a igualdade”, destaca a ialorixá Maísa Bahia.
O ato simbólico também levantou a bandeira da ampliação dos direitos das mulheres negras. Para a historiadora Jumária Santos, a ocasião é mais uma oportunidade para que as mulheres somem forças para superar o preconceito de gênero, classe e etnia. “Estamos aqui para levantar essa importante questão. Uma mulher negra e pobre é um dos perfis mais vulneráveis em nossa sociedade, apenas por preconceito. Nós podemos fazer o que quisermos e estar onde quisermos. Não existe motivo para nos encolhermos e termos vergonha de quem somos”, afirma.
De acordo com a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, os eventos realizados neste domingo são fundamentais para evidenciar que o racismo existe e precisa ser enfrentado. “O Governo do Estado amplia o enfrentamento atuando com a rede de combate ao racismo para a responsabilização de pessoas que ainda cometem atos racistas. É importante que as pessoas saibam que a luta continua e que o Estado e a sociedade civil estão juntos para avançar”, afirma.
A música também teve destaque no Dia da Consciência Negra. A cantora Larissa Luz comandou as comemorações no Teatro Castro Alves (TCA), homenageando grandes cantoras negras, como Nina Simone e Jovelina Pérola Negra, com canções que reforçam o discurso de empoderamento. A artista, indicada ao Grammy Latino pelo álbum Território Conquistado, aproveitou a ocasião para transmitir uma mensagem de valorização e autoestima para a população negra. “Estamos em progresso. Precisamos ocupar os lugares de destaque e conquistar espaços que a gente nunca chegou. Temos potencial para isto e precisamos valorizar a nossa cultura”, destaca a artista.
Pela tarde, duas caminhadas encerraram as comemorações na capital. A 16ª Caminhada da Liberdade, conduzida pelo Grupo Ilê Aiyê, partiu da Senzala do Barro Preto, no Curuzu até o Pelourinho, e a 37ª Marcha da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, que este ano teve como tema “Malês: Uma Outra Revolta na Década Internacional Afrodescendente”, fechou a festa com afirmação e esperança.