Depois de ter sido declarado como extinto, o incêndio florestal na região do município de Ituaçu, na Chapada Diamantina, voltou a ameaçar as nascentes do Rio Mato Grosso nesta quarta-feira (15). Os brigadistas voluntários de municípios como Ibicoara, Barra da Estiva e Ituaçu conseguiram conter as chamas próximo à localidade de São José, mas o fogo de turfa atingiu outra área próxima e o combate deve ser intensificado pelas brigadas ainda nesta quarta e madrugada de quinta (16).
“O fogo voltou, é fogo de turfa. Muito fogo, é um combate complicado porque tem muito material orgânico queimando embaixo da terra. Saímos lá de tarde e não tinha nada, nem fumaça, mas agora, no início da noite, as chamas retornaram na mesma região que queimava”, informa o presidente da Brigada Guerreiros de Barra da Estiva, Edvaldo Miranda Alves. O brigadista completa dizendo que, na cidade de Ituaçu, já sabem quem foi que causou o fogo. “Foi criminoso, um rapaz novo que tem aqui. E o Inema ficou que vir a Ituaçu para resolver isso também”.
No combate, que começou no sábado (11), os brigadistas tiveram o apoio da prefeitura municipal de Ituaçu, por meio da Secretaria de Transporte. O órgão auxilia as brigadas a chegaram ao local de combate. Da mesma forma, uma aeronave do programa Bahia Sem Fogo leva os combatentes para as atividades diuturnas. Vale destacar, que nenhum dos brigadistas são contratados para intercederem, eles vão de forma voluntária e, muito as vezes, contribuindo do seus bolsos para o deslocamento.
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Brigadistas contestam versão do governo
Em contato com o Jornal da Chapada, os brigadistas que atuaram no combate ao fogo em Ituaçu rebateram as afirmações do governo estadual, publicadas por este site (veja matéria aqui). De acordo com eles, o governo só auxiliou no transporte com três pilotos e uma aeronave. Os combatentes ainda apontam a fala de equipamentos adequados para a luta contra o fogo e exaltam o trabalho de união “dos verdadeiros heróis e guerreiros das brigadas voluntárias, como a Bravos, Guerreiros e aos brigadistas de Ibicoara”.
Uma carta de repúdio, assinada pelo presidente dos Combatentes de Incêndios Florestais em Andaraí (Cifa), Homero Vieira, aponta para dados que a Secretária Estadual de Meio Ambiente (Sema) “vincula na imprensa e redes sociais” que não condizem com a realidade. Homero cita falhas na execução do programa do governo estadual. “Com a criação do programa ‘Bahia Sem Fogo’ os incêndios florestais se intensificaram na Chapada Diamantina. No ano de 2015, o programa gastou nos incêndios mais de R$ 25 milhões. Esses recursos seriam mais que suficientes para instrumentalizar e equipar de forma satisfatória todas as brigadas da Chapada e muito mais”.
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Vieira lembra que “há mais de 27 anos as brigadas voluntárias da Chapada Diamantina têm combatido incêndios florestais com muitas dificuldades, não sendo diferente no incêndios de Ituaçu, quando os brigadistas voluntários trabalharam duramente, durante mais de três noites e dias para debelar as chamas nefastas que destruíam as floresta, nascentes e a fauna”. O presidente da Cifa detalha que o trabalho sempre foi por “amor à natureza e muitas as vezes não tendo sequer um equipamento de proteção e ou combate”. As brigadas contam sempre como o apoio das prefeituras, comércios locais e sociedade civil. “Ao mesmo tempo que sempre cobramos do Estado um plano de ação integrado e nunca obtivemos uma resposta”.
Conforme Homero, o governo da Bahia em 2017 tem realizado mais gastos para o Bahia Sem Fogo, até o momento já foram gastos mais de R$ 4,5 milhões, e quem realmente combate os incêndios, as brigadas, continuam desassistidas. “Nós brigadistas não recebemos diárias, não recebemos instrumentalização, não recebemos EPIs [Equipamentos de Proteção Individual]”.
Ainda segundo o brigadista da Cifa, no município de Ituaçu, os combatentes contaram com o apoio de uma aeronave, a partir do segundo dia de combate. “Diferentemente do incêndio que ocorreu em Lençóis, onde a brigada Anjos da Chapada combateu um incêndio por mais de 11 dias e só veio receber apoio governamental no final do combate. Não achamos justo e repudiamos a Sema por querer promover seu programa fantasioso e caro em cima do suor e sangue dos brigadistas voluntários”.
Jornal da Chapada
Carta de repúdio na íntegra