Ícone do site Jornal da Chapada

#Brasil: Caso de desaparecimento de jovem no Acre é cercado de mistérios

cap1
Todas as obras – identificadas por números romanos – estão criptografadas e foram produzidas por Bruno, de 24 anos | FOTO: Reprodução/G1-AC |

O desaparecimento do estudante de psicologia acreano Bruno Borges, de 24 anos, desde a última segunda-feira (27), em Rio Branco, tem causado espanto pela estranheza do fato. Ao chegar em casa após um almoço em família o pai de Bruno, Athos Borges, percebeu que o filho não estava. “Eu fui a última pessoa a ver o Bruno. Eu deixei ele na esquina de casa e dali eu fui embora. Ele falou até mais pai, e a partir dali a gente não teve mais notícia”.

Atrás da porta do quarto, mantida 24 dias trancada enquanto os pais viajavam, no lugar de móveis, estava uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), por quem o jovem tem grande admiração, orçada em R$ 7 mil, e 14 livros extremamente organizados, escritos à mão. Alguns deles copiados nas paredes, teto e no chão. Todas as obras – identificadas por números romanos – estão criptografadas.

O desaparecimento de Bruno só foi percebido quando o pai entrou no quarto e viu as mudanças que haviam sido feitas no local. “Eu entrei lá e não vi a cama, não vi nada, só vi aquilo tudo. Naquele momento eu vi que o Bruno tinha ido embora”, conta o empresário. O coordenador da Delegacia de Investigação Criminal (DIC), delegado Fabrizzio Sobreira, afirmou que todas as possibilidades estão sendo consideradas, mas que o caso segue em sigilo.

Enquanto os pais viajavam, Bruno ficou em casa com o irmão gêmeo Rodrigo Borges, que não quis comentar o caso, e Gabriela Borges, a irmã mais velha. “Ele falava que era o projeto dele, eu questionava ele porque eu, como irmã, não poderia saber o que era o projeto e ele me disse que iria me contar o que era em duas semanas. As pessoas perguntam porque que não fui lá e abri aquela porta? Mas têm que entender que não se tratava de uma criança, ele é um adulto e tem a privacidade dele, me incomodava, mas eu não podia arrombar a porta”, disse Gabriela.

A irmã conta ainda que Bruno chegou a deixar uma chave que relaciona letras aos símbolos e, com base nisso, os irmãos conseguiram traduzir algumas coisas. “O título de um dos livros é ‘A teoria da absorção do conhecimento'”, contou Gabriela. No quarto, os escritos são feitos de forma impecável, com precisão e simetria, como em uma página de caderno. Várias simbologias foram desenhadas no cômodo e também ao redor da estátua. Um quadro na parede em que Bruno aparece sendo tocado por um extraterrestre também mostra o interesse do jovem pelos mais diversos assuntos.

O Projeto
Denise lembra que o filho havia falado, há bastante tempo, de um projeto em que estava trabalhando e para o qual precisaria de dinheiro. Em resposta, ela falou que patrocinaria se soubesse do que se tratava, como ele não disse o pedido que foi rejeitado. Segundo a mãe, Bruno iniciou a produção em 2013 e, há um ano, passou a se dedicar na finalização.

“Ele dizia que era secreto e não dei o dinheiro. Então, ele começou a procurar pessoas que acreditassem nele sem contar o que era o projeto. Ele só me falava que estava escrevendo 14 livros que iriam mudar a humanidade de uma forma boa. Ele me pediu um ano sem trabalhar para terminar e eu, orientada por um médico, deixei”, fala.

Ainda sem saber o que os livros escondem, a mãe revela que até o dia 1° de março, data em que viajou de férias, o quarto de Bruno estava com os móveis habituais. Os outros dois irmãos, no entanto, revelaram que, a partir da saída dos pais, a porta passou a ficar sempre fechada. Foram exatos 22 dias fazendo as mudanças.

O dinheiro para custear o projeto, de acordo com Denise, Bruno conseguiu com um primo, R$ 20 mil. “Tem muitos anos que ele vem estudando filosofia, era muito fã de Giordano. Meu filho sabe falar sobre qualquer assunto, tem uma capacidade intelectual muito alta. Já leu a Bíblia toda e a obra de Shakespeare inteira”, relata.

Atrás da porta do quarto, mantida 24 dias trancada enquanto os pais viajavam, no lugar de móveis, estava uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) | FOTO: Reprodução/G1-AC |

O mistério
Passados sete dias do desaparecimento e do desespero inicial, Denise afirma que começa a entender as atitudes do filho, que não tem problemas psicológicos, segundo ela. Diante do tamanho do esforço de Bruno, a mãe revela emocionada que talvez tivesse recorrido a medidas drásticas se visse os escritos de outra forma.

“Se ele abrisse a porta do quarto e nos chamasse para ver, eu iria chorar até ‘morrer’, chamar a ambulância e mandar internar. Ele sabia o que nós faríamos. Talvez tenha ido embora para que chegássemos a esse esclarecimento. Talvez tenha tentado patentear, não tenha conseguido, e criou uma linguagem própria ou talvez a obra tenha sido feita para ser lida por quem tem uma inteligência além”, especula.

No momento, a família procura algum especialista que possa ajudar a decifrar as diferentes criptografias dos livros. Católica, Denise fala que, apesar de preocupada, a família está mais serena, acreditando que o “exílio” também faça parte dos planos de Bruno na construção de suas teorias filosóficas.

Vida
Os livros são o refúgio de Bruno desde a adolescência, quando passou a considerar que havia estudado pouco até então e que precisava compensar o tempo perdido. Mesmo com o gosto pelas leituras mais densas, Denise afirma sempre se preocupou em acompanhar as escolhas do rapaz. Desde muito cedo, Bruno demonstrava ser diferente e, conforme a mãe, querido por todos devido ao coração bondoso. Ela diz que os amigos dele sempre foram mendigos ou pessoas excluídas pela sociedade, como portadores de distúrbios mentais.

“Ele é iluminado. Na escola, sempre foi diferenciado, um líder nato, com um alto poder de persuasão. É um menino de um coração tão bom, que dava as coisas da casa e dele aos outros, como camisetas e calças. Não é porque é meu filho, estou falando do Bruno amoroso, que enxerga a alma das pessoas”, fala. As informações são do G1 AC.

Confira a matéria completa e o vídeo do quarto de Bruno

Sair da versão mobile
Pular para a barra de ferramentas