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Entrevista: Prefeito Joyuson Vieira fala sobre os 150 dias de governo em Utinga: “Sentimento de dever cumprido”

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O prefeito chapadeiro fala sobre a revitalização do Rio Utinga, a falta de intervenção do governo estadual nas atividades da região e pontua duas conquistas para melhorar a Segurança Pública | FOTO: Jornal da Chapada |

No Ponto de Entrevista dessa semana, nossa conversa foi com o prefeito de Utinga, cidade da Chapada Diamantina, Joyuson Vieira Santos (PSL). Nesse bate-papo, o gestor fala da administração ‘Utinga de Todos’, de política local, dificuldades devido às crises política e administrativa pelas quais passam o país e que atingem em cheio os municípios.

Além disso, Vieira informa em primeira mão como está a corrida em busca da possível reserva de gás natural, descoberta recentemente no município. O prefeito chapadeiro ainda fala sobre a revitalização do Rio Utinga, sobre a falta de intervenção do governo estadual nas atividades da região e pontua duas grandes conquistas que vão ajudar a melhorar a Segurança Pública no município. Confira a entrevista na íntegra…

Jornal da Chapada – Prefeito Joyuson, qual a avaliação que o senhor faz desses primeiros 150 dias de governo?
Joyuson Vieira – Foi superior às nossas expectativas. Encontramos um município totalmente destruído, um endividamento fora do normal. Utinga passou quase 60 anos acumulando uma dívida de R$7 milhões com o INSS, por exemplo, desde a sua emancipação. Em apenas quatro anos, de 2013 a 2016, o prefeito anterior conseguiu aumentar essa dívida de R$7 para R$15 milhões. O ex-gestor deixou também dívidas com Embasa, Coelba e fornecedores. Então, a expectativa desse cenário de guerra por mais otimista que fosse era que precisaríamos de dois anos para colocarmos a casa em ordem.

Mas como sou administrador de empresa e não mágico, arregaçamos as mangas e trabalhamos. Hoje posso dizer que em apenas cinco meses todos os pontos de abastecimento de água que nossas gestões anteriores implantaram estão funcionando, nosso carro pipa já é ocioso de novo, servindo apenas para molhar os jardins, estamos no processo de parcelamento da dívida junto ao INSS, de forma que daqui a dois ou três meses possamos apresentar a certidão negativa de débito e celebramos os convênios necessários para que Utinga continue sendo “de todos”.

Implantamos o ‘Banho de Luz’ em todo o município e lançamos o programa ‘Disque Luz’ na cidade, desafiando qualquer utinguense se formos informados de um único ponto de luz apagado, temos o compromisso de reacendê-lo em 24 horas. Todos os nossos compromissos foram honrados, a nossa educação voltou aos trilhos, já empossamos mais de 30 servidores concursados que brigavam há mais de quatro anos na Justiça em busca de terem seus direitos atendidos. Estamos prontos para uma nova etapa da administração, lutar por novos projetos e anseios da sociedade, devolvendo a Utinga a qualidade de vida e, mais do que isso, uma cidade onde a segurança começa a se restabelecer, apesar da insegurança que se abate sobre o Brasil e consequentemente sobre os municípios.

Jornal – Quais os novos projetos da sua administração na área de Saúde, Educação, Assistência Social e Segurança Pública?
Joyuson – Na área de Saúde, por exemplo, nosso primeiro projeto é um projeto antigo de entregar a Utinga salas de especialização. Em nosso mandato, o povo de Utinga vai dispor de especialidades médicas, como entregamos o Hospital Municipal de Utinga (HMU) que passou mais de 50 anos criando expectativas e foi construído e entregue na gestão de 2007 a 2012. Mas pasme, nosso antecessor conseguiu destruí-lo em apenas quatro anos, com isso voltamos e em apenas cinco meses o nosso hospital está restabelecido com atendimento de qualidade. Nosso projeto agora é trazer especialidades. Nesse período curto já implantamos o serviço de urologia com o renomado médico Dr. Cohim, já estamos organizando a ortopedia e a pediatria. Outras virão.

Na área de Educação, o nosso grande lema é recolocar Utinga no lugar que ela merece no cenário nacional. Em 2005 encontramos o município com 1.8 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e devolvemos em 2012 acima de 5 e em algumas escolas no patamar de 6. Voltamos e já reestruturamos a Secretaria de Educação, em pontos estratégicos para que a Educação de Utinga seja prioridade, porque entendemos que não há expectativa, não há esperança se não a fortalecermos.

Na Assistência Social, estamos devolvendo na Secretaria os meios, através de profissionais qualificados, de veículos, de local de qualidade, para que possamos atender melhor as pessoas mais necessitadas que recebem os programas sociais, como bolsa família, BPC e outros, com atenção especial, ao idoso, gestante, crianças e adolescentes.

Apesar da Segurança Pública não ser uma responsabilidade do município, muito embora, enquanto cidadão eu entenda que a gente não possa se agarrar ao artigo que diz que é um dever do Estado, no meu entender é dever da União, do Estado do município, e do cidadão, enfim, é dever de todos. Enquanto município, o que podemos fazer é aparelhar a Polícia Civil com um lugar salubre para trabalhar, o que já foi feito nos dois primeiros meses e que estamos fazendo agora com a Polícia Militar (PM) com uma casa decente, com cozinha, com gasolina para complementar o que o Estado faz, além de estabelecer parceria com as polícias especializadas Cipe – Rondesp e Caesa.

Temos um pleito que é antigo desde 2007, nós não conseguimos naquela época, mas tive a confirmação do deputado Marcelo Nilo (PSL) e ele garantiu que o nosso pleito foi deferido, para operarmos uma reforma e entregarmos o ponto de apoio da PM para que ela possa desempenhar o seu trabalho. Conseguimos viaturas novas e um delegado que chega nos próximos dias. Além de iluminar a cidade e a zona rural para dificultar a ação do marginal.

Jornal – Como o município está agindo para conviver com a estiagem que tem castigado a Chapada?
Joyuson – Eu entendo que a seca não pode ser usada como sempre foi por todos os políticos desde a época dos nossos avós, bisavós, como uma desculpa para que as coisas não aconteçam no Nordeste. A consequência da seca é muito mais por falta de gerenciamento da seca, do que por falta de chuva. Todos nós nascemos, nos criamos e morremos sabendo que precisamos ter técnicas que nos permitam conviver com seca. Utinga, que é um município rico em água com um aquífero fantástico, conviveu até 2005 com a seca que assolava todo município.

Nós conseguimos colocar água encanada em todas as casas e, em apenas quatro anos, a administração anterior destruiu tudo isso. Encontramos, em 2017, um carro-pipa na porta da prefeitura com uma lista de 172 famílias cadastradas para um único carro. E como disse anteriormente, em três a quatro meses restabelecemos todos aqueles sistemas de abastecimento e o carro pipa de Utinga ficou para molhar jardins, pois também queremos nossas praças lindas e arborizadas.

Agora precisamos que o governo do Estado faça sua parte, que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) controle a distribuição de outorga no leito do nosso rio, que o governo federal juntamente com o Estado, a prefeitura, ONGs, faça as interferências no Rio Utinga no sentido de perenizá-lo, construindo por exemplo, uma barragem de pequeno, de médio ou grande porte, a depender da recomendação dos especialistas.

Agora é fato que não podemos continuar num quadro de um rio que tem a terceira maior vazão do mundo, assoreado do jeito que está. Para você ter uma ideia do descaso do Estado, a Embasa, concessionária que faz a distribuição da água para o consumo humano, não investe, pois quando o rio está baixo ela não consegue puxar água, já que não se preveniu construindo sequer um reservatório, o que qualquer cidadão comum faz em sua casa.

O prefeito Joyuson Vieira e o vice Átila Karaoglan durante coletiva de imprensa em Utinga para falar sobre a administração nesses 150 primeiros dias | FOTO: Jornal da Chapada |

Jornal – No começo do ano os agricultores tiveram que restringir o uso de água para irrigação. De que forma essa atitude afetou a economia local? Essa medida continua?
Joyuson – A restrição foi muito forte e necessária, porque como os governos federal, estadual e municipal não fizeram suas partes em décadas, chegou o momento que o leito do rio estava secando em alguns pontos.

Aí o Inema chegou de forma fiscalizadora e punitiva, porque era necessário, travando irrigações. Radicalizou e essa radicalização trouxe sérios prejuízos, muita gente teve que ir embora, muita gente ficou em situação difícil de sobrevivência, porque nosso polo-econômico sobrevive basicamente de água, com as medidas restritivas a nossa economia foi atingida.

Agora, com as poucas chuvas que ocorreram ao longo dos meses de março e abril, a situação amenizou, houve também a perfuração de poços. Amenizou, porém não estamos em situação de tranquilidade.

Jornal – Soubemos que o senhor assinou convênio para o Garantia Safra, quantas famílias serão beneficiadas?
Joyuson – O programa Garantia Safra este ano tem sido importante para a população. Ela mesma tomou conhecimento que é importante fazer o seguro da sua safra, como fazemos o seguro de um carro e da casa.

O risco de você perder sua produção agrícola no sequeiro, no Nordeste, é muito maior, portanto esse seguro do Garantia Safra é elementar, todo mundo que planta no Nordeste deve buscar esse seguro e nós agora em parceria com o governo do Estado conseguimos aumentar este programa.

Vamos atender em torno de 80% dos pequenos agricultores, alvo principal do programa, mas continuaremos na luta para chegarmos aos 100%.

Jornal – Há alguma medida em andamento para a revitalização do Rio Utinga, principal manancial hídrico do município, inclusive para o abastecimento de água da população?
Joyuson – Existe. Fizemos uma parceria com a comunidade indígena Payayá e uma comunidade chamada Cabeça, com Cabeceira do Rio e com a associação de irrigantes. Essa parceria aconteceu por conta da própria seca e da necessidade de sobrevivência. Nós nos conhecemos mais de perto e hoje temos uma parceria onde essas pessoas, com apoio da prefeitura, fazem a limpeza da calha do rio, retirada de pneus e outros objetos. Nós, em contrapartida, oferecemos alimentação e transporte para aqueles que se desloquem para outros municípios onde esteja acontecendo problemas dessa natureza, como desvios clandestinos do rio que, lamentavelmente, ainda acontecem.

Jornal – A região toda vem torcendo para que seja realidade a suposta reserva de gás natural encontrada no município. O senhor realizará algum tipo de investimento em pesquisa desse tipo de combustível em Utinga? Caso seja verdade, como explorará essa descoberta para gerar emprego e renda para o município?
Joyuson – Na busca desesperada por água encontramos fogo, mas é fato que este fogo pode trazer muita esperança na região do Cambuí. Na perfuração de poços, a cerca de 200 metros de profundidade, em média, se detectou a presença de gás. Esses poços estão queimando 24 horas por dia. Comunicamos as autoridades, e dizer a vocês que pretendemos e podemos fazer investimento nessa área seria muita demagogia, pois quem conhece a realidade de um município do nosso porte sabe que não temos a menor condições de fazer investimento.

O que tem da nossa parte é vontade política e isso estamos levando ao Conselho Nacional do Petróleo (CNP), à Secretaria de Meio Ambiente, à Petrobrás, aos nossos deputados, ao governo e a nossa esperança que esses poços de gás se transformem em realidade. Eu só tenho muito medo é da empolgação, de deixar que essa cortina de fumaça, ou cortina de gás, possa atrapalhar a nossa verdadeira vocação, a nossa verdadeira necessidade, a nossa indispensável realidade que é cuidar de nosso manancial. Então, a gente não pode se empolgar e achar que agora vamos descobrir petróleo na Chapada.

Jornal – Agora vamos falar de política. Como anda o seu relacionamento com a Câmara de Vereadores?
Joyuson – Nossa relação com a Câmara de Vereadores, enquanto Instituição, tem sido muito boa, neste mandato também. Fizemos a presidência, quase todos vereadores estiveram presentes em nossa posse, mais de 90%, e de lá para cá todos os projetos que enviamos foram votados, claro que existem os embates, isso é natural, é democrático, mas, no fim todos foram aprovados. Então, posso afirmar que nossa relação é excelente. Posso dizer que todos os vereadores tanto da situação quanto da oposição são meus amigos.

Agora, a nossa relação é política e institucional com a Câmara toda, política partidária é com a nossa base. Na nossa base acredito que estamos bem, os vereadores nossos coligados foram contemplados em suas demandas, temos atendido todas as suas indicações (claro, na medida do possível), conseguimos máquinas rurais, reconstrução de barragens, de estradas vicinais, conseguimos banhos de luz e campo de futebol no município, por exemplo.

Jornal – Toda a região sabe que o senhor é um aliado político histórico do deputado estadual Marcelo Nilo e do federal Jutahy Magalhães Júnior, o que estes parlamentares têm feito para ajudar sua administração?
Joyuson – O deputado Marcelo Nilo levou 10 anos como presidente da Assembleia Legislativa da Bahia e nos ajudou enormemente. Na última eleição não logrou êxito, mas mesmo assim Marcelo deve ter no seu gabinete mais de 10 troféus de melhor parlamentar do Estado. Em janeiro ele conseguiu máquinas agrícolas para o município e está contribuindo para entregar a casa do Poder Judiciário para servir a Polícia Militar, através dele conseguimos uma viatura nova para a Polícia Civil.

Agora mesmo, na questão dos poços artesianos, ele tem atuado junto ao governo do estado para intensificar o processo. Conseguiu uma audiência com o governo estadual e eu pude mostrar ao secretário de estado que o grande vilão do Rio Utinga não era a irrigação, na verdade, o grande vilão do rio é o desordenamento na hora de se autorizar ou não as outorgas.

O deputado Jutahy também tem feito o trabalho dele. Fazia oposição aos governos anteriores, e desde a entrada do atual presidente ele tem sido atuante. Quando chegamos à prefeitura tinha uma emenda dele de 2008 para pavimentação de uma praça da cidade, que não tinha sido liberada. No mês passado ele conseguiu liberar e iniciaremos as obras no próximo mês.

Ele colocou mais duas novas emendas de R$500 mil para pavimentação e R$500 mil para a Saúde. No entanto, a Bahia tem três Senadores, todos foram bem votados aqui e não temos nenhuma emenda deles, até mesmo a interlocução é difícil, enfim, é uma pena. Aproveito esse espaço para lembrá-los que Utinga existe. Coloquem algumas emendas por menores que sejam, o povo utinguense vai saber agradecer, independente da coloração partidária.

O prefeito de Utinga foi entrevistado pela editora chefe do Jornal da Chapada, Deninha Fernandes | FOTO: Jornal da Chapada |

Jornal – O governador Rui Costa tem ajudado sua administração? Cite alguma obra ou ação do governo do Estado nesses 150 dias em Utinga.
Joyuson – São apenas cinco meses de governo. Neste período já tivemos três reuniões onde fui muito bem recebido pelo governador Rui Costa, uma em seu gabinete, uma no encontro de prefeitos da base de Marcelo Nilo e, por último, em Seabra, quando tratamos da crise aguda do rio Utinga. Também fomos muito bem recebidos juntamente com a comunidade Payayá, apresentamos nossas demandas, fomos muito poucos atendidos do ponto de vista prático, enviaram algumas ferramentas.

O governador disse, na presença de mais de 20 prefeitos, que ele sabe que o Estado da Bahia tem uma dívida para conosco, que é o asfaltamento do trecho Utinga até Tapiramutá, dívida essa do tempo do ex-governador Jaques Wagner. Ele disse, na oportunidade, que poderíamos ficar tranquilos que seríamos atendidos, essa não é a principal demanda, pois a principal é o salvamento do Rio Utinga. A estrada já não é mais um pedido é a cobrança de uma dívida.

Jornal – Sabemos que recentemente o governo do Estado anunciou diversas reformas de estradas por meio de consórcios, o município de Utinga faz parte de algum consórcio?
Joyuson – Temos uma enorme dificuldade nessa questão dos consórcios. Tenho convicção de que vencemos obstáculos através do associativismo, seja na associação ou em cooperativas. Quando se trata de município é o consórcio. Nós nordestinos temos uma dificuldade brutal em vencer a barreira do individualismo, você pode observar desde as associações de bairro ou agrícola e também nos consórcios municipais que as pessoas só se aglutinam na expectativa de uma coisa eminente a acontecer.

A associação rural só se reúne para refazer o estatuto no dia que ela sabe que o governador vai entregar tratores. Os consórcios municipais, a meu ver, têm sido uma grande decepção na Chapada Diamantina, posso até estar equivocado. Andaraí encabeçou o consórcio municipal, que só beneficiou a Andaraí. Diversos municípios foram utilizados como ‘bucha de canhão’, como se diz no linguajar popular.

Engrossamos o consórcio, onde a sua direção busca de tudo para si, e as coisas não aconteciam, isso desmotivou vários prefeitos, inclusive eu. De sorte que agora que estou voltando, já conversei com alguns companheiros, prefeitos mais próximos como Elter Bastos, de Wagner, Reinan, de Bonito, estou voltado para fazer consórcios menores, onde as nossas demandas sejam mais parecidas, as nossas necessidades sejam mais identificadas uma com as outras.

Já colocamos em prática com a casa de saúde em Salvador, uma casa excelente com carro na porta com motorista para transportar os pacientes dos dois municípios. Agora mesmo, estamos tentando trazer a coleta seletiva de lixo, mas dentro de uma parceria com os municípios de Utinga, Wagner e Bonito. Então vamos esperar até o final de 2017.

Jornal – Prefeito Joyuson, obrigado por nos receber. O senhor pode utilizar este espaço para suas considerações finais.
Joyuson – Gostaria de dizer que estamos realizados pelos trabalhos executamos nos últimos cinco meses. Não fomos tão otimistas no início, pela catástrofe que nos encontramos, pelo volume de dívidas, pela destruição do município, pelo estado da frota, pela desmotivação dos servidores públicos, pelo conjunto dessa obra destrutiva que passou aqui de 2013 a 2016.

Confesso que a gente imaginava começar a respirar pelo menos até junho de 2018. Felizmente com muito trabalho, com muita determinação, com a ajuda do Poder Legislativo, com ajuda da sociedade civil, do comércio como um todo, pelo envolvimento social, posso assim dizer que estamos com sentimento de dever cumprido.

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