A mensuração dos dados é um obstáculo ao abastecimento pleno de água e a preservação deste importante recurso natural, segundo os pesquisadores Asher Kiperstok e Maria Helena del Grande. Os especialistas em saneamento básico apontaram as consequências desta situação durante a mesa redonda Água e Saneamento Básico, parte do Encontro Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água. O evento aconteceu até o final desta sexta-feira (20) no Complexo de Multieventos da Univasf, em Juazeiro.
A engenheira química e doutora em recursos naturais Maria Helena del Grande mostrou que a falta de dados intramunicipais de saneamento contribui para uma distribuição desigual de água. Através de um estudo de caso na cidade de Campina Grande, município que sempre sofreu com a escassez hídrica, ela apontou que pessoas que moravam em locais mais altos ou mais distantes do reservatório ou tinha dificuldades de reservação (principalmente por conta de questões financeiras) sofriam mais com a falta de água.
Ela chegou a esta conclusão após pesquisa realizada durante o período de racionamento de água no município entre novembro de 2014 e junho de 2016. Durante os 21 meses em que a restrição esteve em vigor, somando-se as horas que os usuários ficaram sem água, o estudo apontou que enquanto alguns bairros chegaram a ficar tempo equivalente a 13 meses desabastecidos outros ficaram apenas 7 ou 8 meses. “Existiu uma distribuição de água desigual. O racionamento, que é aplicado como uma medida justa, era sentido de forma diferente pelos usuários”, concluiu.
Baldes furados
Os especialistas apontam que as gestões públicas como um todo não fazem a sua parte de forma adequada. Além de colocarem a culpa no usuário pela falta d’água, empresas de saneamento não dão o exemplo, não controlando as próprias perdas.
“Nós administramos sistemas que são verdadeiros baldes furados. O furo está no sistema público e o sistema diz que está nos domicílios”, apontou o engenheiro civil e coordenador da Rede Tecnologias Limpas da Universidade Federal da Bahia, Asher Kiperstok. Para ele, perdas de água durante o transporte da fonte de abastecimento até a casa dos usuários são, em média, da ordem de 40% em nível nacional. Logo, ligações clandestinas de água tem peso, mas não são o principal entrave da queda da água potável disponível.
Porém este número pode ser ainda maior, segundo ressaltou Kiperstok. Ele considera os dados de perda de água do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), que são base para políticas públicas, muito imprecisos, pois a margem de erro para estas informações é de cerca de 50%. “O grave disso é que você tem um país que não gerencia suas perdas. Se você tem uma fábrica de sapatos que tem perdas de 50% da produção, ela vai à falência”. Sem estes dados precisos, não é possível fazer um cálculo adequado sobre a renovação da rede, outra informação de que as companhias de abastecimento não produzem, segundo o engenheiro civil.
O especialista defende que os órgãos públicos de saneamento parem de buscar água cada vez mais longe, fazendo somente gestão da oferta, e faça gestão da demanda. Citando Allan Lambert, defensor da gestão da demanda, ele pontuou que é preciso admitir a falta de controle sobre as perdas de água, fazer uma mensuração da fuga destes recursos e elencar ações para resolver o problema. As informações são de assessoria.