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#Entrevista: “Tão importante quanto disputar a eleição é disputar a comunicação”, diz Franklin Martins

Lula tem todo direito de ser candidato a presidente, quem tem que decidir isso não é o juiz de Curitiba ou o TRF4, que tem que decidir isso é o povo brasileiro nas urnas | FOTO: Agnaldo Almeida |

De tiro certeiro! Foi assim a entrevista com o jornalista e ex-ministro Franklin Martins, durante o seminário ‘Comunicação e Democracia’, na Universidade Federal da Bahia (Ufba). O evento apresentou ferramentas para reflexão sobre o cenário da comunicação na contemporaneidade, suas interseções na política e seu papel nas sociedades democráticas. O comunicólogo foi um dos palestrantes no último dia de atividades, sexta-feira (18 de maio) – que também reuniu nomes importantes de diferentes setores da comunicação desde o dia 15. O Jornal da Chapada participou de alguns dos debates e gravou entrevista exclusiva com o ex-ministro, onde ele tratou de política, comunicação pública e contra hegemônica e comentou sobre assuntos debatidos na sua explanação.

Martins ainda tratou da prisão do ex-presidente petista e deixou sua opinião registrada sobre o atual cenário nacional, onde destacou o papel transformador das eleições deste ano. “Não é que não tem prova, não tem crime”, diz Franklin Martins sobre o processo que condenou Lula. O jornalista também sintetiza sua impressão do que resultou no impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT). “Acho que fizemos coisas tão importantes, mudanças tão grandes, que caímos no pecado da soberba”. Ele não deixa de falar sobre ‘fake news’, e alega que a sociedade vai cobrar que a internet seja algo positivo e que traga a verdade. “A verdade factual é o coração do jornalismo”.

Para quem não sabe, o jornalista foi comentarista político em diversos veículos, até chegar à Rede Globo em 1996. Atuou no Jornal Nacional e no Jornal da Globo até maio de 2006. Quando foi contratado como comentarista do portal IG, trabalhou ainda na Rede Bandeirantes, onde fazia comentários diários sobre política nos telejornais da casa e também no Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes. Em 2007, Franklin Martins foi convidado a ser ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo Lula e assumiu o Ministério até dezembro de 2010, tendo a função das relações do governo com a imprensa, da publicidade oficial e também do projeto de uma rede nacional pública de TV. Foi considerado pela Revista Época um dos cem brasileiros mais influentes do ano de 2009. Confira entrevista completa abaixo:

Entrevista aconteceu na última sexta-feira após palestra em seminário realizado em Salvador | FOTO: Omin Erê |

Jornal da Chapada – Como criar meios para que a comunicação chegue de forma regular e verídica para as pessoas, em tempos de redes sociais e ‘fake news’?
Franklin Martins – É fazer um bom jornalismo, um jornalismo tradicional, que quer dizer, um jornalismo que tem de dar valor aos fatos e não simplesmente valor a opiniões, ideias das pessoas. Lógico que as pessoas têm direito a dar suas opiniões, mas se você está fazendo uma reportagem, ela tem que se basear em fatos. A verdade factual é o coração do jornalismo. Como você se defende das ‘fakes news?’ É um processo de debate e discussão na sociedade, não é censurando, é um processo de debate e vão aparecendo, às vezes, aparecem plataformas na internet que checam informações inverídicas ou confirmam se elas são verídicas.

Eu acho que este é um processo natural, nós vivemos uma revolução com a internet, uma mudança brutal, é normal que a gente tenha um período assim de 15 ou 20 anos de movimentação, insegurança e também de criação. Mas eu acredito que vá se criar, porque a sociedade vai exigir que a internet seja algo que seja positivo. Também quando surgiu jornal em papel, tinha uma quantidade de jornal em papel de Pasquim que falava mentira e com o tempo isso foi morrendo.

Jornal da Chapada – O senhor falou, na plenária, que o ‘golpe’ foi dado por conta das coisas que os governos esquerdistas acertaram, mas ele se consolidou com os erros deles, quais os pontos cruciais?
Franklin Martins – Os acertos são as políticas de inclusão, de crescimento econômico, de considerar o mercado interno, de ter um projeto de incluir o povo. O povo, que para as elites brasileiras é um peso, um estorvo, se mostrou um patrimônio, um ativo, que também fez a economia crescer e fez o Brasil ser respeitado no mundo. E aí estão todas as políticas inclusivas, aí você tem aumento de salário mínimo, desemprego, Bolsa Família, Luz para Todos, cotas, transposição do São Francisco, Mais Médicos, mais universidades, mais Fies, foram dezenas de políticas e um conjunto de coisas.

Os erros, é que nós não fizemos a disputa política com a intensidade que requeria. Nós não enfrentamos a questão da democratização da comunicação, não enfrentamos a questão da reforma política, na economia nós, de certa forma, conciliamos com a política de juros muito elevados. Acho que nós fizemos coisas tão importantes, mudanças tão grandes, que nós caímos no pecado da soberba, achamos que aquilo ia durar para sempre. Mas não! O outro lado sentiu que nós estávamos desmontando aquilo que havia legitimado a opressão o tempo todo. Eles vieram com tudo, e nós não estávamos preparados.

Entrevista em vídeo gravada por Peter Shilton

Jornal da Chapada – E sobre a prisão de Lula, o que o senhor pode dizer sobre esse período do país?
Franklin Martins – Uma indignidade, porque é uma perseguição. Não é que não tem prova, não tem crime. É um apartamento atribuído, o que quer dizer atribuído? O apartamento não é dele, é da empreiteira. ‘Porque o empresário falou que a ideia era ficar o apartamento com ele’. Mas não tem nada, documento nenhum. Em nenhum lugar do mundo isso resiste a processo jurídico correto. Mas num processo de exceção comum com objetivo claríssimo de impedir que ele seja candidato a presidente.

Então nós estamos vivendo uma coisa odiosa de perseguição e acho que temos que ter, independente se a pessoa vai voltar ou não no Lula, ele tem todo direito de ser candidato a presidente, quem tem que decidir isso não é o juiz de Curitiba ou o TRF4, que tem que decidir isso é o povo brasileiro nas urnas. Esses caras não podem querer tutelar a democracia no Brasil e dizer quem pode ou não ser candidato.

Jornal da Chapada – Sobre a comunicação contra hegemônica, como é possível criar robustez para contrapor aos grandes meios de comunicação?
Franklin Martins – Acho que a gente tem que conversar mais. Houve uma fase dos blogs isolados, que cumpriu um papel muito importante, mas é preciso produzir uma informação primária. Eu acho que a gente já devia ter criado uma agência de notícias progressista no Brasil que desse informação para milhares de blogs e portais que estão por aí. Não só desse informação, mas também mobilizar esses blogs e portais para produzir informações que vão ser checadas. Eu acho que isso já passou da hora. Mas, para isso, as pessoas têm que entender que tão importante quanto disputar a eleição é disputar a comunicação.

Jornal da Chapada – Qual a importância de uma eleição com um cenário temoroso como este? E qual será o próximo passo para erguer o país?
Franklin Martins – Realizar a eleição, eleger um presidente que, em princípio, deve ser o Lula. Eleger um presidente que seja capaz de dar rumo para o país, ou seja, só o voto reorganiza o país e acaba com essa zorra que nós estamos vivendo. É isso que tem que ser feito.

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Franklin Martins foi um dos palestrantes do seminário ‘Comunicação e Democracia’ que aconteceu esta semana na Ufba | FOTO: Omin Erê |

Assista aos vídeos da palestra

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