O Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) registrou, no ano passado, o menor índice de incêndios dos últimos 16 anos e, provavelmente, o da sua história. A área total atingida foi de aproximadamente 113 hectares, o que equivale a apenas 0,07% do seu território. O resultado é considerado um avanço, visto que os incêndios florestais são considerados o maior problema da unidade de conservação (UC). Em 2017, na temporada de incêndios, que é contabilizada de fevereiro a março, foram registrados 19 focos, um número muito pequeno comparado à média histórica. No ano de 2002, por exemplo, quando os incêndios passaram a ser monitorados com maior precisão, foram registrados cerca de 250 focos, um número 13 vezes maior.
Dados coletados pela estação pluviométrica de Lençóis mostram que, apesar do clima cada vez mais seco, foi possível diminuir as áreas queimadas. Em 2015, por exemplo, quando mais de 20% da sua área foi atingida pelo fogo, caíram cerca de 730 mm de chuva, enquanto o ano 2017, apesar de ter recebido 100 mm a menos, teve quase 20 vezes menos o número de incêndios. A realização de ações integradas possibilitou a queda efetiva das queimadas, mesmo com a diminuição das chuvas decorrente das mudanças climáticas. O resultado é fruto de uma política adotada pelo Parque Nacional ao longo das últimas décadas, marcada pela retirada do gado da serra em 2002 e que começa a se consolidar.
A ampliação da equipe de analistas ambientais que atuam na unidade, em 2016, é outro marco que contribuiu consideravelmente para o processo. Foi quando o PNCD passou a ter um gerente do fogo, ou seja, um profissional, perito em incêndios florestais, com dedicação quase que exclusiva ao tema. A partir disso, foi possível realizar uma série de investimentos em áreas estratégicas, como a implantação de um sistema de comunicação, a realização de cursos para qualificação profissional e a aquisição e manutenção de equipamentos. A gestão passou, então, a atuar de forma equilibrada em três pilares fundamentais: monitoramento, combate e investigação.
Esse conjunto de ações foi percebido claramente “no tempo de resposta aos incêndios”, afirma o gerente do fogo, Luiz Coslope. “Eles se tornaram muito mais rápidos. Nossa brigada passou a ser acionada imediatamente após os focos serem detectados, impedindo que se alastrassem”, explica. Somado a isso, foi possível também conter incêndios de grande proporção localizados em áreas vizinhas, como o que ocorreu na região da Chapadinha, no final de 2017. “Apesar de ter atingido mais de 800 hectares, conseguimos proteger o Parque Nacional e impedir que o prejuízo fosse ainda maior”, destaca Coslope.
Rapidez no combate
O monitoramento constante em pontos estratégicos do Parque Nacional, entre os meses de julho a fevereiro, unido à cobertura de sinal de rádio em 40% do território da unidade de conservação é atribuído pela gestão como uma das ações que mais tem contribuído para o sucesso dos combates. A inauguração de uma base para a brigada em Mucugê também foi essencial para a agilidade no deslocamento até os incêndios na região sul. “Além disso, não houve nenhuma limitação de transporte e alimentação nesse período”, destaca Coslope.
Mudança cultural
Outro fator considerado relevante para o bom resultado, é que a população está mais consciente e cooperante em diversos aspectos. “Ela deixou de fazer queimadas e passou a dar apoio no combate e na denúncia aos infratores. Além disso, muitas atividades realizadas dentro do Parque Nacional, que sempre utilizaram o fogo, estão deixando de existir, como o garimpo, a criação de animais e a coleta de sempre-vivas”, afirma o gerente do fogo. Segundo o biólogo Roy Funch, primeiro chefe da unidade de conservação, “a utilização do fogo, para limpar áreas e renovar pastagens, existe desde quando o Parque Nacional foi criado, em 1985. É um aspecto da cultura local, não é por maldade”.
Ele conta que os incêndios eram tão corriqueiros e sem importância que “um único foco era capaz de atravessar a unidade. Nada o impedia. Eu já vi um fogo começar no Vale do Morrão, passar pelo Vale do Pati, e quase chegar a Mucugê”, conta Funch. Por isso, opina o biólogo: “certamente o índice de 2017 é o mais baixo da história”, decorrente também de uma transformação longa na relação do morador com o seu meio. As informações são do ICMBio.