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#Salvador: Chacina do Cabula completa quatro anos e familiares fazem homenagem às vítimas

O MPF pediu a federalização do caso, ou seja, que as acusações fossem julgadas na Justiça Federal, mas a solicitação foi negada pelo STJ | FOTO: Reprodução/Carlos Alberto |

Enquanto gritava ‘Presente!’ após o nome de Caique Bastos dos Santos ser anunciado em uma espécie de chamada, Alba se emocionou. Ao ouvir Agenor Vitalino dos Santos Neto ser chamado, seu Brígido trocou o semblante até então sereno pelo de alguém que estava segurando o choro. Alba Gomes e Brígido dos Santos são mãe e pai de Caique e Agenor, respectivamente. Na última quarta-feira (6), completou quatro anos que os dois morreram. Foram vítimas de uma ação policial ocorrida na madrugada de 6 de fevereiro de 2015, na Vila Moisés, no Cabula. Outras dez pessoas foram mortas pelas mãos de PMs naquele episódio, que ficou conhecido como Chacina do Cabula.

Nesta quarta, Alba e Brígido voltaram ao local em que tudo aconteceu, um pequeno campo de futebol, na Vila Moisés. Lá foi instalado um monumento de mármore branco, que se tornou um memorial em homenagem às vítimas da chacina. Os dois participaram de um tributo aos mortos naquela madrugada que, para eles, nunca acabou. “Dentro desses quatro anos, eu entrei em depressão. Faço acompanhamento psicológico até hoje”, contou Alba em entrevista ao BNews. Na época da chacina, seu filho Caique tinha 16 anos. Era o mais novo entre os mortos.

“Durante três anos, não tive condições psicológicas de me empregar”, relatou Brígido, que perdeu o filho de 19 anos. Além dos jovens, morreram também na ação da PM Evson Pereira dos Santos, 27 anos, Ricardo Vilas Boas Silvia, 27, Jeferson Pereira dos Santos, 22, João Luis Pereira Rodrigues, 21, Adriano de Souza Guimarães, 21, Vitor Amorim de Araujo, 19, Bruno Pires do Nascimento, 19, Tiago Gomes das Virgens, 18, Natanael de Jesus Costa, 17, e Rodrigo Martins de Oliveira, 17.

Do tributo, organizado pelo movimento Reaja ou Seja Morto, Reaja ou Seja Morta, que atua no combate ao genocídio do povo negro, participaram também parentes de Caique e Agenor. Como o ato ocorreu por volta das 10h, muitos familiares de outras vítimas não puderam comparecer, em razão de compromissos pessoais ou de trabalho. O monumento recebeu ao seu redor rosas e velas brancas como homenagem aos mortos.

Espera por justiça
Há quatro anos tendo que lidar com a ausência dos filhos, só restam para Alba e Brígido esperarem por uma justiça que, segundo eles, ainda não veio. Denunciados por homicídio pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), que encontrou indícios de execução sumária na ação, os nove PMs envolvidos no caso chegaram a ser absolvidos sumariamente em uma sentença-relâmpago dada pela juíza Marivalda Moutinho. Polêmica, a decisão foi anulada em setembro do ano passado pela Primeira Turma da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).

O Ministério Público Federal (MPF) pediu a federalização do caso, ou seja, que as acusações fossem julgadas na Justiça Federal, mas a solicitação foi negada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que reconheceu que a sentença havia sido anulada pelo TJ-BA, possibilitando um novo julgamento para os policiais. O processo foi remetido à primeira instância da Justiça Estadual.

Sobre isso, Alba mostrou um certo ceticismo em relação à capacidade do Judiciário baiano de punir os PMs. “A Justiça da Bahia só tem competência pra julgar a Barra, a Pituba. As periferias, não. Eu acredito que a Justiça de Deus tarda, mas não falha”, criticou. Já Brígido mostrou mais otimismo. “Estou confiante na Justiça. Não vai trazer de volta, mas, com fé em Deus, vamos concluir isso”, afirmou. A matéria foi extraída na íntegra do site BNews.

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