Foi forte o coro de “Lula livre” na abertura da 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Teatro Castro Alves. No mesmo dia, horas antes, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva havia sido condenado a 12 anos e 11 meses de prisão pelo caso do Sítio Atibaia. Homenageado do evento, o cantor e compositor Gilberto Gil respondeu aos gritos da plateia com um suave “Tomara que chegue a hora”. Antes de Gil subir ao palco, as atenções voltaram-se a líderes da esquerda presentes no teatro, como o candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos, e a candidata à vice-presidência na chapa do PT, Manuela d’Ávila (PCdoB). Feito celebridades, os políticos foram cercados por estudantes dispostos a tudo para conseguir uma selfie.
A vice-presidente da UNE, Jessy Dayane, deu o tom do evento. “Nós acabamos de ser derrotados nas eleições. Poucos meses depois, na Bahia, terra de muita resistência, a gente reúne uma ruma de mulher, de bicha, de sapa, de trans, de bi, de preto e preta, para dizer: Tirem as mãos da educação. Nós resistiremos”. Gil também ressaltou uma certa singularidade baiana em meio ao atual cenário nacional. “Num momento como esse, com esse conservadorismo e esse reacionarismo todo que a gente respira por aí, intoxicante, o resto do Brasil instintivamente se volta para aquele lugar em que o espírito respira um ar ainda puro. Essa é a Bahia”.
O cantor participou de uma espécie de ‘talk show’ com a pesquisadora Ana de Oliveira, que o apresentou como “o maior de uma geração que melhor sonhou o Brasil”. Eles revisitaram o livro “Disposições Amoráveis”, publicado em 2015 pela dupla, e lançado ontem em Salvador. No livro, Gil fala sobre espiritualidade, cultura, raça, tropicalismo e sustentabilidade, temas que voltaram a ser abordados ontem. Pedro Gorki, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), perguntou a Gil sobre como responder ao crescimento de discursos racistas, machistas e homofóbicos, e o cantor preferiu explicar de onde eles nascem.
“Esses discursos partem de gente conservadora, reacionária, que não quer permitir ao Brasil a condição de vanguarda. Gente que quer ser os Estados Unidos da América. Mas o destino do Brasil é mais além disso”.
A conversa teve intervenções musicais do baiano Tiganá Santana, que cantou músicas de Gil. O cantor não se aguentou e acompanhou as canções com uma luxuosa segunda voz. Ao final do evento, Gil fez uma rápida apresentação cantando Tempo Rei e Domingo no Parque. Jornal da Chapada com informações de A Tarde.