Todos os dias, a partir das 16h, Jainara Miranda vai para um ponto de parada de ônibus escolar que fica a cerca de 100m de sua casa, em Irecê. Ela é mãe de um menino de 7 anos de idade, aluno da Escola Municipal Tenente Wilson M. Moitinho, que fica no município. O veículo que faz o transporte escolar chega no bairro da família até por volta das 17h. Essa rotina foi quebrada na última segunda-feira (11). O ônibus chegou, a porta se abriu, alunos desceram, mas o filho de Jainara não.
Apavorada, ela perguntou ao motorista sobre o filho. Este respondeu que não sabia de nada. Jainara ligou imediatamente para o marido, que deixou o trabalho e foi até a escola. Lá também ninguém sabia de nada, nem a direção do estabelecimento estava presente. Samuel começou a procurar seu filho pelas ruas da cidade, principalmente naquelas que dão acesso ao bairro onde mora, conhecido como Loteamento Washington.
O que aconteceu
O filho de Samuel e Jainara, ao sair da escola às 16h, não recebeu nenhum tipo de orientação sobre qual dos ônibus deveria tomar para dirigir-se à sua casa. Ele escolheu um dos dois que lá estavam, segundo as informações. Era o ônibus errado. Em vez de ir rumo ao seu bairro, esse veículo seguiu em sentido contrário, com alunos que moram em outra região da cidade, cerca de quatro quilômetros de onde ele mora. Ao perceber que não era o caminho da sua casa, a criança desceu do ônibus. Outra vez ninguém o orientou. Os ônibus e vans que servem ao transporte escolar em Irecê não contam com monitores.
O menino começou a perambular pelas ruas entre os bairros Ieda I e Severiano Moitinho. Nisso, foi avistado por uma mulher, que percebeu que algo estava errado. Essa mulher, que não teve o nome divulgado, resolveu abordar a criança e descobriu que ela estava perdida. A mulher resolveu levá-lo a uma loja na área central da cidade, onde trabalha. Lá, começaram a divulgar nas redes sociais fotos da criança que, desesperada, não sabia dizer em qual escola estudava. Sem uniforme, estava difícil a identificação. Foi então que lembraram de verificar o seu material escolar, na mochila. Descoberto o nome da escola, ligaram para lá. Já era cerca de 17h30.
Conhecendo o paradeiro do aluno, a escola enviou o mesmo porteiro (conhecido como ‘Dourado) que não teve o cuidado de orientar os alunos na saída das aulas, para encontrar a criança. Segundo as informações, lá, ele chegou dando “broncas” no estudante, o acusando de ser o culpado por pegar o ônibus errado e também descer em lugar estranho. De volta à escola, onde a mãe e os avós maternos do menino aguardavam em desespero, outra bronca: desta vez dirigindo-se a Jainara e seus pais, Dourado os pressionou dizendo que “não deveriam ter procurado a rádio” para denunciar o fato. “Ele foi muito agressivo”, contou Jainara.
A criança foi devolvida à família quase às 18h. Até o fechamento desta reportagem ninguém da escola, da Secretaria da Educação ou da prefeitura havia ligado para, ao menos, pedir desculpas à família. Em entrevista ao jornalista Eraldo Maciel, o advogado Álvaro Carvalho disse que pode estar caracterizado o crime de “abandono de incapaz”, por parte da escola. Para ele, “a responsabilidade da escola só termina quando a criança está entregue aos pais ou responsável”. Jornal da Chapada com as informações de Líder Notícias.