O governo brasileiro mais uma vez deixou os estrangeiros perplexos. Desta vez os diplomatas brasileiros começaram a implementar na última quinta-feira (27) instruções do Itamaraty de vetar qualquer referência ao termo “gênero” em resoluções da ONU. Numa reunião para negociar uma das resoluções em Genebra, a nova posição do Brasil abriu um debate inédito com europeus, que insistiram que não iriam retirar o termo “gênero” do texto. A posição do chanceler Ernesto Araújo, ironicamente, foi apoiada por governos como o da Rússia, Paquistão e da Arábia Saudita.
Enquanto o Brasil falava, delegações estrangeiras literalmente abriam a boca de surpresa, se olhavam de forma assustada e combinavam reações imediatas, enquanto outros suspiravam para lamentar a nova posição nacional. No total, mais de 14 referências ao termo “gênero” foram vetados durante os encontros pelo governo brasileiro até agora. Na visão do governo brasileiro, gênero é uma construção social e o que deve prevalecer é a realidade biológica.
A intervenção do Brasil abriu uma discussão. O governo da Noruega pediu que o termo “gênero” fosse mantido no texto. A mesma posição foi tomada por França, Finlândia, Dinamarca e Suíça. O governo australiano ainda fez uma intervenção, apelando de forma enfática para que a linguagem do texto não fosse modificada. Quando esse debate acabou e a presidência da reunião passou a avaliar outros trechos da resolução, uma vez mais foi o Brasil que tomou a palavra para pedir que a frase “vulnerabilidade à violência sexual e com base em gênero” fosse simplesmente eliminada do texto.
Os governos da Noruega, Suíça, França, Austrália e Canadá rapidamente pediram a palavra para insistir que não aceitariam a retirada da frase. O mesmo padrão de debates ocorreu instantes depois, ao se debater mais um artigo da resolução. Os autores da proposta indicaram ao Brasil que aquela linguagem era a mesma que existia nas resoluções aprovadas por consenso nos anos anteriores e que se sentiriam “desconfortáveis” em mudar.
Enquanto o debate continuava, os vetos impostos pelo Brasil se ampliavam. Num outro trecho, o governo de Jair Bolsonaro pediu que o termo “violência com base em gênero” fosse trocado por “violência sexual”. Dinamarca, Noruega, Guatemala, França e Panamá rejeitaram a ideia brasileira. A onda de vetos do Brasil não deixava passar nenhuma frase do texto em que os termos de desagrado do Itamaraty fossem identificados.
Numa outra parte do projeto de resolução, o Brasil pediu a exclusão das frases “desigualdades com base em gênero” e mesmo “serviços de saúde sexual e reprodutivo”. Mais uma vez, países ocidentais defenderam a manutenção da linguagem do texto como está. Quem apoiou o Brasil, porém, foi o governo saudita. Jornal da Chapada com informações de UOL.