Nascido em Salvador, mas criado em Seabra, na Chapada Diamantina, o biólogo Henrique Jesus de Souza é hoje umas das referências mundiais do estudo dos murundus, unidades de relevo formadas por cupins com cerca de 9m de diâmetro e 2,5 m de altura, muito comuns no semiárido brasileiro, especialmente na Bahia e em Minas Gerais. A origem desses montículos divide os estudiosos do solo em todo o mundo, mas sua dedicação ao assunto, refletida no doutorado em Ecologia e no mestrado em Ecologia e Biomonitoramento pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), têm tudo para ajudar a desvendar os mistérios por trás deste grande enigma.
O site Correio 24h entrevistou o pesquisador, que também é especialista em Ecologia e Intervenções Ambientais pela Unijorge, para saber mais detalhes sobre os estudos que vêm sendo desenvolvidos em torno das formações que aparecem em quase todo o território baiano. “Estamos diante de um dos maiores exemplos de ‘engenharia de ecossistemas’ do planeta! Essa informação já havia sido apresentada à comunidade científica no artigo que publicamos no periódico Annales de la Société Entomologique de France em 2016, onde mapeamos uma distribuição geográfica real de 230.000 km², e estimamos uma distribuição geográfica potencial de 270.000 km² de murundus no semiárido”.
“É surreal pensar que nós, habitantes desta região, passamos a vida inteira rodeados, e no caso de algumas localidades, literalmente dentro de metrópoles construídas por organismos tão pequenos quanto os cupins engenheiros. “Engenheiros de ecossistemas”, na ecologia, são organismos que diretamente ou indiretamente influenciam a disponibilidade e o fluxo de recursos para outras espécies, além deles próprios, por causar alterações físicas em materiais bióticos e abióticos”, diz Henrique.
De acordo com o biólogo, “os cupins são considerados ‘engenheiros de ecossistemas’ principalmente por causa da sua capacidade de modificar fisicamente o ambiente em que vivem a partir da produção de estruturas biogênicas [montículos, ninhos, câmaras, galerias, túneis, etc]. No caso dos murundus, são milhares de estruturas distribuídas em uma área correspondente a 27% do bioma Caatinga e equivalente a pouco mais de duas vezes o território de Portugal, ou ao espaço que poderia ser ocupado por mais de 1.200 estádios do Maracanã [um dos maiores estádios de futebol do mundo!]”.
Ainda segundo Henrique, “os modelos fornecem evidências consistentes de que as distribuições geográficas de murundus e de quatro espécies de cupins construtores de montículos no semiárido brasileiro estão em equilíbrio com o regime climático atual [o qual já estava estabelecido pelo menos há 6.000 anos, conforme dados climáticos da base WorldClim] e a disponibilidade de nutrientes no solo, sendo os murundus, possivelmente, uma resposta adaptativa de cupins construtores de montículos às condições ambientais regionais”.
Leia a entrevista completa no site do Correio 24h…