Por Wagner Siqueira*
A corrupção é pré-requisito do desenvolvimento, já dizia Gunnar Myrdall, Prêmio Nobel de Economia, em 1974. Ou seja, esse mal é algo comum e enraizado na sociedade de modo geral. No entanto, o grande problema está na impunidade. A complacência com a corrupção tem sido o grande veneno dos governos.
Os efeitos colaterais são diversos. Eles geram as crises do nosso tempo, como a corrupção generalizada (tanto a governamental quanto a empresarial) e a escassez de líderes. Por exemplo, no lado social, observa-se as massas abandonadas sofrendo com a desigualdade. Na questão moral, provoca o aumento da hipocrisia e o cinismo diante dos fatos do cotidiano.
Da crise econômica, emerge o descontrole das variáveis financeiras. Essas questões muitas vezes são provocadas por conta do alto custo do desperdício e da irracionalidade de gestão, que acabam sendo mais danosos do que a corrupção. Tais fatores criam uma verdadeira montanha russa na vida de milhares de pessoas.
Outro dilema encontra-se entre a formação de gerentes e líderes. A sociedade tem capacitado gerentes eficazes, mas tem negligenciado a formação de lideranças. É só notar como tem se falado tanto em líderes e liderança. Porém, nunca se formou tantos gerentes para a conformação e a rotina.
Isso provoca ainda mais lacunas. Por exemplo, fala-se tanto em empreendedorismo e atitude empreendedora. Mas ainda se insiste em manter ambientes organizacionais que não dão espaço para voz e para participação de outros. Além disso, esquece-se de valorizar a contribuição e a liberdade de inovar e de ousar.
Esses problemas são fruto da erosão da autonomia institucional, a qual é tolhida de inúmeras formas. São as exigências governamentais e legais, os excessos de repartições burocráticas, as normas sindicais, as relações de trabalho conflitantes, as pressões de grupos de interesse contraditórios entre outros.
A reforma do governo é, de fato, bem mais difícil do que no setor privado. Os burocratas padecem de apego profissional pela homogeneidade. Há uma regra de ouro na gestão pública que precisa ser quebrada: nunca faça nada pela primeira vez.
Para se exercer a verdadeira gestão pública nos tempos que vivemos, é essencial encarar a inteligência artificial como o grande agente de mudança para acabar de vez com a burocracia. Infelizmente, o setor público não se mexe na era do Google.
É fundamental ressaltar ainda que somente a democracia tem o compromisso com a gestão pública, pois ela está sempre a serviço da cidadania, promovendo melhores condições para os cidadãos. Ela busca a garantia dos direitos individuais, o bem comum e o interesse coletivo. O mais importante: a gestão ágil, correta e justa cria obstáculos à corrupção.
(*)Conselheiro federal pelo Conselho Regional de Administração (CRA-RJ) e membro do conselho consultivo da região Metropolitana do Rio de Janeiro.