Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última quarta-feira (13) afirmam que a pobreza na Bahia é maior entre pretos ou pardos e mulheres solteiras com filhos menores de 14 anos. A informação veio logo depois do próprio IBGE apontar que a Bahia é o estado do Brasil com os maiores números absolutos de pessoas pobres (6,3 milhões) e extremamente pobres (1,9 milhão).
Os novos dados, referentes a 2018, são do estudo intitulado “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, que analisa, pela ótica da cor ou raça, uma série de temas contemplados no Programa de Atividades para a Implementação da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), aprovado pela ONU com o objetivo de promover o respeito à proteção e o cumprimento de direitos humanos.
Em 2018, o percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza voltou a recuar tanto na Bahia quanto em Salvador e no Brasil, após ter aumentado por três anos seguidos (2015, 2016 e 2017), segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2019, divulgada pelo IBGE na semana passada.
Na Bahia, no entanto, conforme o estudo, 42,9% da população como um todo ainda estava abaixo da linha de pobreza em 2018, o que representava 6,3 milhões de pessoas vivendo com menos de R$ 413 por mês (US$ 5,5 por dia em paridade de poder de compra, segundo a linha definida pelo Banco Mundial).
O percentual de pessoas abaixo da linha de pobreza entre os que se declaravam pretos ou pardos era ainda maior que a média: 43,8%, ou 5,3 milhões eram considerados pobres. Entre os brancos, o percentual de pobres era 38,6% ou 1,032 milhão de pessoas.
O rendimento médio domiciliar per capita de pretos ou pardos é cerca de 30% menor que o dos brancos na Bahia e quase metade (-47,3%) em Salvador. Na capital, a desigualdade salarial por cor ou raça supera a causada pela informalidade, e trabalhadores brancos informais ganham, em média, 5,3% mais que pretos ou pardos formalizados.
Apesar da desigualdade, a diferença na incidência de pobreza entre brancos e pretos ou pardos (5,2 pontos percentuais) era a terceira menor entre os estados, ficando acima apenas de Mato Grosso (onde 11,8% dos brancos e 16,2% dos pretos ou pardos estavam abaixo da linha de pobreza) e do Distrito Federal (10,0% e 15,1%, respectivamente).
Em Salvador, enquanto 22,3% da população total da capital baiana estavam abaixo da linha de pobreza em 2018 (637 mil pessoas), entre as pessoas brancas o percentual caía para 15,2% (71 mil). Entre as pretas ou pardas o percentual subia para 23,6% (558 mil). Era a 19ª maior diferença (8,4 pontos percentuais) entre as 27 capitais.
No Brasil, a incidência de pobreza entre pretos ou pardos (32,9%) era mais que o dobro da verificada entre os que se declaravam brancos (15,4%). Conforme o IBGE, como a incidência de pobreza entre pretos ou pardos é maior que entre os brancos, eles acabam sendo representados entre os que são considerados pobres, ou seja, têm uma participação percentual maior entre os que estão abaixo da linha de pobreza do que na população total.
Na Bahia, essa sobre representação era mais discreta: os pretos ou pardos eram 82,7% dos que estavam abaixo da linha de pobreza, frente a 81,1% da população em geral (mais 1,6 ponto percentual). Era a menor sobre representação entre os estados brasileiros.
Em Salvador, a diferença entre a participação de pretos ou pardos na população total (82,8%) e entre os que estavam abaixo da linha de pobreza (87,6%) era maior (mais 4,8 pontos percentuais). Ainda assim, era a terceira mais baixa entre as capitais, acima apenas das verificadas em Macapá (AP) — onde pretos ou pardos eram 78,2% da população e 81,0% daqueles abaixo da linha de pobreza –, e Cuiabá/MT (71,1% e 74,6%, respectivamente).
Mães solteiras
O IBGE aponta que a pobreza atinge seu mais alto patamar num grupo específico de pretos ou pardos: mulheres que vivem sem a presença de cônjuge e com filhos menores de 14 anos de idade, ou seja, mães solteiras negras.
Em 2018, na Bahia, quase oito em cada 10 pessoas que viviam nesse tipo de arranjo familiar estavam abaixo da linha de pobreza, ou seja, 75,1% das mães solteiras pretas ou pardas e seus filhos tinham menos de R$ 413 por mês, o que significava 682 mil pessoas nessa condição.
Esse grupo representava 1 em cada 10 pobres na Bahia (10,8%), enquanto era 6,1% da população em geral, mostrando, conforme o IBGE, uma sobre representação abaixo da linha de pobreza de mais 4,6 pontos percentuais, bem acima da verificada para a média dos pretos ou pardos (+ 1,6 ponto percentual).
A vulnerabilidade dessas famílias à pobreza era maior na Bahia que no país como um todo. No Brasil, embora as mães solteiras pretas ou pardas também apresentassem em 2018 a maior incidência de pobreza, o percentual era mais baixo que o baiano (63,0%). Jornal da Chapada com informações de G1BA.