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Polícia investiga se miliciano tinha esquema de lavagem de dinheiro em cidades baianas

Adriano Magalhães da Nóbrega, miliciano e chefe do Escritório do Crime | FOTO: Reprodução |

A polícia da Bahia investiga se o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em ação policial na Bahia, participava de algum esquema de lavagem de dinheiro em Mata de São João, na região metropolitana de Salvador, e também em Esplanada. A informação foi divulgada pela Secretária de Segurança Pública (SSP-BA), nesta quarta-feira (12).Também nesta quarta, a funerária da cidade de Alagoinhas, a cerca de 100 Km de Salvador, onde o corpo de Adriano estava, afirmou que o corpo foi transferido para o Rio de Janeiro em um voo que decolou por volta das 23h de terça-feira (11).

De acordo com a SSP, o objetivo da investigação, coordenada pelo Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), é apurar se houve algum tipo de investimento, compra ou transação que caracterize o crime investigado, além de outros tipos de ato ilícito. Adriano foi morto em um confronto com policiais militares no domingo (9), em um sítio na zona rural de Esplanada, a cerca de 168 km de Salvador. O sítio pertence a um vereador do PSL na Bahia, que em nota afirmou não conhecer Adriano.

O vereador Gilson Neto disse ainda que solicitou à Secretaria de Segurança Pública da Bahia brevidade nas investigações e destacou que está à disposição das autoridades competentes “para colaborar para que os fatos sejam esclarecidos com máxima brevidade”. Após investigações do serviço de inteligência do Rio de Janeiro, o segurança do miliciano, Leandro Abreu Guimarães – solto nesta quarta-feira (12), após pagar uma fiança no valor de R$3 mil- foi achado pela polícia em uma casa distante alguns quilômetros do sítio. Segundo Maurício Barbosa, secretário de Segurança Pública da Bahia, que conversou com a imprensa na segunda-feira (10), o segurança contou aos policiais que não sabia do histórico de crimes do miliciano.

Miliciano foi encontrado com quatros armas e 13 celulares | FOTO: Divulgação/SSP-BA |

Caso
Foragido há mais de um ano, Adriano era alvo de mandado de prisão expedido em janeiro de 2019. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro passou a ser monitorado por equipes do órgão a partir de informações de que ele teria buscado esconderijo na Bahia. O advogado de Adriano disse que o miliciano temia ser alvo de uma “queima de arquivo”.

Em nota, a SSP-BA afirmou que Adriano era suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. O nome do miliciano, no entanto, não consta do inquérito que investiga a morte da vereadora. Segundo a Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro (Sepol), Adriano da Nóbrega era investigado havia um ano pelo setor de inteligência do órgão e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Ao longo desse período, os agentes monitoraram o ex-policial militar para localizá-lo.

Adriano era um dos denunciados da Operação Intocáveis, coordenada pelo Gaeco do Rio de Janeiro. Quando ela foi deflagrada, em janeiro de 2019, uma força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu cinco homens acusados de integrar milícia que atuava em grilagem de terra, agiotagem e pagamento de propina em Rio das Pedras e na Muzema, duas favelas de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. O ex-policial era um dos três integrantes considerados chefes do grupo e o único foragido daquela operação.

Escritório do Crime
Ex-capitão da tropa de elite da PM do Rio de Janeiro, Adriano Magalhães da Nóbrega aparece nas escutas telefônicas do Ministério Público como Capitão Adriano ou Gordinho. Suspeito de de comandar um grupo que cometeu dezenas de homicídios, o Escritório do Crime, o miliciano era considerado violento por policiais e investigadores. Adriano da Nóbrega era suspeito de chefiar matadores, foi expulso da PM e homenageado duas vezes por Flávio Bolsonaro

Ex-capitão do Bope, foi expulso da PM por envolvimento com jogo de bicho e recebeu homenagem, mais de uma vez, pelo hoje senador e então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ao menos desde 2003, o ex-PM estava envolvido com problemas na Justiça ou com a polícia. Foi preso duas vezes por suspeita de ligação com a máfia de caça-níqueis. Em 2011, foi detido na Operação Tempestade no Deserto, que mirou a cúpula do jogo do bicho.

Na época, a investigação apontou que ele era segurança de José Luiz de Barros Lopes, bicheiro conhecido como Zé Personal, morto naquele mesmo ano. Segundo o MP, o ex-capitão também era o responsável pela segurança da esposa de Zé Personal, Shanna Harrouche Garcia, filha do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004.

Veja a linha do tempo abaixo:
1. Maio de 2003 – um técnico de refrigeração foi morto durante uma operação policial na Cidade de Deus.
2. Quase 17 anos após o homicídio, o inquérito ainda não foi concluído. Os acusados são dois policiais militares que, na época, pertenciam ao mesmo batalhão: Adriano da Nóbrega e Fabrício Queiroz, que anos depois ficaria conhecido pela suposta participação no esquema das “rachadinhas” da Alerj.
3. Outubro de 2003 – o deputado estadual Flávio Bolsonaro fez a primeira homenagem ao então tenente Adriano da Nóbrega. Uma moção de louvor em que destacou que o militar desenvolvia sua função com “dedicação” e “brilhantismo”.
4. Janeiro de 2004 – Adriano foi preso por outro crime: a morte de um guardador de carros que, na véspera do assassinato, tinha denunciado um grupo de milicianos.
5. Junho de 2005 – o deputado Flávio Bolsonaro fez nova homenagem a Adriano da Nóbrega, com a mais alta honraria da Alerj. O homenageado não compareceu à Assembleia para receber a Medalha Tiradentes porque continuava preso.
6. Outubro de 2005 – Adriano foi condenado pelo homicídio em júri popular. Quatro dias depois da condenação, o então deputado federal Jair Bolsonaro fez um discurso na Câmara dos Deputados em defesa de Adriano. Bolsonaro contou que compareceu ao julgamento do PM, segundo ele, um “brilhante oficial”.
7. 2007 – Adriano recorreu da sentença e foi absolvido em novo julgamento. No mesmo ano, o ex-colega dele no Batalhão de Jacarepaguá, Fabrício Queiroz, já expulso da polícia, passou a trabalhar no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro, Queiroz indicou a ex-mulher de Adriano da Nóbrega, Daniele Mendonça, que foi contratada como assessora do gabinete.
8. Setembro de 2008 – Adriano da Nóbrega voltou a ser preso, por um atentado ao pecuarista Rogério Mesquita, inimigo de bicheiros.
9. Dezembro de 2013 – Adriano foi expulso da PM do RJ por envolvimento com o jogo do bicho, mas não foi condenado por este crime na Justiça.
10. Abril de 2016 – A mãe de Adriano, Raimunda Magalhães, foi nomeada assessora de Flávio Bolsonaro.
11. Dezembro de 2018 – começou a investigação sobre as rachadinhas na Alerj. De acordo com o Ministério Público, Adriano era um integrante da organização criminosa que agia no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro. E recebia parte de recursos vindos da “rachadinha”. Segundo as investigações, o esquema seria operado pelo amigo de Adriano dos tempos da PM, Fabrício Queiroz.

O presidente Bolsonaro com o amigo Queiroz | FOTO: Divulgação |

Caso Queiroz
Segundo investigações do Ministério Público, Adriano era amigo do ex-PM Fabrício Queiroz, ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro. A mulher e a mãe de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães, trabalharam no gabinete de Flávio. A mãe de Adriano e a ex-mulher dele receberam de R$ 1 milhão em salários, mas não apareciam para trabalhar. Desse total, R$ 200 mil foram transferidos para contas de Fabrício Queiroz. Outros R$ 200 mil foram sacados em dinheiro vivo. Os promotores acreditam que essa quantia foi repassada em mãos para o esquema.

Queiroz teria inclusive recebido repasses de duas pizzarias controladas por Adriano: a Pizzaria Tatyara Ltda repassou R$ 45.330, o Restaurante e Pizzaria Rio Cap Ltda enviou R$ 26.920. O MP suspeita que Adriano seja sócio oculto dos dois estabelecimentos. Formalmente, contudo, o ex-policial não aparece no quadro societário das empresas. Quem aparece é a mãe dele, Raimunda. Os promotores investigam se o saque de R$ 202 mil das contas de Danielle e Raimunda foram entregues em mãos a Fabrício Queiroz, evitando assim qualquer rastro dos repasses.

A Justiça autorizou a quebra do sigilo telefônico de Adriano da Nóbrega. As conversas interceptadas pelos promotores indicaram que ele orientou a ex-mulher a não prestar depoimento. Numa mensagem entre Adriano e a ex-mulher Daniele, o ex-capitão admitiu que recebia parte dos desvios de salários da Alerj. Mas os promotores desta investigação não conseguiram fazer novas buscas para obter mais provas contra Adriano. Ele estava foragido, e o último paradeiro só foi descoberto neste domingo (9). As informações são do G1.

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