Por Joy de Utinga*
Infelizmente, não falo do popular jogo de cartas do baralho, mas de um jogo muito mais profundo, complexo e desafiador; o jogo de poder e interesses regionais que a política impõe. As grandes barragens, os hospitais regionais, os institutos federais, as policlínicas e as universidades públicas têm chegado, ainda que tardiamente, ao interior baiano. Observem, porém, que, primeiro no Recôncavo, depois no Sul, no Norte, no Oeste e, sempre por último, no Centro da Bahia, em nossa linda e elogiada (pelas belezas naturais), Chapada Diamantina.
O aeroporto de Lençóis, décadas depois, ainda não recebe voos regulares, o Ifba, recém-chegado em Itaberaba, ainda é um neófito, as policlínicas, já estão envelhecendo em várias regiões da Bahia, para nós, ainda uma promessa. As universidades públicas, mormente as federais, já senhoras em Cruz das Almas, Sul da Bahia, Juazeiro, Barreiras, Vitória da Conquista, entre nós chapadeiros, mais parecem um sonho turvo distante.
“Os últimos serão os primeiros”. Será? Nestes casos, os últimos serão mesmo os últimos, lamentavelmente! Itaberaba, Boa Vista do Tupim, Itaetê, Ruy Barbosa, Tapiramutá, Bonito, Wagner, Lajedinho, Ibiquera, Nova Redenção, Andaraí, Mucugê, Lençóis, Palmeiras, Iraquara, Utinga, dentre outras. Quase 300 mil habitantes que têm na agricultura e pecuária os seus pilares econômicos, entretanto, sem qualquer curso superior de agronomia ou veterinária.
Estamos mesmo no ‘Buracão’, e não estou falando da belíssima cachoeira, falo do abandono, da desinformação e da condenação ao atraso. Condição que nos impede de viver melhor e de aprendermos a nos autovalorizarmos, inclusive na hora de mobilizarmos forças econômicas, sociais e, acima de tudo, políticas para disputarmos esse jogo profundo e complexo de poder, que chamo de ‘Buraco’, sem a parte divertida do jogo!
O município de Utinga, bem no centro desse polígono, abriga uma fazenda do Estado, com excelente estrutura que está semiabandonada. A população pleiteia e sonha com um campus de agronomia. Infelizmente, nossas vozes, com sotaque chapadeiro, não ecoam, uníssonas, nos gabinetes de quem decide os destinos do Estado e da Nação.
Enquanto isso, dispersos, joguemos ‘buraco’! Acorda meu povo, juntemos forças em torno de nós mesmos ou não sairemos desse ‘buraco”!
*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.