O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) informou que a quantidade de óleo encontrada próximo ao navio Stella Banner é estimada em 333 litros e que o material se espalhou numa área de 0,79 km². A embarcação segue encalhada a cerca de 100km da costa do Maranhão. A estimativa da quantidade de óleo foi calculada a partir de dados obtidos pelos sensores de detecção de óleo da aeronave Poseidon, que sobrevoou o local.
Ainda segundo o Ibama, o óleo saiu do porão da embarcação e solicitou aos responsáveis pela contenção da emergência que realizem a dispersão mecânica do resíduo. O navio carregado com toneladas de minério de ferro começou a afundar por causa de ao menos dois buracos em sua estrutura no Oceano Atlântico, próximo ao litoral do Maranhão. A embarcação foi abastecida com minério da Vale e saiu do Terminal Portuário da Ponta da Madeira, em São Luís. O destino era um comprador em Qingdao, na China
Notificações
O Ibama também declarou nesta sexta que vai notificar a Polaris (proprietária da embarcação) e a Vale (que abasteceu o navio). As notificações exigem:
• Apresentação de especificação, volume e condição de armazenamento de todos os tipos de óleo a bordo do navio.
• Informação sobre quantidade de tanques e o volume atual de óleo em cada tanque de combustível.
• Informação que permita saber se todos os tanques se encontram estanques. Caso contrário, informar quais não estão e por que motivo.
• Apresentação de especificação, volume e condição de armazenamento de outras substâncias nocivas ou perigosas a bordo da embarcação.
• Contato da empresa de resposta responsável por atendimento a eventuais derramamentos de produtos perigosos.
• Contato da empresa de salvatagem.
• Especificação e possível origem da substância que já saiu do navio para o meio ambiente e estimativa de volume.
• Informações sobre data, horário e conteúdo de possíveis comunicados de acidente ambiental aos órgãos ambientais competentes.
As empresas terão um dia de prazo para atender às exigências após o recebimento da notificação. O G1 entrou em contato com a Polaris e a Vale sobre as notificações, mas ainda não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Riscos
A Marinha e o Ibama ainda não descartam o risco vazamentos no navio. Atualmente, a embarcação segue encalhada e com cerca de 290 mil toneladas de minério de ferro, além de quatro milhões de litros de combustível e óleo. Se houver vazamento, todo o material pode se espalhar pelo litoral. “O ideal é que se façam estudos que tenham com precisão os reais riscos da embarcação. Mas, independente disso, são tomadas todas as providências de forma preventiva. Então nós já temos um estudo de modelagem, para onde esse óleo pode bater, chegar na costa, caso venha a acontecer um incidente. E já deixar disponível os equipamentos de proteção a essas áreas sensíveis”, afirmou Marcelo Amorim, coordenador de atendimento de emergência ecológica do Ibama.
Nesta sexta (28), o comandante da Capitania dos Portos, Alekson Porto, concedeu entrevista. Ele disse que técnicos avaliam se ainda vai ser possível recuperar o navio ou se a carga e o óleo serão retirados. “A nossa preocupação primeiro é entrar no navio e mapear qual é o dano. A segunda preocupação é retirar o óleo presente na embarcação. A terceira é fazer o plano de salvatagem para retirar aquela embarcação de lá”, disse o comandante.
Sobre o risco de naufrágio, a Marinha afirmou que o risco é pequeno, mas não é impossível. Há, atualmente, quatro rebocadores na região para agir em caso de emergência. “É muito cedo poder dizer alguma coisa. Ela [Polaris] vem acompanhando e empregando dois navios do 4ª Distrito Naval de São Luís, um com previsão de chegada nas próximas 24h e outro no sábado (29). Hoje nós temos uma aeronave no local, que se apresentou a cena de ação e está com o nosso chefe do gabinete de crise. Hoje a embarcação está encalhada, na região não tem profundidade suficiente para cobrir a embarcação”, disse o comandante Alekson Porto no dia 27.
Proprietária do navio tem histórico ruim
O navio Stellar Banner é de propriedade da empresa sul-coreana Polaris Shipping. Essa empresa é a mesma responsável pelo Stellar Daisy, embarcação que naufragou no Oceano Atlântico em 2017 após ter sido carregado no Terminal Marítimo da Ilha de Guaíba que pertence a mineradora, na Ilha de Guaíba, no Rio de Janeiro. A embarcação foi carregada em 25 de março com 260 mil toneladas de minério de ferro e tinha como destino final a China. A bordo do Stellar Daisy estavam 24 tripulantes, entre filipinos e coreanos.
De acordo com a Marinha do Uruguai, uma chamada de emergência foi realizada seis dias após o navio ter saído do Brasil, a cerca de 3.700 km do porto de Montevidéu, no Uruguai. Na época, foi relatado às autoridades brasileiras que ventava muito no momento do acidente e que a água do mar havia invadido a embarcação. Apenas dois tripulantes de nacionalidade filipina foram encontrados em um bote salva-vidas um dia após o acidente, e foram resgatados pela Marinha do Uruguai. Os corpos das outras 22 pessoas não foram encontrados.
A empresa americana de exploração marítima Ocean Infinity foi contratada em 2019, pelo governo da Coreia do Sul, para realizar a busca pelos destroços do Stellar Daisy, quase dois anos após o naufrágio. O navio foi encontrado 72 horas após o inicio das operações, a 1,300 km no fundo sul do Oceano Atlântico, a oeste da Cidade do Cabo, na África do Sul.
Um ano após o naufrágio do Stellar Daisy, a Polaris Shipping foi notificada pelo Ministério de Assuntos Marítimos da Coreia do Sul após terem encontrado 22 mudanças não autorizadas no navio Stellar Eagle, com bandeira das Ilhas Marshall, durante uma inspeção de segurança no porto de Rizhao, na China. O navio não foi autorizado a sair do porto até os itens de segurança estivessem dentro dos padrões.
Ao site G1, a Polaris Shipping informou que o caso do navio Stellar Daisy está sendo discutido nas esferas pertinentes e a causa do naufrágio ainda é indeterminada. Desde então, todos os navios tipo VLOCs (Very Large Ore Carrier) passaram por inspeções especiais por sociedades de dupla classificação e receberam certificados que comprovam a navegabilidade. Além disso, a empresa lamentou a perda dos 22 tripulantes do navio. Para a empresa, o caso do Stellar Banner é um incidente separado e tem registros limpos. Com informações do G1.