No ‘Ponto de Entrevista’, o Jornal da Chapada traz uma conversa com o prefeito do município de Utinga, Joyuson Vieira. O bate-papo com o gestor chapadeiro foca nas ações implementadas pelo Comitê de Enfrentamento à Pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o vírus letal que vem ameaçando dizimar a população mundial. A doença respiratória covid-19, inclusive, foi responsável por um óbito no município (veja aqui). Confira a entrevista completa e saiba mais detalhes das ações que são realizadas em Utinga pela atual administração e quais serão os próximos passos para conter e diminuir os efeitos da pandemia, que já afeta a economia, o contato social e até os encontros entre familiares em todo o país e no planeta.
Jornal da Chapada – Quais as medidas de prevenção que o município de Utinga vem tomando para conter o avanço da Covid-19?
Joyuson Vieira – Utinga iniciou o processo de combate à Covid-19 em 17 março de 2020, baixando o decreto número 4, suspendendo aulas e adotando diversas outras providências. Em 25 do mesmo mês, já entregávamos o Hospital Municipal Santa Dulce dos Pobres II, com 17 leitos completamente isolados e exclusivos para atendimento de gripados. Esse hospital recebeu o primeiro paciente no dia 28, que testou positivo e veio a óbito pela Covid-19. Daí para cá, esse hospital vem sendo equipado a cada dia, inclusive, recentemente, recebeu três equipamentos para auxílios respiratórios.
Além disso, o município edita, semanalmente, normas objetivando o combate ao novo coronavírus e atualmente, vigora o decreto número 20 de 2020, que regulamenta o uso de máscaras, o funcionamento restrito do comércio, suspensão de eventos públicos, aulas e demais atividades públicas e dar outras providências. Além disso, decretamos Estado de Emergência, o transporte intermunicipal está suspenso e toda pessoa que chegar de viagens, internacionais, de outros municípios, ou capitais, onde há casos confirmados da Covid-19, deve ser mantido em quarentena por 14 dias, mesmo não apresentando sintomas. Estamos ainda com mídias massificadas para conscientização da população, fiscais e educadores nas ruas e orientação para feitio das máscaras, além da distribuição para servidores públicos e eventuais necessitados.
J.C. – Com o registro de um óbito no município, quais as medidas que foram tomadas em relação aos comerciantes de Utinga? Quais tipos de recomendações foram feitas e como eles têm reagido a essas medidas?
J.V – Entre as medidas preventivas que constam no novo decreto, está a intensificação das orientações sanitárias nos ambientes comerciais, por exemplo, passa a exigir dos estabelecimentos comerciais o fornecimento de máscaras para os seus servidores, além de só atender aos clientes que estiverem usando máscaras, sob pena de serem multados e até terem seus alvarás de funcionamentos suspensos. Continuamos com o funcionamento restrito do comércio e a feira livre segue sem a participação de vendedores de outros municípios, além da obrigatoriedade do uso de máscaras para todos os feirantes. Aos feirantes, são permitidas apenas o comércio de produtos alimentícios, exceto cereais, que são facilmente encontrados nos supermercados locais.
J.C. – Observamos que muitos setores da sociedade, principalmente o comércio, estão pressionando os governadores para por fim ao isolamento social, a quarentena, alegando prejuízos. O mesmo ocorre no município de Utinga? Como vem lidando com essa questão, já que a melhor recomendação para aliviar os efeitos da pandemia ainda é a quarentena?
J.V. – Sim. Há pressões, todavia, o nosso governo se posiciona estritamente pautado por orientações técnicas que, levadas ao colegiado político-administrativo, decide, semanalmente, com o foco principal na saúde e na vida do nosso povo, sem perder de vista, claro, as necessidades econômicas passíveis de serem atendidas, sem prejuízo daquelas. Os comerciantes, uma vez conscientizados da gravidade da situação, reagiram bem e seguem atendendo aos seus clientes, observando as normas sanitárias e, também, pelo método ‘delivery’ [entrega em casa].
J.C. – Que as restrições ao comércio têm ocasionado prejuízos, todos nós sabemos. Porém, relatos históricos falam de efeitos catastróficos durante e depois de uma pandemia sem a quarentena, ainda mais de uma como essa onde tudo é novo para ciência e para os governantes. O que o município de Utinga visa fazer para fortalecimento da economia local após a pandemia?
J.V. – Após a pandemia, teremos sérios reflexos econômicos no Brasil e no Mundo. O município é só uma parte do Sistema Econômico Nacional e deve intensificar seu apoio à agricultura, nosso carro-chefe, além de apoiar o comércio local, usando de todos os meios legais e ao nosso alcance.
J.C. – É estarrecedor o que presenciamos nos sistemas de saúde dos grandes centros, como em São Paulo, Rio de Janeiro e em Manaus, onde as vítimas da Covid-19 morrem em corredores de hospitais e são sepultados em valas comuns. Visões que nos rementem a tempos de guerra. A pergunta é: o município de Utinga tem estrutura? Quantos pacientes com diagnósticos de Covid-19 o município pode internar?
J.V. – Nossa estrutura é de Atenção Básica à Saúde. Temos o Hospital Municipal Santa Dulce dos Pobres, que continua funcionando normalmente para as necessidades de rotina, e temos o Hospital Municipal Santa Dulce dos Pobres II que tem 17 leitos, sendo três pediátricos e os demais separados em alas adultas masculino e feminino, todos aptos a internar pacientes com sintomas leves da Covid-19. Se o paciente se agravar e precisar de média e alta complexidade, serão transferidos para os hospitais de referência. E é isso que justifica os nossos esforços preventivos, mas estamos atentos, inclusive, para possíveis transferências, já que contamos também com quatro ambulâncias em perfeitas condições, e que estão a postos.
J.C. – O senhor é um prefeito que naturalmente vai para a reeleição. Em meio ao caos da pandemia, estamos vendo em todo país uma partidarização da doença como se a Covid-19 escolhesse vítimas. Como anda essa parte política em Utinga? A oposição partidária vem lhe ajudando no combate à doença?
J. V. – A oposição tradicional de Utinga, representada por Alberto Muniz e Jai Monteiro tem sido até solícita, humana e parceira, embora, do ponto de vista prático, ainda não tenha demonstrado nenhum gesto concreto. O apoio moral, a bem da verdade, tem se manifestado. E é válido, afinal, a Covid-19 ataca a todos, oposição e situação. Na minha opinião é burrice para qualquer liderança política querer partidarizar essa pandemia.
J.C. – Estamos constantemente divulgando os decretos municipais emitidos pela sua administração neste Estado de Emergência em que se encontra Utinga. Quais os próximos passos para cumprir todos os protocolos dos órgãos de saúde? Existe algo que Utinga não terá condições de sanar?
J.V. – O município de Utinga tem cumprido e até se antecipado ao cumprimento de todos os protocolos solicitados para um município de 20 mil habitantes. Estamos à frente das nossas responsabilidades, entretanto, não conseguiremos atender, como já disse anteriormente, a alta complexidade, como UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e similares. Mas, também, isso é responsabilidade da MAC [Financiamento da Média e Alta Complexidades], ou seja, Seabra, Itaberaba, Feira de Santana e Salvador.
J.C. – Obrigado prefeito Joyuson, por nos atender nesse momento tão conturbado para todos.
J.V. – Eu é que agradeço a atenção do Jornal da Chapada, nesta hora a informação é fundamental. Quero agradecer também ao nosso vice-prefeito Átila Karaoglan, presente em todas as nossas ações, todos os nossos colaboradores, em especial a secretária de Saúde, Bruna Aguiar, e demais profissionais de saúde, médicos enfermeiros, odontólogos, o comité técnico, nossos secretários que têm ajudado muito neste momento difícil. Agradecemos ainda a população, engajada na luta e todos que atuam diretamente no enfrentamento à pandemia. Na oportunidade, quero tranquilizar a nossa população, pois se continuarmos seguindo as normas sanitárias e de conduta, com fé em Deus, vamos vencer a Covid-19.
Jornal da Chapada