Por João Vicente Goulart
O que estamos presenciando da autoridade máxima do país não se trata apenas de falta de humanidade, de falta de postura diante de um inconteste desprezo pela vida humana e pelo despreparo de um ser genocida a serviço de outros interesses que não os brasileiros. O deboche com o povo brasileiro e com os latino-americanos é consequência de um arquétipo fascista, programado, dirigido por interesses internacionais e orquestrado por uma clara política intervencionista, economicamente ultraliberal e de desmonte das instituições estabelecidas, com o que há de pior; a mentira oficial, a desestabilização social, a semeadura do ódio nas camadas populacionais e a construção de um Estado paralelo composto por milícias armadas com teses religiosas radicais.
O “Mito” é a criação messiânica da fé em uma figura inconteste, com a proposta de seitas adorativas, calcadas na violência, que sustentará uma “civilização” em risco, a qualquer preço. Não importa qual seja o desrespeito que este genocida cometa que seus adoradores, cegos, continuarão sua idolatria, seja contra o povo, contra o judiciário, contra o Congresso Nacional, ou seja contra quem quer que seja que se posicione diante dos seus escusos objetivos. O desrespeito às decisões do ministro Alexandre de Morais que não permitiu a nomeação do seu pupilo para diretoria-geral da Polícia Federal machucaram nosso “mito”, pois nem tudo pode ser emanado de sua presença soberana, para usar para si, e suas intenções, as informações de processos em andamento contra seus familiares e seus atos insanos.
O desprezo se dá interna e externamente, várias vezes manifestado com os inúmeros disparates propiciados por ele e por seus ministros de governo, imitando nazistas do Reich, como Roberto Alvim, dando uma de Joseph Goebbels, ou o ministro Weintraub, da “educação”, que responde a 60 inquéritos, segundo a revista Época, além de recentemente debochar do povo chinês em seu Twitter. Se dá também através do ministro Ernesto Araújo, o vulgo Beato Salú do Itamaraty, o pior ministro de Relações Exteriores que o Brasil já teve, envergonhando o Brasil internacionalmente. Um terraplanista que chega a acusar o marxismo como responsável pelo aquecimento global.
Este indivíduo que chegou a retirar o busto de Santhiago Dantas do salão nobre de nosso Ministério agora toma uma atitude deplorável de expulsar a já minguada representação dos diplomatas venezuelanos de nosso território, sem a devida justificativa. Para o que que o Brasil começa a provocar povos irmãos da América do Sul? Por que? Trump usa Bolsonaro para submeter a América Latina ao seu centralismo imperialista, e no nosso entender, as ações contra a Venezuela, inclusive militares, só foram prorrogadas devido ao advento do coronavírus que abalou o mundo.
Submeter a Venezuela aos interesses americanos pode passar pela criação de um novo cenário bélico que é parte de uma estratégia de longo prazo do complexo petrolífero-bélico para derrubar governos nacionalistas e controlar as reservas petrolíferas da América do Sul. Hoje, o panorama da Venezuela e de todo continente demonstra um avanço dos setores vinculados às elites que se formaram no processo de dominação da América Latina e sob a égide da política de segurança nacional. Estes setores se identificam como pessoas de direita, cuja bandeira é o combate ao comunismo e manutenção de seus privilégios como capatazes da metrópole.
O anticomunismo emerge como um mantra no seio da proposta fascista e torna-se combustível para os ignorantes e prepotentes, que fazem da intolerância o caminho da busca da instabilidade política para golpear as instituições. Foi assim em 1964, que o Departamento de Estado americano financiou o golpe de Estado que impôs uma ditadura de 21 anos. É claro que Bolsonaro faz parte desta estratégia americana, que só não aconteceu antes contra a Venezuela pela instalação pandêmica no continente e no mundo. O quadro real é que a bandeira do anticomunismo foi e é utilizada para derrubar governos nacionalistas e colocar políticos de aluguel para saquear o erário e o patrimônio público dos países da América Latina.
Evo Morales foi derrubado em um tumulto social, através de milícias que entraram em sua casa, ameaçaram a vida de sua família, forçando o processo eleitoral ser interrompido e terminando no exílio do ex-presidente. Esta atitude agressiva contra a Venezuela pode ser uma preparação de uma armação americana, com a participação brasileira para servir de trampolim a reeleição de Donald Trump em novembro, envolvendo o Brasil em uma aventura militar de consequências imprevisíveis. E com Bolsonaro dedicado ao servilismo dos interesses americanos, nada nos surpreenderia, independente da crise sanitária que vivemos com a Covid 19 e sofrimento de nosso povo, que ele tome uma atitude inconsequente movido pelo ódio aos seus inimigos e sem nenhum amor pela tragédia e sofrimento de nossos irmãos brasileiros.
E daí? E daí o que o governo Bolsonaro quer, é isso; insubordinação social, caos, tumulto nas ruas, cadáveres empilhados nos municípios, e muito provavelmente, criar uma possível ameaça externa, apoiando uma intervenção na Venezuela a pedido dos EUA. Em Estado de guerra, o golpe interno está dado. Por que o General Mourão foi indicado para o comando unificado do Conselho da Amazônia, do qual foram excluídos todos os governadores civis da região? Esta ruptura diplomática sem precedentes só costuma ocorrer quando se prepara uma escalada militar ou de preparação para a guerra.
“Somos um país cristão. Não existe essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem” (2017). “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria” (2018). “O erro da ditadura foi torturar e não matar” (2008 e 2016). São frases do nosso presidente da República. E daí? São frases que não podemos acostumar os ouvidos sem nos insubordinarmos, sem prestar maior atenção, pois elas estão se repetindo de forma contumaz. Mas lembremos Darcy Ribeiro: “Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca”.