O delegado Carlos Henrique Oliveira, atual diretor-executivo da Polícia Federal e novo ‘número dois’ da corporação, afirmou em depoimento na última quarta-feira (13), que a corporação investigou familiares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo ele, o inquérito ‘era de âmbito eleitoral, e já foi relatado sem indiciamento’. Oliveira é ex-superintendente da PF do Rio, cujo comando Bolsonaro insistia em trocar, segundo depoimento do ex-ministro Sérgio Moro no dia 2 de maio.
“Perguntado se tem conhecimento de investigações sobre familiares do presidente nos anos de 2019 e 2020 na SR/PF/RJ (Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro) disse que tem conhecimento de uma investigação no âmbito eleitoral cujo inquérito já foi relatado, não tendo havido indiciamento”, aponta o depoimento de Oliveira.
A investigação citada mirou supostos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica envolvendo a declaração de bens do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) nas eleições de 2014, 2016 e 2018. O caso foi aberto após notícia-crime do advogado Eliezer Gomes da Silva. Ele apontou que o filho do presidente apresentou valores distintos em anos diferentes para o mesmo imóvel, localizado no bairro carioca de Laranjeiras, em declarações à Justiça Eleitoral.
O inquérito era sigiloso e já foi remetido à Justiça Eleitoral, sem proposta de indiciamento. A confirmação de Oliveira sobre o inquérito contradiz o presidente Jair Bolsonaro, que declarou na terça-feira (12), que ninguém de sua família é investigado pela Polícia Federal.
“Não estou e nem estive preocupado com a Polícia Federal. Nunca tive ninguém da minha família investigada pela Polícia Federal”, afirmou o presidente, ao responder perguntas sobre a reunião ministerial do dia 22 de abril. A ocasião é apurada pela PF como o dia em que Bolsonaro ameaçou demitir Sérgio Moro do Ministério da Justiça se ele não trocasse o comando da corporação. O presidente nega.
No depoimento da última quarta (13), Carlos Henrique Oliveira também negou que a saída de seu antecessor na superintendência fluminense, Ricardo Saadi, se deu por ‘questões de produtividade’. A acusação foi feita em agosto do ano passado por Bolsonaro, que tentou emplacar um nome de sua escolha para comandar a corporação no Estado.
Moro, em depoimento no começo do mês, disse que Bolsonaro pressionava por mudanças na Polícia Federal do Rio. O ex-ministro afirmou que recebeu mensagem pelo aplicativo WhatsApp do Presidente da República, cobrando a substituição do Superintendente do Rio de Janeiro. O ex-ministro relatou que a mensagem tinha, mais ou menos o seguinte teor: ‘Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro’.
O inquérito no Supremo Tribunal Federal foi aberto no dia 27 de abril pelo decano Celso de Mello para investigar as acusações de Moro, que, ao deixar o governo, acusou Bolsonaro de interferência na Polícia Federal.
‘Segurança’ no Rio
Bolsonaro argumenta que, durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, fez apenas cobranças sobre sua ‘segurança pessoal’ no Rio. “A Polícia Federal não faz a minha segurança pessoal. Quem faz é o GSI. O ministro é o Heleno”, afirmou Bolsonaro, dizendo não ter citado o nome de Moro nem a PF naquele encontro.
Segundo relatos de pessoas que assistiram ao vídeo, o presidente associou a mudança na direção da superintendência da PF no Rio à necessidade de proteger sua família. Na reunião, a superintendência fluminense da PF é chamada por Bolsonaro de ‘segurança do Rio’. “Não existe a palavra Polícia Federal em todo o vídeo. Não existe a palavra superintendência. Não existe a palavra investigação sobre filhos. Eu falo sobre segurança da minha família e dos meus amigos. Ou você acha que não há interesse em fazer uma maldade com filho meu?”, perguntou o presidente a jornalistas. Questionado então se a cobrança na reunião era direcionada ao general Heleno, que comanda o GSI, Bolsonaro desconversou: “Não vou entrar em detalhes”.
Já depuseram Moro, os ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, os delegados Maurício Valeixo, Alexandre Ramagem, Ricardo Saadi, Alexandre Saraiva e Carlos Henrique Oliveira e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). As informações são do Estadão.