*Por Joy de Utinga
Não morrendo mais gente nos Jardins ou na Avenida Paulista (SP), em Copacabana ou no Leblon (RJ), no Plano Piloto ou no Lago Sul (BSB) no horto florestal ou na Vitória (SSA), dentre outros endereços nobres, inicia-se a fase mais cruel da pandemia, a banalização do mal. A favelização e a interiorização do novo coronavírus, feito água ladeira abaixo ou fogo ladeira acima, começa a revelar a insensibilidade humana a relativizar as mortes.
Já não mais é raro ouvir-se que o câncer, os traumas acidentais e as doenças cardíacas matam mais que a covid-19, como se esta fosse substituta daquelas, mas não é. Todos os males tradicionais continuarão a matar muito, ocorre que a covid-19 vem a se somar a todas elas, de forma devastadora, solitária e cruel.
Líderes insensatos, ignorantes e desumanos a justificarem suas hipocrisias e falta de ações buscam culpados pela nossa dor; ora a China, ora Governadores e Prefeitos, ora autoridades de saúde, sem entretanto demonstrar qualquer gesto de solidariedade ou compaixão. Em tempos tão bélicos e tenebrosos, cabe aquela máxima que diz “quando um soldado dorme no posto compromete todo o batalhão”. Imagine quando o comandante, ainda que seja apenas um Capitão, abandona, ignora e despreza o seu dever de comandar!
Em pouco mais de duas semanas mais que dobramos as mortes, saímos de 17 mil para 35 mil vítimas. Por aqui, nas últimas horas, já morre uma pessoa por minuto, enquanto isso, minimizamos a comoção, tornamos opacos os rostos e numeralizamos os mortos. Agora, sem nomes, sem mídias e sem condutores nacionais somos números, dezenas, centenas e milhares de humildes anônimos a engrossar a triste estatística pandêmica do Século XXI.
Piedade, Senhor!
*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.