Grupo de moradores do município de Piatã, na Chapada Diamantina, procurou o Jornal da Chapada para relatar experiências frustrantes ao precisar de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Conforme os relatos, uma mãe chegou a perder seu bebê por suposto descaso narrado pelos denunciantes. Alguns pacientes chegaram a declarar que são tratados assim por não terem votado no atual prefeito Edwilson Oliveira Marques (PDT), o popular ‘Ed Peças’, e afirmam que há critérios para procedimentos e realização de exames no município chapadeiro.
Em nota enviada ao Jornal da Chapada, os moradores se mostram fragilizados e indignados com o tratamento recebido ao precisar de atendimento na rede pública de saúde da região. Segundo Dona N, ela foi às pressas para a Unidade Básica de Saúde Adércio Novais, em Piatã, com crise nervosa, quando foi atendida pelo médico que estava disponível no momento. O profissional lhe receitou um remédio tarja preta e exame de eletroencefalograma. Com a requisição em mãos, Dona N teve o seu pedido negado pela Secretaria de Saúde do município e, ainda, recebeu a informação de que a pasta “não faz esse tipo de exame”.
Todo esse percurso, segundo as informações, foi feito pela senhora que afirma não ter recursos para tal. “Vendo dois carros de lenha no mês, cada um por R$100”. Como motivo pelo descaso com Dona N, ela acredita que se deva aos falatórios dos “vizinhos que votaram no atual prefeito de Piatã. Dizem que eu não consigo nada porque não votei nele”, descreve a dona de casa.
Nesse caso, a dúvida para os cidadãos fica sobre as despesas gastas pela prefeitura, que estão publicadas no site do município de Piatã. Essas despesas incluem diversos exames realizados. Consultas com cardiologistas, exames de ecocardiograma em clínica de Seabra, também na Chapada Diamantina, além de exame de Dopler DOS MID, em outra clínica, e tantos outros procedimentos que a prefeitura torna público no site oficial.
Morte de bebê
Seguindo os relatos dos moradores, A. Silva foi outra vítima da situação. Ela estava sendo atendida na Unidade Básica de Saúde, posto de saúde de Cabrália, no período de quatro meses e seguia pegando requisições na unidade. Porém, realizava seus exames de forma particular. Assim como Dona N, Silva não entendeu o motivo pelo qual não conseguia os exames nos laboratórios que têm contratos com a prefeitura de Piatã, ou em locais que prestam serviços de exames para atender a demanda dos postos de saúde e do hospital.
De acordo com A. Silva, ela parou de receber atendimento, pois a enfermeira saiu de férias e não tinha ninguém para substituir. Como deveria ter o atendimento específico, por conta de sua gestação, teve que se deslocar até a sede do município que fica há 36 quilômetros de distância de sua residência. A denúncia aponta ainda, que não tem transporte público que ofereça esse deslocamento e a moradora teve que pagar pelo transporte.
Silva estava grávida e chegando ao fim da sua gestação, sentiu dores e foi procurar, novamente, o hospital do município e não teve o atendimento adequado. Apenas foi colocada no soro pelo médico disponível no momento. “Disseram que iriam procurar vaga em outro hospital, não conseguiram”, diz Silva emocionada, pois foi enviada três horas depois para o Hospital Santa Rita, no município de Livramento de Nossa Senhora, distante 100 quilômetros de Cabrália, onde mora.
A mãe de A. Silva narra que sua filha chorava muito de dor nesse percurso e, quando chegou ao hospital, foi rapidamente levada para a sala de cirurgia, porém o seu filho estava sem vida. “Ficamos lá dois dias e minha filha internada, quando o médico nos perguntou se tínhamos como pagar”. Como teve uma resposta negativa, o médico então solicitou que o hospital mandasse a conta para a prefeitura de Piatã. Esse é mais um exemplo de caso, conforme alega a família, de dificuldade para acessar os serviços públicos, já que os partos são custeados pela prefeitura, como consta publicamente no site da prefeitura.
Mais casos
Outro caso parecido com o de A. Silva, foi o de Maria, que também gestante foi enviada para fazer o parto particular em Livramento de Nossa Senhora. Chegando lá, os médicos descobriram que ela estava esperando gêmeos. “Daí o médico foi perguntar como eles não viram que tinham dois bebês”, aponta a denúncia do grupo de moradores. Maria, em seguida, foi aconselhada a processar o hospital municipal de Piatã.
A paciente disse, então, que procurou o prefeito e, o mesmo, prometeu que depositaria a quantia do parto. No entanto, Maria nunca teve resposta ou viu o depósito do prefeito. “Fui mais de 10 vezes na prefeitura e ele nunca mais me atendeu. Assim como marcou na garagem da prefeitura para dar o dinheiro. Eu fui com os bebês debaixo do sol e ele nunca apareceu. Eu sei que eles não querem pagar porque conhecem a nossa família”, fala Maria.
O Jornal da Chapada procurou a assessoria da prefeitura de Piatã, que não quis se pronunciar sem saber mais detalhes da matéria. A situação foi levada, de acordo com assessoria, para a Secretaria de Saúde do município. Os casos aqui relatados tiveram os nomes das fontes modificadas para preservar a identidades dos denunciantes. Até a publicação deste, a reportagem não obteve retorno da prefeitura.
Jornal da Chapada