A Bahia é o segundo estado com o menor percentual de fumantes do país e Salvador tem o quarto menor percentual entre as capitais, aponta a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em convênio com o Ministério da Saúde.
De acordo com os dados do levantamento, 9,7% dos adultos baianos (1,081 milhão de pessoas) informaram o uso de cigarro. É o segundo menor índice entre os estados, acima somente de Sergipe (9,1%). É ainda menor o percentual de fumantes na capital baiana: 7,1%. Isso equivale a 162 mil pessoas. As capitais com menos fumantes declarados foram Aracaju (4,9%), São Luís (6,3%) e Belém (6,4%).
Paulistano, o desenvolvedor de software Eduardo Torres, 32 anos, diz que a pesquisa não surpreende, ao relembrar o período no qual viveu em Salvador. “Mesmo sem a pesquisa, isso é claro. Quando você anda por Salvador, por exemplo, é uma sensação estranha. Eu tenho hábito de jogar bituca de cigarro no chão e você não encontra outra lá. Salvador claramente não é um lugar de fumantes como outros, onde você olha e tem outras bitucas. Você até se sente menos culpado de jogar lixo no chão”, brinca.
“Dos meus amigos [de Salvador], acho que ninguém fuma. Se eu quisesse fumar, tinha que ficar distante deles, sair da roda. Sempre tinha alguém que se incomodava ou comentava do cheiro”, acrescenta Torres.
O professor Bruno Carvalho, 31 anos, deixou de fumar há três anos, mas o processo foi longo. Dos 25 aos 28, tentou largar o cigarro algumas vezes, mas acabava retornando com o antigo hábito, até ficar hospitalizado alguns dias e ser obrigado a mudar, por recomendação médica. Com problemas respiratórios, ele já não conseguia praticar exercícios físicos. “Tinha entrado na academia, mas não conseguia render quase nada”, conta.
Bruno começou a fumar aos 16, para se aproximar de uma menina mais velha, e, com o passar dos anos, passou a ter o cigarro como um “companheiro”, que também lhe ajudava a controlar a ansiedade. “Ligava todas as minhas emoções ao cigarro. Quando estava feliz, estava comemorando e fumava. Quando estava triste, fumava para amenizar”, diz. Em uma noite de festa, quando bebia, chegava a fumar três ou quatro carteiras, relata.
Consumo de álcool
Ao abandonar o cigarro, Bruno também deixou de beber, novamente por recomendação médica. Segundo a PSN, Salvador é a capital com maior proporção da população adulta que consome álcool pelo menos uma vez por semana (40,2%) e a segunda com maior consumo abusivo de bebidas alcoólicas (28,1%). Empatada com a capital baiana no primeiro item, está Florianópolis, enquanto os menores índices estão em Rio Branco, (14,7%), Manaus (14,8%) e Porto Velho (19,2%).
No Brasil, 26,4% da população declarou consumir álcool pelo menos uma vez por semana. Entre os estados, lideram Rio Grande do Sul (34%), Mato Grosso do Sul (31,3%) e São Paulo (31,0%), enquanto os menores percentuais estão no Acre (12,6%), Amazonas (14,4%) e Alagoas (16,0%). A Bahia (26,7%) está no oitavo lugar.
O consumo semanal de bebidas alcoólicas em Salvador é maior entre os homens: mais da metade deles (51,0%) afirmou beber pelo menos uma vez por semana, enquanto a proporção foi de 31,8% entre as mulheres. No entanto, as mulheres soteropolitanas são as que mais bebem toda semana, em comparação com os dados das outras capitais.
Integrante do Alcoólicos Anônimos, J.R.M está abstêmio há 30 anos diz que, por experiência, as quantidades de bebida ingerida pelo dependente vão crescendo ao longo dos anos. “No começo, eu não conseguia beber um litro de uísque por dia, como acabou acontecendo com a continuidade”, afirma.
Apesar de dizer que o grupo não diagnostica se alguém é ou não alcoólatra, o membro do AA menciona um teste de 12 perguntas, ao qual a pessoa pode responder para saber se deve procurar a organização. Caso responda positivamente a quatro ou mais questões, o material diz que “é provável que você tenha problemas com o álcool”.
J. R. diz ainda que o grupo trabalha com um programa de 12 passos, para auxiliar diariamente os dependentes a evitar a bebida. “Cada comunidade, bairro, cidade tem um grupo de Alcoólicos Anônimos. As pessoas se reúnem e vão ser trocadas experiências, a partir desse princípio de identificação com o outro”, afirma. Na pandemia, as reuniões têm acontecido por videoconferência.
Doenças
Conforme a pesquisa, a Bahia tem 2º menor percentual de pessoas que avaliam a própria saúde como boa ou muito boa (54,2%), ficando à frente apenas do Maranhão (52,2%) e muito abaixo da média nacional (66,1%).
Pouco mais da metade da população baiana (51,5%) e soteropolitana (51,6%) informaram diagnóstico de pelo menos uma doença crônica. Problemas de coluna, hipertensão e colesterol alto são as doenças crônicas mais frequentes no estado e na capital.
Os dados da primeira edição da PNS, de 2013, estão sendo reponderados, devido à revisão na projeção de população ocorrida em 2018. Por isso, os dados do levantamento anterior não devem ser usados para comparações, conforme o IBGE.