Descoberta em outubro de 2020 na Índia e espalhada em centenas de países, a variante delta está impondo o recuo de flexibilizações e a volta de medidas restritivas de enfrentamento da pandemia de covid-19. No Brasil, ela ainda é pouco predominante, visto que até o último dia 30 de julho, haviam 247 casos confirmados desta cepa.
Contudo, na Espanha, por exemplo, a delta é responsável por 68% dos casos de coronavírus, de acordo com o relatório do Ministério da Saúde espanhol. Este número retrata o fato da variante ser até 60% mais contagiosa, como apontam estudos publicados.
A delta chega a ser mais contagiosa do que o vírus causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), o ebola, o resfriado comum, a gripe sazonal e a varíola e é tão transmissível quanto a catapora, de acordo com documento do Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), órgão que baliza as políticas de saúde norte-americanas.
“Com essa cepa, que tem cargas mais altas no início, é mais fácil que se produzam os eventos supercontagiantes”, explicou Juan Bárcena, virologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Agrária da Espanha. Logo, uma única pessoa infectada consegue contagiar 10 ou mais de seus contatos.
Além disso, o acompanhamento dos casos durante o estudo permite perceber que o intervalo entre a exposição à variante delta e sua detecção é, em média, de quatro dias, contra seis dias no caso da cepa original. Com isso, o Governo da província da Espanha, começou a pedir no dia 6 de junho um teste negativo para covid-19 relativo às últimas 72 horas. Apenas um dia posterior, o período foi reduzido para 48 horas.
A pesquisa também afirma que há possibilidade da variante delta ser mais infecciosa nos primeiros dias de contágio, antes mesmo de apresentar os sintomas. No entanto, “mais de 50% da transmissão ocorre durante a fase pré-sintomática”. Tudo isso reflete na imposição de quarentenas ou outras medidas que consigam interromper a cadeia de transmissão.
Mutações
De acordo com artigo publicado na revista Nature, a variante delta tem diferentes e numerosas mutações, embora haja três específicas desta cepa que facilitam a sua ligação com os receptores das células. Logo, o contágio seria mais rápido e permitiria ao vírus escapar parcialmente do sistema imunológico.
Já outro estudo publicado na revista aponta que embora duas doses das vacinas da Pfizer ou AstraZeneca sejam capazes de bloquear a nova cepa, o nível de proteção que oferecem contra ela é um pouco menor do que contra outras mutações.
“Há algo que é inegável: a variante delta está se impondo em escala mundial. Isso ocorre porque ela tem de ter alguma vantagem”, comenta a pesquisadora Nuria Izquierdo-Useros, que chefia o grupo de patógenos emergentes do instituto espanhol de pesquisa de AIDS IrsiCaixa. Jornal da Chapada com informações de EL País.