As empresas que financiaram e invadiram a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e ajudaram a arquitetar demais ações golpistas do feriado 7 de Setembro possuem histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos com camponeses, além de lobbies junto a congressistas, conforme apuração do De Olho nos Ruralistas.
Dez Alimentos
Na ocasião, vários caminhões entraram na área destina, exclusivamente, ao público. Dentre os veículos, estavam os da ‘Dez Alimentos’, de Morrinhos (GO), uma das maiores processadoras de tomate do Brasil. O dono Paulo César Chiari e seus sócios foram processados há nove anos por submeterem trabalhadores rurais à condição análoga à de escravidão.
Conforme o Ministério Público do Trabalho (MPT), trabalhadores rurais da empresa eram arregimentados na região de Centralina (MG) e administrados nas lavouras por agenciadores de mão de obra, comumente chamados de “gatos”.
Em 2018, o dono Chiari foi acusado de utilizar pivôs sem licenciamento ambiental. O caso ocorreu nas Fazendas Capão Comprido do Muquém e Lambari, em Santa Cruz de Goiás. O Ministério Público de Goiás apontou que também respondem ao processo os fazendeiros José Chiari, Emílio Okamura e Lincoln Kashima.
Os caminhões identificados, conforme o gerente comercial da empresa, Kleiton Machado, são de comodato e foram alocados para outras pessoas. Não foram dados mais detalhes sobre quem fez o frete e informou que a empresa não se manifestará sobre um ato que “não participou”.
Donos da ID Agronegócios e da Sidersa
Quem também esteve no local foi a ID Agronegócio, de Itaúna (MG), especialista em feno. A Sidersa é uma das siderúrgicas apontadas como responsáveis pela desestruturação do Cerrado na região Norte de Minas Gerais e pela expropriação de terras das comunidades tradicionais.
A fala de um dos caminhoneiros da ID Agronegócio foi registrada pelo O Estado de Minas: Pode preparar aí, Bolsonaro, estamos chegando em Brasília, e tá firme aí com o senhor”, afirmou.
A Sidersa Siderurgia Santo Antônio, que tem o mesmo dono, Igor Dornas Andrade, é envolvida em um conflito socioambiental, visto que os geraizeiros (descendentes de indígenas e quilombolas que habitam regiões de transição para a Caatinga) são os principais atingidos pela monocultura de eucalipto.
“A empresa não ajudou a financiar os atos, mas arcou com todas as suas despesas”, justificou a empresa, visto que estiveram na capital federal, conforme a empresa, apenas os donos, funcionários e “vários amigos”, sendo que cada um pagou os próprios custos da viagem. Os funcionários dirigiram os caminhões para a viagem.
Grupo Grão Dourado
Os sócios do Grupo Grão Dourado, produtor de arroz, feijão, milho e soja em Piracanjuba (GO), foram outros que participaram dos atos, com cerca de uma dezena de caminhões. A marca da empresa era a que mais se destacava na área invadida.
Grupo Jacto
Nos últimos dias, um vídeo circulou nas redes sociais mostrando bolsonaristas dentro de um ônibus recebendo camisetas verde-amarelas e dinheiro para participarem dos atos golpistas do dia 07. Segundo a reportagem, a inciativa é do Grupo Jacto, empresa familiar de produtos agrícolas de Pompeia, no centro-oeste paulista. Ainda de acordo com a matéria, dos donos da empresa, a maioria já fez doações para campanhas políticas, inclusive de porta-vozes do agronegócio.
“Olha isso, cara. Eu achei que era brincadeira. Uma camiseta para cada um, mais o ônibus, mais R$ 100 para alimentação”, diz um homem. “Esse é o nosso grupo Jacto de Pompeia. Deus abençoe. Heróis, mano”, completa um homem no vídeo.
A empresa pertence aos irmãos Mitiko, Takashi, Jiro, Chikao, Shiro, Lincoln e Jorge Nishimura, herdeiros do fundador, Shunji Nishimura, já falecido. Atualmente, Ricardo Seiji Bernardes Nishimura, filho de Chikao e representante da Jacto no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), é quem responde pela companhia.
Segundo a empresa, o Grupo Jacto não teve nenhum envolvimento no aluguel dos ônibus. Ao Globo Rural, o acionista do grupo, Takashi Nishimura, assumiu que patrocinou a caravana. “Fui eu quem aluguei e paguei todos”. Segundo ele, o pagamento foi pelo fato de ser “patriota” e “brasileiro”. Jornal da Chapada com informações de texto base de De Olho nos Ruralistas.