Aos 71 anos, a intelectual indígena Eliane Potiguara conquistou mais um reconhecimento de sua trajetória. Nesta semana, ela foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa concedido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição pela qual se graduou em Letras.
Eliane é considerada a primeira escritora indígena do Brasil. Seu poema ‘Identidade Indígena’, de 1975, é tido como um marco para a literatura dos povos originários. Desde os anos 70 que Eliane Potiguara se dedica à cultura e visibilidade da escrita indígena, bem como milita pelos direitos dos povos originários, sendo uma das grandes lideranças do movimento indígena a nível nacional.
Fundadora do Grupo Mulher-Educação Indígena (Grumin) e cofundadora do Enlace Continental de Mujeres Indígenas de las Americas (Ecmia), Eliane já recebeu inúmeros prêmios no âmbito nacional e internacional por conta de seus livros.
Em 1992, por exemplo, a obra “A Terra é a Mãe do Índio” foi premiada pelo Pen Club da Inglaterra. Em 1998, foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano” pelo Conselho de Mulheres do Brasil. Por vários anos, participou da elaboração da Declaração Universal dos Direitos dos Indígenas, da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, Eliane é membro do Parlamento Indígena do Brasil (Parlaíndio), que reúne lideranças de inúmeros povos indígenas brasileiros.
Visibilidade
O título de Doutora Honoris Causa concedido pela UFRJ a Eliane vem justamente em um momento de intensificação dos ataques aos indígenas, que sofrem com o avanço do garimpo ilegal em suas terras e são negligenciados pelo governo Bolsonaro.
“Foi a maior satisfação receber esse título de Doutora Honoris Causa, primeiro porque estudei na UFRJ e, segundo, porque sou a primeira mulher indígena escritora tendo trabalhado intensamente pela instituição da Literatura Indígena no Brasil. Espero que esse título contribua para a visibilidade da questão indígena no Brasil, contra a violação dos direitos indígenas e a favor da manutenção da cultura da territorialidade em geral”, disse Eliane Potiguara à Fórum.
“Espero que esse meu protagonismo e de outros líderes possam contribuir com a sobrevivência e a identidade indígena neste país. Espero também que contribua para o aniquilamento dos projetos de lei fascistas genocidas que autorizam o agronegócio em terras indígenas”, prosseguiu a escritora.
O professor Clynton Lourenço Correa, relator do processo no Consuni da UFRJ que concedeu o título à Eliane, afirmou que “é importante dar voz àqueles que são os primogênitos brasileiros antes da colonização europeia”.
“Reconhecer a trajetória de Eliane Potiguara é dar a oportunidade de reconhecer a história narrada por outro interlocutor, nesse caso, aqueles que têm sofrido desde o processo da colonização europeia no Brasil, os povos indígenas. Assim, a concessão do título honorífico pela UFRJ para Eliane Potiguara pode ajudar no autoconhecimento sobre a origem da nossa sociedade, bem como contribuir para a reflexão de qual tipo de sociedade desejamos construir para as futuras gerações no Brasil, evitando cometer erros do passado para a promoção de uma sociedade mais justa e fraterna“, disse ao site Conexão UFRJ.
Eliane Potiguara é autora, entre outras, de obras como “A Terra é Mãe do Índio” (1989), “Akajutibiro: Terra do Índio Potiguara” (1994), “Metade Cara, Metade Máscara” (2004) e “Sol do Pensamento” (2005). Com informações da Revista Fórum.