Com o avanço da variante ômicron do coronavírus a realização do Carnaval 2022 está em xeque. Em algumas cidades, a gestões municipais já optaram por cancelar os festejos carnavalescos, outras, como São Paulo e Rio de Janeiro, ainda não bateram o martelo.
Especialistas têm dito que a variante ômicron, por ser “silenciosa” já está espalhada pelo Brasil e deve se tornar a dominante. Todavia, os dados se encontram prejudicados por conta dos problemas do sistema do Ministério da Saúde, que desde o fim de 2021 está em pane.
Em entrevista à CNN Brasil, o médico virologista Fernando Spilki, coordenador da rede Corona-Ômica, que reúne laboratórios brasileiros para captar, sequenciar e analisar o genoma de amostras do Sars-CoV-2, afirmou que a ômicron deve se tornar a variante dominante em São Paulo e Rio de Janeiro ainda em janeiro.
Além disso, na última semana de dezembro o Brasil registrou uma alta de 135% na média móvel de casos de Covid-19. De acordo com dados da plataforma Our World Data, a ômicron foi responsável pela maioria dos 10,1 milhões de casos confirmados entre 26 de dezembro e 2 de janeiro. Diante desse cenário, a questão é: há condições para realizar o Carnaval 2022?
Carnaval pandêmico
Algumas capitais e estados resolveram se antecipar e cancelar os festejos. A Bahia foi o primeiro deles. O governador da Bahia, Rui Costa (PT-BA), declarou no dia 23 de dezembro que o Carnaval 2022 está cancelado.
“Sabe aquele filme Missão Impossível? Nós estamos na Missão impossível 3, então, não será possível fazer esse carnaval. Não tem a mínima condição”, declarou Rui Costa em coletiva de imprensa.
Para Costa, além do coronavírus e sua nova variante, a Ômicron, agora há a epidemia de Influenza, que torna a situação sanitária da Bahia ainda mais delicada.
“A maior alegria que a gente vai ter é de superar o vírus do coronavírus e agora esse vírus da gripe. Se no início de dezembro estava difícil de fazer carnaval, agora ficou impossível. Só uma pessoa completamente irresponsável faria carnaval nessas condições”, enfatizou o governador.
Por sua vez, a prefeitura de Belo Horizonte declarou que não irá patrocinar o Carnaval e nem realizar cadastro de blocos de rua e investimento com infraestrutura. A decisão foi pautada após orientação dos integrantes do Comitê de Enfrentamento e controle da pandemia.
Outra importante capital da rota do Carnaval é Fortaleza. O prefeito José Sarto (PDT) cancelou os editais destinados ao evento. A decisão da prefeitura foi influenciada após o adiamento da festa do Réveillon.
As capitais Palmas, São Paulo e Rio de Janeiro ainda não decidiram sobre Carnaval. As respectivas gestões afirmam que estão monitorando a nova variante do coronavírus e que uma decisão sobre o Carnaval deve ser tomada mais à frente.
Na cidade do Rio de Janeiro, os patrocinadores do Carnaval pressionaram o prefeito Eduardo Paes por uma decisão sobre a festa. Nesta terça-feira (4) haverá uma reunião entre os investidores e a gestão municipal para tomar uma decisão.
A principal preocupação das prefeituras do Rio e de São Paulo é com os blocos de rua, pois, ao contrário dos desfiles nos sambódromos, que permite controle sanitário, as festas de ruas aconteceriam sem qualquer tipo de controle e, dessa maneira, se tornariam ambientes propícios para a disseminação do coronavírus.
Apesar das incertezas em SP e RJ, as respectivas gestões municipais, por hora, já autorizaram mais de 600 blocos de rua. No entanto, as prefeituras afirmam que tais licenças podem ser cassadas a qualquer momento.
“Carnaval é uma condição propícia para aumento de transmissão”, diz diretora da OMS
A diretora-geral adjunta de acesso a medicamentos e produtos farmacêuticos da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, declarou estar preocupada com a realização do carnaval no Brasil.
Ao analisar a situação da América, Simão afirma que a região apresenta um “comportamento de transmissão comunitária continuada, com ondas repetidas”. No entanto, ela reconhece que o plano de vacinação do Brasil caminha bem, porém, se preocupa com as discussões sobre realização do carnaval em 2022.
A preocupação de Simão tem relação direta com a quarta onda de coronavírus que a Europa, pois, para a médica brasileira, foi o excesso de relaxamento das medidas não farmacológicas um dos principais motivos para a nova onda de contágios.
“Me preocupa quando vejo no Brasil a discussão sobre o Carnaval. É uma condição extremamente propícia para aumento da transmissão comunitária. Precisamos planejar as ações para 2022”, alertou Mariângela Simão. Com informações da Revista Fórum.