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#Polêmica: “Não deveria haver nenhum evento de Carnaval”, defende ex-secretário da Saúde Fábio Vilas-Boas

Fábio Vilas-Boas | FOTO: Paula Fróes/GOVBA |

O médico e ex-secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, defende que sequer as festas privadas de Carnaval deveriam ser realizadas este ano em virtude do aumento dos casos de Covid-19. Ele também entende que não é possível manter diálogo constante com o setor de entretenimento quando é necessário adotar medidas que visam salvar vidas, ainda que haja prejuízos econômicos para o setor, como vem sendo colocado por empresários e também por parlamentares de oposição.

“Nós estamos tratando de uma situação de exceção, vivendo há dois anos uma pandemia grave com pessoas morrendo. Não dá para ficar fazendo assembleia, muito menos perguntando a quem vai ser diretamente prejudicado por aquela ação que vai se tomar em defesa da saúde e da vida das pessoas se elas concordam ou não concordam”, diz Vilas-Boas, nesta entrevista concedida na quinta-feira (13). O ex-secretário também avalia ser positiva a atuação do estado no combate à pandemia e destaca o papel dos veículos de imprensa.

Sem eles, assinala, seria impossível convencer a população sobre mudanças de hábito para o enfrentamento ao vírus.
Em pré-campanha para deputado federal, Fábio Vilas-Boas diz que está há dois meses caminhando pela Bahia e que tem diálogo avançado com o MDB, sigla que ele aponta ser fundamental para a estruturação de sua candidatura. Ele diz que, ainda enquanto era secretário, havia recebido convites para filiação do PT, do PSD, do PP e até do PL, de Jonga Bacelar e Valdemar da Costa Neto, que atualmente abriga o presidente da República Jair Bolsonaro.

Nesta conversa com este Política Livre, Vilas-Boas destaca que seu ingresso no MDB pode selar o apoio do partido ao pré-candidato do PT ao governo estadual, o senador Jaques Wagner. Falando ainda da pandemia, o ex-secretário critica a postura do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na polêmica recente sobre a vacinação de crianças.

Confira abaixo os principais trechos dessa entrevista:

Política Livre – O senhor começou a sua pré-campanha. Como está sendo essa caminhada pela Bahia e quais são as principais bandeiras que o senhor pretende levar pelo estado?

Fábio Villas-Boas – Eu já estou há cerca de dois meses circulando a Bahia, tendo contato de lideranças e pude perceber que o meu nome vem sido muito bem aceito bem aceito pelas pessoas. E, após esses contatos iniciais, diversos lideranças subsequentes têm me procurado, oferecendo muitas vezes apoio, e tem crescido bastante a campanha. Eu defini como bandeiras, primeiro a saúde, o que é natural, e, dentro da saúde, lutar para seguir no processo de regionalização e descentralização da saúde que foi um projeto vitorioso na Bahia, junto com Rui Costa, quando conseguimos implantar algo que não tinha antes, que são as policlínicas regionais que oferecem serviços ambulatoriais na atenção especializada de alta complexidade e também construir quase vinte hospitais e maternidades e reformar, ampliar e modernizar das dezenas de hospitais em todo o estado com o objetivo de levar atenção de média e alta complexidade para o interior. Esse processo de descentralização pode ser levado adiante, fortalecendo mais ainda as regiões, proporcionando resolutividade maior para cada microrregião e evitando que os pacientes precisem sair de seus municípios para as cidades polo e para Salvador.

Hoje, no município de Itaquara, o governador Rui Costa falou que até o final da gestão serão 26 policlínicas em funcionamento. O senhor avalia que esse modelo já está funcionando da forma esperavam ou ainda pode melhorar?

Essa é uma experiência nova, mas é uma experiência vitoriosa. Nós temos 21 ou 22 policlínicas já em funcionamento das 26 que serão entregues; duas são em em Salvador. Mas o modelo está funcionando, evidente que ainda falta aperfeiçoar, pois a gente comprou a briga de querer levar atendimento de alta complexidade para o interior, mesmo sabendo que lá não existem médicos qualificados pra operar essas policlínicas. E aí há dificuldade de levar o profissional; algumas policlínicas não conseguem ter profissionais em todos os turnos porque simplesmente não existe médico no interior, aí tem que esperar, com o passar dos meses e dos anos, serem formados alguns médicos; e esses médicos se capacitarem para ir para essas estruturas. Mas eu não tenho nenhuma dúvida que esse é um modelo vitorioso também do ponto de vista da saúde e do ponto de vista de construção política, pois as policlínicas são mantidas por consórcios interfederativos de saúde que unem municípios e o estado. Antes da construção desses consórcios, os municípios olhavam uns para os outros como o concorrentes: frequentemente a população saia de um município para o outro para usar o serviço de saúde do município ao lado. O município que avançava bem na saúde acabava sendo vítima do próprio sucesso. A partir do momento que se fez consórcios regionais, onde os municípios são sócios, passaram a enxergar a sua região de saúde e não mais as fronteiras dos seus próprios municípios. Então houve uma construção de uma identidade regional que nunca havia sido levada adiante antes.

Na segunda-feira, prefeito de Salvador Bruno Reis, quando anunciou a abertura de dez novos leitos de UTI pra atender pacientes Covid em Salvador, afirmou que 78% dos internados em leitos de UTI na capital pra tratar de Covid são provenientes dom o ciclo vacinal completo contra a Covid. Como é que o senhor avalia esses dados?

A questão do ciclo vacinal é verdade. Já este número de 78% de internados no interior eu desconheço. Eu não sei de onde foi retirado, portanto eu não tenho como comentar. O que existia até quando eu estava como secretário e eu acompanhava esses números de perto é o fato de que em Salvador foram ampliados leitos de UTI pelo governo do estado majoritariamente e o governo do estado não coloca leito em Salvador pra atender os munícipes de Salvador, mas para atender pessoas da Bahia inteira. Dois mil e seiscentos leitos de UTI que foram ampliados por conta da pandemia, mais de 1200 foram ampliados pelo governo do estado e é natural que, quando houvesse a saturação de leitos no interior, o estado remanejasse pessoas para os hospitais de Covid na capital. Mas isso não quer dizer que Salvador seja um local com menos Covid do que o interior, o que estaria nas entrelinhas da fala do prefeito.

Voltando à questão da campanha, o senhor falou de três bandeiras, mas mencionou a da saúde somente. Quais as outras?

As outras são a defesa da cacauicultura e do semiárido. Eu como pessoa física, não médico, sempre me dediquei e tenho atividades nessas áreas há mais de 30 anos. Conheço profundamente e vou defender todas questões envolvidas em relação ao semiárido e a cacauicultura, na região sul, extremo sul, as práticas novas de cacau a plena sol no oeste, a bovinocultura de corte, de leite – tenho vários projetos nessa área – na caprinocultura e também na área de pesca e piscicultura.

O senhor ainda não definiu um partido, mas há a questão do ingresso do senhor MDB. O senhor enxerga algum algum de iniciar uma pré-campanha sem um partido definido?

Eu vinha já, mesmo quando eu já era secretário, sendo sondado por vários partidos para poder sair candidato a deputado depois que eu saísse da secretaria. Recebi convite do Partido dos Trabalhadores, do PSD do senador Otto, do PL de Jonga Bacelar e Valdemar da Costa Neto, recebi convite do MDB e do PP de João Leão. Dentro dessas conversas, eu fui muito bem acolhido pelo pelo MDB dentro de uma perspectiva de poder atraí-lo para a base do senador Wagner, na sua campanha para o governo do estado. Minhas conversas estão avançando bem eu fui muito bem acolhido. O partido tem ajudado de forma significativa na construção da minha candidatura. Então estou bem encaminhado, ainda não assinei a ficha pois estou aguardando desenrolar dos fatos, mas tudo indica que eu deva caminhar junto com eles.

Como o senhor avalia esses dois anos de combate à pandemia na Bahia?

Nós tivemos aqui um na Bahia um caso de sucesso no combate à pandemia. E digo isso em cima de números: temos a segunda menor taxa de mortalidade de Covid no país e uma das menores do mundo, e temos a quinta menor incidência de Covid no Brasil. E isso não foi gratuito, não aconteceu por acaso, mas foi fruto de muito trabalho. Trabalho do governo do estado como um todo, tendo o governador como líder maior, um trabalho das prefeituras – todos os prefeitos se colocaram à frente do processo e um trabalho da sociedade também, tendo à frente a imprensa. Eu reputo à imprensa o papel de salvar mais vidas do que todos os 1.600 leitos de UTI e 1.600 leitos de enfermaria que foram abertos na Bahia nesses dois anos. Não haveria a menor possibilidade de se convencer a população baiana a mudar de hábitos se não tivéssemos a participação intensa de toda a imprensa, de todos os veículos. Eu considero que, na Bahia, a pandemia foi adequadamente enfrentada em vários aspectos, seja na ampliação do Lacem, seja na ampliação de leitos de internação hospitalar, seja na mobilização da população.

Como é que o senhor enxerga a atuação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, seu colega médico, nessa discussão acerca da vacinação de crianças?

A postura dele foi equivocada. Lamentavelmente, o ministro que tinha começado muito bem à frente do ministério acabou sendo contaminado pela postura negacionista do presidente da República e algumas das suas falas e atitudes vêm carregadas desse desse desejo de não querer contrariar o pensamento do presidente. Felizmente, o sistema público de saúde não é feito apenas pela caneta de uma única pessoa; as decisões são todas tomadas através de uma pactuação que é feita na comissão intergestores tripartite, em em Brasília, que junta o governo federal, através do Ministério da Saúde, representantes dos secretários estaduais e municipais. E essas decisões são soberanas. Nenhum ministro pode tomar uma decisão unilateral e passar por cima da pactuação. E houve uma resposta adequada dos órgãos da sociedade, tanto a sociedades de especialidades médicas quanto as representações dos secretários que fizeram ver ao ministro que a postura dele estava equivocada e, felizmente, o bom senso prevaleceu e ele voltou atrás.

O governador Rui Costa diminuiu de cinco mil para três mil o número máximo permitido de pessoas em eventos públicos ou privados e também nos estádios, mas o setor de entretenimento e também parlamentares de oposição disseram, que embora seja correta, a decisão do governador careceu de diálogo. Haveria alguma outra forma de promulgar esses decretos?

Há situações em que não se pode dialogar continuamente. Nós estamos tratando de uma situação de exceção, vivendo há dois anos uma pandemia grave com pessoas morrendo. Não dá para ficar fazendo assembleia, muito menos perguntando a quem vai ser diretamente prejudicado por aquela ação que vai se tomar em defesa da saúde e da vida das pessoas se elas concordam ou não concordam. Infelizmente nós precisamos defender, em primeiro lugar, a vida. A decisão do gestor, por mais dolorosa que seja, sabendo que vai reduzir a atividade econômica e que terão segmentos prejudicados, ela está correta. Eu vou mais além: na minha opinião, não deve haver nenhum tipo de evento de carnaval chamado “indoor” porque é muito pior você ter um Carnaval num ambiente fechado, com as pessoas ali num salão com ar-condicionado do que, por exemplo, colocar um bloco na frente da praia, ali no Aeroclube, com ventilação cruzada e as pessoas espalhadas. Acho que, infelizmente, os fatos estão caminhando para que não não tenhamos esses festejos privados que vão favorecer apenas quem tem dinheiro no bolso em detrimento da população que não tem dinheiro para pagar. Eu também duvido da capacidade de controle desses espaços: tenho relatos de pessoas que foram a Trancoso e à Praia do Forte, em Arraial d’Ajuda para festas de Réveillon que eram anunciadas como espaços controlados, exigindo carteira vacinal e que, na porta, testariam temperatura e não houve absolutamente nenhum controle na entrada. Com informações do Política Livre.

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