Os sinais de dependência do álcool podem ser sutis e ainda são, muitas vezes, mascarados por justificativas como consumo social e pressão de amigos. Para chamar atenção a este tema de saúde pública, o dia 18 de fevereiro é marcado pela conscientização sobre os danos e doenças que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas podem causar, sendo destacado como Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo.
Conforme Alexandre Fonseca Santos, médico epidemiologista, mestre e doutorando, consultor do Ministério da Saúde e professor da Faculdade Ages de Medicina em Jacobina, “infelizmente, em nosso país, o tema é muitas vezes tratado de forma banalizada, contribuindo, de forma intencional ou não, para a aceitabilidade deste agravo na sociedade e dificultando a adoção de medidas preventivas e tratamento”.
O médico esclarece que a dependência de álcool possui múltiplos fatores de risco e a exposição precoce à prática pode ser um importante determinante para o desencadeamento não só da dependência, mas também de outros tipos de patologia. “No Brasil, há grande tolerância quanto ao consumo de bebida em locais públicos, inclusive na presença de crianças, o que promove uma cultura de normalidade quanto ao uso deste tipo de substância”, aponta.
De acordo com o especialista, a o convívio com pessoas dependentes também parece ser importante fator de risco, assim como a associação de outros sofrimentos mentais se associam fortemente com a compulsão de álcool, como transtornos de ansiedade, de humor, psicoses, de personalidade e uso de outras substâncias.
Consequências
Alexandre reforça que, por se tratar de uma substância tóxica para as mucosas, o abuso da bebida alcóolicas pode levar a problemas no trato digestivo, além da interação com o sistema nervoso, podendo acarretar em episódios de agressividade, intoxicações agudas, convulsões e coma. Seu uso abusivo e contínuo pode contribuir para lesões graves no fígado e outros órgãos.
“Para a saúde mental, o álcool contribui para a piora de sinais ansiosos e de humor por alterações ligadas a diversas vias de regulação de neurotransmissores presentes no cérebro humano. A dependência de álcool é percebida pelos especialistas como o maior problema de saúde mental no Brasil, mas infelizmente, não há estudos de prevalência de abrangência nacional para a maioria dos sofrimentos mentais em nosso país”, lamenta Alexandre Fonseca.
Prevenção e tratamento
A prevenção e o tratamento são complexos e dependem de abordagem interdisciplinar, além de atuação intersetorial, precisando de participação ativa de empregadores, autoridades policiais e legisladores. O médico esclarece que os tratamentos devem observar os comprometimentos físicos e mentais presentes e podem depender de intervenções simples, como o uso de medicamento, até procedimentos altamente complexos, como transplantes de órgãos e internações prolongadas.
Ele frisa que a dependência de álcool tem tratamentos diferentes em todas as fases da doença. De maneira ideal, eles devem se iniciar o mais precocemente possível, antes da instalação de sintomas crônicos físicos e mentais.
“Políticas de restrição ao acesso às bebidas alcoólicas têm se mostrado eficazes em vários países, mas não são a única solução. Algumas lesões, assim como o sofrimento mental relacionado à dependência de álcool, podem ser de difícil tratamento, principalmente pela facilidade de reexposição aos fatores de risco”, sublinha.
Alexandre Fonseca diz que a rede de atenção psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS) possui unidades especializadas no tratamento da dependência de substâncias psicoativas, contando com profissionais capacitados no acolhimento de pessoas em sofrimento pela dependência de álcool e outras drogas. Com informações de assessorias.